Nunca fui antiamericano e não estou contra
este governo (quero que dê certo, precisa dar certo). Mas minha avaliação
preliminar sobre esta viagem aos EUA não é positiva. Acho, na verdade, que é um
capítulo a ser esquecido pela diplomacia brasileira. E não é positiva menos
pelos resultados, mais (muito mais) pela postura, no meu entender, submissa da
comitiva brasileira, em particular do próprio presidente da República.
Tietagem não é o que o Brasil espera de seus
representantes quando no exterior. Se deplorávamos posturas semelhantes ou até
piores de Lula e Dilma em relação a Raul e Fidel Castro, Chávez, Evo Morales,
Maduro, Kadafi e outros mais, não há por que não reprovar agora.
Vale lembrar que o governo que prometera
libertar o Brasil das amarras ideológicas a rigor apenas substituiu uma determinada ideologia por
outra. A pergunta é: agindo assim não estamos colocando em risco os interesses
nacionais, em especial os comerciais, como aconteceu em passado recente?
O argumento de que os Estados Unidos são uma
superpotência e por isso devem merecer deferência não procede. Até porque,
quanto mais forte o interlocutor, maior deve ser a altivez. Salvo melhor juízo,
não foi altivez o que assistimos na vista a Washington.
A sensação que prevaleceu foi a de que a
política externa brasileira, de tão reconhecidas tradições, hoje reflete a
visão de mundo (não tão ampla, frise-se) de Eduardo Bolsonaro, assumidamente
tiete de Donald Trump; e também a de que é o filho do presidente quem dá a
última palavra em assuntos que deveriam ser da alçada exclusiva do Itamaraty.
Nada bom.
Ainda é prematuro para avaliar os resultados
positivos dos entendimentos na área econômica. Os positivos e os negativos.
Exemplo: se o Brasil aceita deixar de ter tratamento privilegiado na
Organização Mundial do Comércio, como condição para ser membro da OCDE -
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (colegiado das nações
mais desenvolvidas), devemos supor que a equipe econômica, tão bem capitaneada
por Paulo Guedes, calculou que os benefícios superarão os eventuais ônus.
Da mesma forma, devemos considerar que todos
os movimentos que a comitiva empreendeu visando a ter os Estados Unidos,
doravante, como os maiores parceiros não criarão ruídos com a China, hoje o
país que mais compra commodities brasileiras e um dos que mais investem no
Brasil. Não devemos esquecer que EUA e China travam no momento uma guerra
comercial.
Do ponto de vista político, o recuo do
presidente Bolsonaro em relação à questão da Venezuela, na entrevista nos
jardins da Casa Branca, foi particularmente preocupante. Era a chance de
reiterar o que já vinha sendo acertadamente dito há alguns dias por militares
de alta patente e por vários integrantes do primeiro escalão do governo: que o
Brasil não dará apoio a uma intervenção militar no país vizinho porque a nossa
Constituição não respalda tal posição, e porque o país tem uma longa tradição
de não intervenção.
O terceiro motivo - este não declarado - é
que conflito armado tão perto de nós não convém, devido aos seus desdobramentos
políticos e econômicos e às graves consequências sociais que acarreta, todas
com potencial de também nos afetar do lado de cá da fronteira. Além, é claro, de abrir um precedente
indesejável. O recuo, portanto, foi, no meu entendimento, uma capitulação
injustificável, que reforça a sensação de submissão citada de início no texto.
Polêmica em torno de Alcântara
No que diz respeito ao acordo para
exploração comercial da Base de Alcântara, estou na contramão dos principais
observadores que ouvi. A Base estava ociosa desde o início dos anos 2000 e o
Brasil passa a ter receitas com a sua cessão, sem perder o seu controle. O uso
será compartilhado. O indispensável Acordo de Salvaguarda Tecnológica deverá ser aprovado
pelo Congresso, como determina a Constituição. A ideia é que, no futuro, outros
acordos semelhantes sejam fechados com outros países. Aqui, onde muitos viram
problemas, não faço ressalvas. Nossa soberania não ficará arranhada.
Por Nilson Mello
Sinal
dos tempos
Os militares são a ala moderada do governo.
São eles que têm modulado as posições e as declarações dos radicais de direita
- os discípulos de Olavo de Carvalho, entre eles o chanceler Ernesto Araújo.
Assumiram o papel informal de "poder moderador", em defesa da
democracia e contrários aos extremismos ideológicos. Isso voltou a ficar claro
no jantar de domingo na Embaixada do Brasil em Wahsington. Não deixa de ser uma
evolução. Aos seguidores incondicionais do governo Bolsonaro (àqueles que, como
os petistas em relação a Lula e ao PT, só veem virtudes e não admitem críticas), vale um alerta: de nada
adianta livrar a máquina pública de uma determinada orientação ideológica
sectária para abraçar outra tão sectária quanto a anterior. Olavo de
Carvalho é o arauto do sectarismo. (NM)
Vamos
em frente !
A notícia boa. Os céticos e opositores sistemáticos diziam
que não haveria interessados. O que governos passados do PT não conseguiram,
por questões ideológicas e também por flagrante incapacidade gerencial, o
governo Bolsonaro realizou em menos de 90 dias (aproveitando, frise-se, parte
do trabalho da equipe de Temer).
O ágio médio foi de nada menos que 986%, ou seja,
os investidores interessados pagaram quase 1000 por cento a mais que o preço
mínimo pela compra dos direitos de explorar 12 aeroportos.
Certeza de mais investimentos, geração de empregos e receita, bem como de
melhoria de serviço que todo brasileiro que viaja de avião sabe que é ruim. Com
esta primeira leva de privatizações no setor aeroportuário, o governo arrecadou
de cara R$ 2,3 bilhões.
Nove grupos
empresariais participaram do certame da licitação, o que significa que houve
aberta disputa, ampla concorrência - resultando no alto ágil, favorável ao
Tesouro e, por extensão, à sociedade. Os vencedores desta rodada terão por
contrato que investir R$ 1,5 bilhão nesses terminais nos próximos cinco anos
(confiança no futuro). Outros processos de privatização estão a caminho, nos
aeroportos e em diferentes setores. O programa liberal começa a ficar de pé .
Não é por outra razão que a Bolsa bateu recorde de pontos esta semana, os juros
estão lá embaixo, inflação sob controle ...
(NM)
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