sexta-feira, 29 de julho de 2011

COMENTÁRIO DO DIA

O cobertor curto do Banco Central – e do governo

     O Banco Central – e, por que não dizer?, o governo - vive às voltas com um cobertor curto. Se aumenta os juros, para conter a inflação, atrai ainda mais dólares para o país. Mais divisas entrando significa valorização do real e perda de competitividade para a indústria nacional na disputa do mercado global.
     Aí o que faz o governo? Baixa um pacote de medidas, como fez esta semana (contidas na MP 539 e no Decreto 6.306), para segurar a queda livre do dólar. Efeito colateral provável, já avaliado por consultores e analistas: perda de investimentos e aportes financeiros para outros mercados no médio prazo. O que, evidentemente, também não é bom.
     A taxa de juro tem que ser elevada (e há muito é a mais alta do mundo) para conter os preços, ainda sob forte pressão do consumo. O objetivo é nobre, mas seus efeitos indesejáveis. A política monetária poderia ser mais branda se a política fiscal participasse do combate à inflação. Mas o governo é perdulário e não contém a expansão de seus gastos. Não na medida necessária.
     O Copom, Comitê de Política Monetária, decidiu-se pela conduta híbrida. Anuncia que busca a meta de inflação para 2012, mas, ao mesmo tempo, garante (última Ata) que o ciclo de alta da Selic (taxa básica) está se encerrando. Quer conter os preços mas sem ser muito rigoroso, aplicando o discurso da presidente Dilma Rousseff.
Ato contínuo, o mercado passa a especular que a meta de inflação (4,5%) não será mesmo alcançada em 2012, gerando expectativas que reforçam a possibilidade de uma “profecia auto-realizável”. Se a expectativa de todos é que a inflação suba ou se mantenha fora da meta até 2013, e o BC afrouxa o torniquete ou adota um discruso ambíguo, os preços acabam mesmo subindo.
Mas eis que a equipe econômica é otimista. Está convencido de que a péssima situação da economia global vai por si só contribuir para a desaceleração da economia interna. Além disso, acredita nas medidas de contenção do crédito já adotadas.
E, assim, continuamos a conviver com uma política fiscal frouxa. E com uma política monetária vacilante, pois impõe taxas altas, mas não segura a inflação. Enquanto isso, juros, inflação e câmbio continuam pressionados.
O câmbio, por sinal, merece uma nota à parte. Como está atrelado a fatores externos, em especial à forte expansão monetária dos Estados Unidos e a uma política cambial artificial chinesa, nada que se faça no Brasil – como o pacote recentemente lançado - poderá mudar substancialmente a desvalorização do dólar por muito tempo. E essa é uma tendência que deve perdurar, conforme alertam dez em cada dez analistas.
O que significa que a busca de competitividade terá que ser feita via outros esforços. Não custa lembrar: redução de tributos, desburocratização, desoneração da folha salarial, além de investimentos em infraestrutura e educação. Mas o governo prefere gastar em vez de investir.
O cobertor do governo é mesmo curto. Mas só é curto porque ele não toma as decisões certas.
Por Nilson Mello



E os investimentos...


E por falar em investimentos duas notícias chamam a atenção nesta sexta-feira (29/07). A primeira é que os projetos da área do Ministério dos Transportes – às voltas com irregularidades – frustraram as metas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
 Os jornais divulgam que o afastamento da cúpula do ministério por conta das denúncias de superfaturamento impediu a realização de leilões de concessão, autorização de obras e outras providências. Se a causa foi mesmo esta, melhor assim. Mas, convenhamos, não há o que comemorar.
A outra notícia é que a receita das companhias áreas brasileiras, em voos domésticos, é a que mais cresceu no mundo, segundo a Associação Nacional de Transporte Aéreo (Iata). O avanço foi de 19% no primeiro semestre no comparativo ao mesmo período do ano passado. No mundo, a média de crescimento foi de 4%.
O aumento de receita decorre do forte aumento de demanda. No ano passado 66 milhões de brasileiros viajaram de avião entre os estados, praticamente o mesmo número dos que utilizaram o ônibus (67 milhões).
O problema é que se a expansão persistir sem que ocorram os prometidos investimentos nos aeroportos, a tendência é de paralisação do setor e, num segundo momento, aumento de tarifas aeroportuárias e aéreas e a volta da “elitização” do transporte aéreo.
Estudo recente, encomendado pelo BNDEs, apontou que 13 dos 20 principais aeroportos brasileiros estão saturados. E que seriam necessários investimentos da ordem de R$ 35 bilhões para garantir o transporte de 310 milhões de pessoas até 2030 – projeção de crescimento tomando-se as taxas de crescimento médias anuais atuais.
Mas, onde estão as obras?

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