sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Artigo


A fraude na educação (e as eleições)


    Alunos do ensino médio das redes pública e particular sabem menos hoje do que em 1997, como demonstram os resultados divulgados ontem pelo MEC (SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica).     Hoje, as notas em Matemática e Português são mais baixas do que as registradas há 20 anos. A rede privada caiu menos, mas também piorou (informa o Estado de S. Paulo desta sexta-feira, 31).
    Qual foi o crime cometido contra a educação neste período, que (não custa lembrar) abarca 14 anos de governo do PT, o partido que se autoproclama até hoje, a despeito de todos os malfeitos que perpetrou e do desastre econômico que engendrou, o baluarte das causas sociais, o defensor do povo?
    O crime foi investir em demagogia em detrimento da seriedade. O crime foi apostar nas cotas nas universidades, ao invés de qualificar o estudante dos ensinos fundamental e médio. O crime foi apostar no engessamento dos currículos (o que talvez explique a queda de desempenho também na rede privada), impondo diretrizes de cunho ideológico, ao invés de valorizar a liberdade pedagógica, mais enriquecedora.
    A fraude, em suma, foi estimular a vida fácil, enquanto o certo seria valorizar o esforço e o mérito. Lembre-se disso, eleitor.

Não há atalhos!
    Por isso a democracia brasileira continua a ser o cão correndo atrás do próprio rabo. Só conseguiremos aperfeiçoá-la melhorando a qualidade do eleitor; mas, para tanto, antes, seria preciso melhorar a qualidade do eleito, aquele que deve educar o povo.
    Porém, o eleito, que em geral é de má qualidade - porque quem o elege ainda não está totalmente qualificado -, nem sempre (ou quase nunca) tem compromisso com essa missão. A missão de educar o povo.
    Romper esse círculo vicioso é o maior desafio de nossa democracia. Leva tempo e dá trabalho. Mas não há atalhos.
    As saídas mirabolantes, pelo caminho da exceção, na crença de projetos "messiânicos", não apenas não resolvem o problema fundamental da educação e da qualificação do eleitor (como já vimos ao longo da história, no Brasil e no mundo), como criam outros problemas ainda mais graves, entre os quais o cerceamento das liberdades.
    Democracia dá trabalho. É preciso continuar trabalhando.

    Por Nilson Mello

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Comentários


Entrevistas com candidatos



    Questionar entrevistado é uma obrigação de todo jornalista. Mas tratar entrevistados como adversários (inimigos?) é contraproducente. Descamba para um bate-boca ralo e primário. Iguala-se por baixo. Quem fica mal são os entrevistadores, para êxtase do candidato e de seus apoiadores.
    Fazer perguntas e interromper a resposta abruptamente, logo em seu início, em nada contribui para o esclarecimento da opinião pública. Ora, se não quer ouvir a resposta, para que a pergunta?
    Deve-se dar tempo ao candidato até para mentir - a cobrança e o questionamento devem vir na sequência, mas de forma serena, não com todos falando ao mesmo tempo.
    O modelo de entrevistas individuais na televisão com candidatos a presidente (e a governador) pode ser muito proveitoso, se o método for adequado. Por enquanto o método tem sido inadequado, com mais bate-boca do que esclarecimentos.

Por Nilson Mello

MemóriaHá exatos dois anos, eu publicava o seguinte aqui no meu Blog Meta Mensagem:
“Crueldade
    De todas as fantasias proferidas no plenário do Senado ontem, a mentira mais cruel foi a que justificou o rombo fiscal como necessário para garantir a manutenção de programas sociais. Ora, foi justamente a má gestão da economia que colocou em risco a manutenção destes programas (por sinal, indispensáveis num país desigual como o Brasil).
A segunda pior potoca (ou falácia) decorre da primeira. Ela tenta fazer incautos acreditarem que quem é critico do governo Dilma está contra os pobres. Este foi o pano de fundo da "defesa" ontem. Ora, quem mais perdeu com o desgoverno Dilma foram as camadas menos favorecidas da população. A renda média despencou nos últimos anos, por conta da inflação e do desemprego. A propósito, o povo foi à rua contra o impeachment?...” (Na coluna lateral do Blog, aí à direita, é possível fazer pesquisas de textos antigos).

