Urnas – O horário de propaganda
eleitoral gratuita é dessas aberrações do sistema brasileiro da qual não sabemos
como nos livrar. Sim, porque é certo que o eleitor precisa saber quem são os
candidatos. E que esses têm o direito de dizer a que vieram.
Mas como fazer biografia e
plataforma serem adequadamente divulgadas quando se disponibilizam apenas alguns
segundo para a veiculação das mensagens?
“Eu sou
Charles André, o seu amigo de fé, vote número tal, tal, tal”, avisa um candidato
à Câmara do Rio em uma das centenas de aparições-relâmpagos do horário gratuito
na TV e no rádio.
“Eu sou o
Andrezinho da peixaria, número tal”, grita outro postulante. “Eu sou a Ângela do
Tempero”; “eu sou o Fabinho, número...” e assim por diante.
A
propaganda eleitoral gratuita nada acrescenta. Não é possível identificar
propostas de trabalho consistentes. Tampouco é possível checar as biografias
daqueles que “vendem” sua candidatura.
No fundo, as
aparições-relâmpagos são um deboche com o processo eleitoral e, implicitamente,
um ato de desdém. O modelo embute a percepção de que o público – o eleitor –
fará a sua escolha de acordo com uma avaliação superficial.
Muitas vezes, não raro, essa
escolha superficial é também um ato de galhofa, num deboche recíproco entre
elegível e eleitor. Não por outra razão já se votou até no Macaco Tião,
chimpanzé do Zôo carioca, para o cargo de prefeito.
Não sei exatamente qual
seria o melhor caminho para permitir que o eleitor conheça os seus candidatos.
Mas tenho a impressão de que acabar com o espetáculo ridículo representado pelas
aparições-relâmpagos estimularia a curiosidade do eleitor de
boa-fé, levando-o a pesquisar o perfil e a história de cada postulante por conta
própria. Isso sim seria voto consciente.
Bem, e quanto àqueles que
não se sentissem estimulados, o que fazer? Bem, a democracia precisa do voto
desses? Eis uma questão importante a que deveríamos procurar responder sem
hipocrisia.
O certo é que do jeito que
está a propaganda eleitoral gratuita não acrescenta nada ao processo eleitoral. E o mesmo vale para o voto obrigatório. Ambos são institutos que servem de instrumento ao populismo e ao clientelismo.
Por
Nilson Mello
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