Sinais
trocados
Em ao menos três aspectos, todos
indesejáveis para a estabilidade política e a retomada da economia, o governo
Bolsonaro e seus seguidores se assemelham aos petistas.
O primeiro aspecto é o olhar para o passado,
com a tentativa de reescrever a história de acordo com a sua visão de mundo e
orientação ideológica - algo semelhante ao que o PF fez em seus anos de
governo, só que em sentido inverso ou sinais trocados.
A determinação do Planalto para que se comemore
o movimento de 1964 nos quartéis tira o
foco do presente e levanta dúvidas sobre o futuro, provando que o governo
permanece refém do passado (e, assim como o PT, da orientação ideológica).
O PT
também tentou reescrever a história de acordo com a sua visão do mundo e, dessa
forma, defendeu o indefensável, como regimes tiranos e o assassino Césare
Battisti.
O segundo aspecto é atribuir aos adversários
e à imprensa os problemas causados pelos seus próprios erros. Quem mais tem
causado problemas ao governo é o próprio Planalto, ao fomentar discursos
sectárias e intransigentes, hostilizando adversários políticos - derrotados nas
urnas, saliente-se - , quando na verdade deveria passar a governar para todos,
com discurso pró-ativo e conciliador. O PT também foi sectário e tratou
adversários e imprensa como inimigos.
O terceiro e pior aspecto em comum entre
petistas e bolsonaristas é uma postura de superioridade (diria mesmo de arrogância) em relação às
instituições, aí incluídos a Justiça, em espacial o Supremo Tribunal Federal e seus
ministros, o Congresso, as Forças Armadas e a própria imprensa, repreendida
recorrentemente por fazer o que lhe cabe: criticar governos, não importa quais.
Ora, a imprensa é o olhar onipresente do povo sobre os passos dos seus
governantes.
PT e petistas sempre atacaram a imprensa,
postura idêntica à adotada hoje pelos bolsonaristas nas redes sociais e pelos
próprios integrantes do Planalto. Este governo e seus seguidores não estão acima do bem e do mal, não estão
acima do Judiciário, do Legislativo e das demais instituições da República.
Neste sentido, é particularmente preocupante
a postura de afronta e arrogância dos filhos do presidente da República, a quem
caberia o bom exemplo de respeito e deferência às instituições.
Retomarei o tema em breve.
Por
Nilson Mello
Atropelos em processos penais
tornam ilegítima a pretensão de se condenar criminosos.
Se a
punição vem por antecipação, e ao arrepio da Lei e do Estado de Direito, numa
flagrante inversão do princípio democrático de presunção de inocência, ela não
tem validade, e como tal desmoraliza as instituições que a sociedade, farta dos
desmandos, quer em boa hora proteger e fortalecer.
Punição pressupõe processo,
contraditório, ampla defesa e julgamento, com os órgãos de Justiça mantendo-se
equidistantes e imparciais, jamais assumindo os papeis investigativo e
persecutório, que cabem à Polícia (Executivo) e ao Ministério Público.
A
credibilidade (e o estrito cumprimento) de decisões judiciais bem como o
respeito pelo Judiciário como instituição do Estado Democrático serão tão
maiores quanto maior for a defesa desses princípios no irrecorrível combate à
corrupção que o país, já não sem tempo, empreende. (NM)
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