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Artigo


Os números e o cenário dos Portos

    O crescimento da população mundial - hoje na casa dos 7,5 bilhões de pessoas - e com ele a inexorável expansão do comércio impõem desafios logísticos cada vez maiores a todas as nações, indistintamente, mas sobretudo àquelas que têm um papel relevante a desempenhar no cenário internacional. 
    Tendo em vista as suas características demográficas, a sua dimensão territorial, o seu extenso litoral (com mais de 7,3 mil km), bem como o seu  potencial econômico, o Brasil, hoje a nona maior economia do mundo, não deve perder de vista esses desafios, definindo estratégias perenes - suprapartidárias, ou seja, estratégias de Estado, e não de governo - visando a superá-los.
    A magnitude da expansão comercial nas últimas décadas pode ser avaliada pelo exponencial aumento da tonelagem das embarcações que transportam, ao redor do Planeta, um leque infindável de mercadorias. Há cerca de quatro décadas, no início dos anos 1980, os maiores porta-contêineres em operação eram os da classe Monte Rosa, de 1,2 mil TEUs (medida padrão para contêineres de 20 pés). Em 2014, as maiores embarcações no segmento de contêineres chegavam a 9,6 mil TEUs. Hoje, esses navios já ultrapassam os 19 mil TEUs de capacidade. 
    O que levou a esse vertiginoso aumento de porte - 700% de acréscimo em 35 anos - foi a busca de uma economia de escala que garantisse as necessárias eficiência e produtividade ao transporte marítimo - segmento sem o qual o comércio global simplesmente para.
    Para acompanhar essa brutal transformação, que é inexorável, os terminais portuários em todo o mundo também precisaram se expandir e se modernizar, num processo que, na verdade, é constante. No Brasil, isso não poderia ser diferente, sobretudo se considerarmos que mais de 90% de nossas exportações e importações são transportados por via marítima.
    Cabe reconhecer que relativamente a outros períodos muito se investiu no país nos últimos anos em infraestrutura portuária. Calcula-se que, desde que o Plano de Investimento em Logística (PIL) do governo federal foi lançado, em 2012, cerca de R$ 30 bilhões foram aplicados na construção e ou modernização e expansão de terminais. Neste sentido, o setor privado tem cumprido a sua parte.
    Mas há muito ainda o que fazer, principalmente se reconhecermos que a demanda por transporte marítimo terá um forte incremento assim que a economia brasileira voltar a crescer  de forma mais robusta e sustentável. De acordo com estudo realizado pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), o Brasil precisa investir R$ 25 bilhões nos seus portos nas próximas duas décadas, a fim de eliminar restrições que hoje ainda geram ineficiências e comprometem a competitividade de sua cadeia produtiva.
    A recessão dos últimos anos atrasou esses investimentos. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria - CNI aponta que em 2017 os portos tiveram o menor nível de investimentos: de uma previsão total de R$ 600 milhões, apenas R$ 175 milhões foram efetivamente aplicados. Esse quadro precisa ser rapidamente revertido. 
    Ainda de acordo com o estudo do CAF, a maior das restrições a ser enfrentada diz respeito à falta de dragagem nos canais de acesso aos portos. Eis aí um dos problemas que, conforme mencionado acima, devem ser solucionados dentro de uma estratégica de Estado, perene e apartidária, com continuidade de governo para governo.
    O Programa Nacional de Dragagens prevê um total de R$ 3,8 bilhões em investimentos nessas obras nos principais portos brasileiros até 2022. Mas é preciso que tais serviços sejam executados com absoluto rigor técnico e total transparência, a fim de que não se tenha a lamentável repetição de obras dispendiosas, porém, mal executadas, que exigiram reiteradas correções. Não podemos mais desperdiçar tanto tempo e dinheiro comprometendo programas tão relevantes.
    Este ano o governo federal também programa a licitação de 17 áreas em portos organizados (públicos), o que renderia aproximadamente R$ 2,5 bilhões. Essas licitações somadas à continuidade das obras de dragagens são iniciativas importantes que apontam o rumo da retomada do desenvolvimento do setor. O volume de investimentos por parte da iniciativa privada também aumentará na medida em que houver maior segurança política e jurídica no país. 
    Como vemos, o setor portuário tem desafios intrínsecos a superar, mas a plena retomada de seu desenvolvimento, indispensável para a economia brasileira, também está atrelada à mudança do cenário político e econômico a partir deste ano. De qualquer forma, é imperioso que, de um lado não se perca de vista a agenda setorial, enquanto que, no que cabe a todos nós, empresas e cidadãos, independentemente do segmento de atuação, continuemos a reivindicar um ambiente de maior estabilidade institucional e de segurança jurídica, e a trabalhar em função desse objetivo.

Por Nilson Mello

Este artigo foi publicado originalmente no site da Portos & Navios, Link:

https://www.portosenavios.com.br/noticias/artigos-de-opiniao/os-numeros-e-o-cenario-dos-portos


quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Artigo


Nexo causal

Boulos: erro de diagnóstico

    Se o candidato Guilherme Boulos pretende enfrentar a “República dos Bancos”, como tem reiterado em discursos, o primeiro passo é reconhecer o abismo fiscal no qual o Brasil despencou, e a partir daí trabalhar em prol de projetos e programas que reduzam o tamanho do Estado, bem como as despesas públicas, revertendo a trajetória de déficits exponencialmente crescentes.
    Em suma, ele tem que adotar um programa de governo oposto ao que prega o seu partido. Porque a razão de os juros serem tão altos (e o sistema financeiro lucrar tanto) no Brasil está no grande endividamento do Estado. Juros altos não são resultado da ganância dos banqueiros, mas sim do descontrole orçamentário.
    Com um grande e voraz devedor, que é o setor público, sempre ávido por mais empréstimos, o “preço” (leia-se taxa de juro) dos recursos financeiros tenderá a ser constantemente mais alto. É uma questão econômica ou, antes disso, matemática, e não ideológica. Não depende de atos de vontade.
    Os juros e, cumulativa ou alternativamente, a inflação são problemas que afetam a economia brasileira devido ao descontrole fiscal. Desde a Constituição de 1988, temos um Estado generoso em benefícios, direitos e privilégios que não cabe no orçamento público, ainda que a carga tributária já alcance quase 40% de nosso Produto Interno Bruto.
    Quem paga a conta é o contribuinte que não tem acesso a esses benefícios, direitos e privilégios: o assalariado do setor privado, os autônomos, os pequenos empreendedores, o homem do campo, ou seja, a grande massa de brasileiros.
    Se o governo gastar menos (e melhor), pouco importa se há ou não banqueiros - ou outros tipos de indivíduos gananciosos. Sem déficit fiscal, juros diminuem e sobram recursos para o essencial: saúde, educação, saneamento e segurança.

Por Nilson Mello