Onde está a oposição?
Desde que o PT se transformou numa legenda social-democrata – abrandando seus preconceitos ideológicos – para chegar ao poder e nele se manter, por três mandatos consecutivos, a oposição entrou em crise de identidade profunda.
O PSDB, que empunhava desde a sua fundação a bandeira da social-democracia, caiu no vazio. Perdeu o que lhe dava vida, ou seja, o contraste com o socialismo dogmático defendido pelo petismo até 2002, quando a legenda dos trabalhadores resolveu mudar a estampa e o discurso – não necessariamente a orientação – elegendo Lula, depois de seguidos fracassos.
Para chegar ao poder e governar é preciso se afastar do radicalismo – ainda que de forma dissimulada – e trilhar o centro. Foi o que o PT aprendeu e fez, com sucesso.
Sem a bandeira da social-democracia, nas mãos do próprio governo, nos últimos três mandatos, incluindo o recém-iniciado, o PSDB tem mesmo que fazer uma ginástica retórica para “fidelizar” eleitores.
O desconcertante artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, publicado dias desses na revista Interesse Nacional, sugerindo ao partido que procurasse conquistar a nova classe média, uma vez que o “povão” já estava com o PT, dá bem a dimensão da encruzilhada.
Agindo como um Maquiavel a recomendar um Medici, FHC tentou ditar uma fórmula para que o partido voltasse a ter o papel de Condottieri. Difícil dizer se a fórmula terá êxito – provavelmente, não, porque tem muito mais de “academicismo” do que de realismo. Certo apenas é a perda de substância do PSDB, agravada agora pela criação de uma nova legenda social-democrata, o PSD (Partido Social Democrático) de Gilberto Kassab.
Se o PSDB passar a defender bandeiras liberais, como programa de privatizações, redução da carga tributária, contenção dos gastos públicos, menor intervenção na economia e outros pontos importantes num necessário processo de reforma do Estado brasileiro – ainda anacrônico – o PSDB larga de vez o bastão da social-democracia. Neste caso, corre o risco de progressivo ostracismo político. Mas é fato: a mudança descaracterizaria a legenda.
Se mantiver sua orientação, está condenado a dividir espaço com o próprio PT – enquanto a maquiagem petista funcionar e a economia não descarrilar com a inflação. Com o PT e, agora, com o PSD do “antigo” (?) aliado. Neste meio tempo, discutirá teses tortuosas, e pouco efetivas, como a elocubrada por FHC.
Enquanto isso, quem fará oposição de verdade no país, propondo e levando à frente a referida reforma do Estado? Sabemos que o DEM, com o gigantesco passivo moral que traz nas costas, não poderá desempenhar esse papel. E, no fundo, nem o eleitor espera mais nada da legenda.
O fato é que cerca de 43 milhões de brasileiros que não votaram em Dilma Rousseff na última eleição – provavelmente, por acreditarem em mais competição, mais mercado, mais mérito e menos assistencialismo - aguardam o surgimento de uma verdadeira oposição. Esse papel, definitivamente, não caberá ao PSD, já parido em cima do muro, defendendo o governo Dilma, “no que ele for bom”, e atacando, “nos projetos que ele não convencer”.
Por Nilson Mello
O maior devedor do mundo
O maior devedor do mundo derrubou o mercado de ações nesta segunda-feira. Os Estados Unidos, cuja dívida é de US$ 14 trilhões (84% de seu gigantesco PIB), pode perder o status de pagador de primeira classe atribuído pela agência Standard & Poor’s. A agência anunciou que reduzirá a nota da dívida norte-americana se um efetivo plano de redução do déficit fiscal não for estabelecido até 2013. Há 70 anos, esta nota é máxima: “AAA”. As quedas nas bolsas em todo o mundo (Bovespa –1,9%; Londres -2,1%; Paris –2,4%; NAsdaq -1,1%) são reveladoras da preocupação em relação à possibilidade de uma forte redução da atividade na economia americana – o que seria prejudicial para a economia global -, em virtude do ajuste fiscal a ser adotado.
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