segunda-feira, 13 de agosto de 2012

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Friedman e as areias do deserto

    Li artigos recentes na imprensa responsabilizando a Escola de Chicago e, em especial, o Prêmio Nobel de Economia Milton Friedman pela crise financeira global. O gancho para a nova onda de questionamento em relação ao liberalismo foi a passagem do que seria o centésimo aniversário de Friedman, se vivo estivesse.
    O liberalismo é dessas vítimas prediletas da desonestidade intelectual que, infelizmente, predomina na imprensa brasileira. Friedman foi um ferrenho opositor do intervencionismo na economia, justamente por perceber a ineficiência contaminante do Estado.
    Cunhou frases célebres, como: “Se dessem o Deserto do Saara para o Estado administrar, em cinco anos faltaria areia”.
    Quem atribui ao livre mercado e, portanto, à Escola de Chicago, onde Friedman se projetou, à débâcle da economia global desde 2008, esquece-se de que os fortes impulsos monetários e estímulos ao crédito promovidos pelos governos norte-americano e europeus durante mais de uma década nada tinham de liberal.
    Afinal, desde quando um governo liberal, que acredita na eficácia do mercado, estimularia a concessão de créditos imobiliários de altíssimo risco (ao arrepio das próprias leis de mercado)?
Mas foi exatamente o que os Estados Unidos fizeram, por meio das agências de caráter para-estatal Fredie Mac e Fannie Mae. O resultado deste hiperativismo estatal disfarçado foi, como sabemos, uma bolha imobiliária de proporções catastróficas que até hoje compromete o desempenho da economia americana – e do mundo. O que a Escola de Chicago tem a ver com isso? Absolutamente nada.
Da mesma forma, nada há de liberal na conduta irresponsável de governos europeus, em especial Espanha, Grécia e Portugal, em elevar vertiginosamente seus gastos orçamentários gerando déficits fiscais insolúveis, que só poderiam terminar numa crise sem precedentes. Qualquer governante de um desses países teria optado pelo controle fiscal estrito se sob a orientação da Escola de Chicago.
    Na crise, o sistema financeiro foi apenas o instrumento que os governos utilizaram para perpetrar suas irresponsabilidades. É até razoável que se discutam providências para maior controle do setor financeiro. Mas, o mais importante, é estabelecer regras e mecanismos para controle dos governos irresponsáveis.

    Por Nilson Mello

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