terça-feira, 19 de julho de 2011

COMENTÁRIOS DO DIA

Marketing ou gestão



                               Paulo Sergio Passos está no crédito de Dilma




O problema do governo Dilma Rousseff não é a falta de rumo ou de gestão, tampouco as irregularidades e as ingerências fisiológicas (aquelas em grande medida decorrentes dessas) que comprometem o desempenho de Ministérios responsáveis por obras e projetos importantes, como o dos Transportes.
O problema, segundo recente diagnóstico dos senadores do PT, é de marketing. Ou - mas precisamente - de falta de marketing.
“Lula fazia propaganda sozinho, mas agora é preciso caprichar na divulgação”, avalia um dos próceres do partido, em tom que mescla lamúria, saudosismo e recomendação.
A presidente está distante da autopromoção que marcou o antecessor – o que é positivo. Ganhou pontos por atitudes firmes. Pesquisas de opinião apontam aprovação em relação às medidas adotadas para afastar a cúpula do Ministério dos Transportes sob suspeita de corrupção.
A presidente tem procurado agir de forma coerente com seu estilo – e com o seu discurso. Anunciou nesta segunda-feira (18/07) que o diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) Luiz Antonio Pagot, envolvido no noticiário sobre superfaturamento e cobranças de propina, voltará das férias, mas não ao cargo, a despeito da pressão feita por nomes de peso como o presidente do Senado, o vice-presidente da República e o ex-presidente Lula.
O DNIT é o órgão que elevou em 33% o valor dos contratos feitos com dispensa de licitação entre 2009 e 2010, de acordo com o TCU.
Em nome da coerência, também, seria oportuno saber se é razoável efetivar como ministro dos Transportes alguém que há anos ocupa cargos no primeiro escalão da pasta, convivendo com toda a ex-cúpula hoje sob suspeita. Como a presidente tem acertado na condução ética (bem mais, por sinal, do que na gestão), que possamos dar um crédito a sua convicção neste caso. Não – é claro - sem certa dose de ceticismo.
Quanto ao marketing mais agressivo reclamado pelos senadores petistas, haja vista que inevitável, que venha ao menos atrelado a providências concretas - e à comprovação de desempenho. Por enquanto, o que este governo esquartejado em 37 ministérios pela voracidade fisiológica dos partidos governistas tem feito é reagir aos escândalos.  Ao trabalho.

Inflação e infraestrutura

Véspera de reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), o assunto inflação entra necessariamente na ordem do dia. A previsão da maioria dos analistas é de que o Comitê volte a puxar o juro básico (Selic) nesta quarta-feira em 0,25%.
Mas há desde já dúvidas se haverá mais altas nas próximas reuniões, tendo em vista os boatos de que o BC já está abandonando o objetivo de alcançar o centro da meta (4,5%) em 2012. O objetivo seria adiado para 2013. A inflação em 12 meses medida pelo índice oficial (IPCA) está em 6,7% (o teto da meta é 6,5%).
O governo ajudou a pressionar a inflação ao longo dos últimos anos com os aumentos de suas despesas. São gastos que não geraram produtividade. O governo também ajuda a pressionar os juros, indiretamente, por gastar muito e precisar recorrer ao mercado para rolar suas dívidas – encarecendo, assim, por tabela, os financiamentos para os tomadores privados.
A política monetária no Brasil – em suposta defesa da estabilidade de preços - tem tido que ser mais dura do que o desejável por conta da flacidez da política fiscal. Quando a autoridade monetária começa a sinalizar que seguirá uma política mais branda e flexível, a exemplo do que já ocorre na política fiscal, passa a insuflar as expectativas do mercado de que a inflação pode, de fato, sair de controle.
O Banco Central (e o COPOM) trabalha com expectativas. Reverter expectativas negativas – prevenindo a chamada profecia auto-realizável – é uma providência fundamental para conter as pressões sobre a inflação. Postergar metas, portanto, não parece ser algo compatível com o papel que o BC deve exercer.
Mas o que chama mais a atenção neste renitente dilema brasileiro entre estabilidade monetária e crescimento é que, embora os gastos públicos venham aumentando de forma significativa (sustentados por aumentos de impostos e do consumo), não se nota melhora correspondente nos investimentos em infraestrutura.
Não custa lembrar que esses investimentos são essenciais para tornar o país mais eficiente e produtivo, reduzindo as pressões sobre os custos e, por extensão, sobre os preços.
Pesquisa recentemente divulgada pela InterB Consultoria revela que o badalado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), apresentado pelo marketing oficial como o propulsor de uma nova era de desenvolvimento brasileiro, deu pífia contribuição aos investimentos em infraestrutura.
Para se ter uma idéia, em 2007 os investimentos em infraestrutura foram de 2,05% do PIB. Em 2010, o percentual subiu para 2,53%, ou seja, apenas 0,48% de avanço, apesar das intervenções do PAC. Os países emergentes – concorrentes diretos do Brasil - investem ao menos 5% do PIB em inraestrutura. Especialistas estimam que precisaríamos investir ao menos 6% ao longo de 20 anos para garantir eficiência a nossas estradas, ferrovias, portos e aeroportos, e obter crescimento sustentável a taxas em torno de 4% do PIB.
Os investimentos em infraesturua no ano passado somados totalizaram R$ 93 bilhões. Mas só os portos necessitam de R$ 40 bilhões no curto prazo – de acordo com estimativas do IPEA – para eliminar os gargalos que aumentam os custos da cadeia produtiva. Os navios que transportam 98% do comércio exterior brasileiro ficaram parados à espera de atracação nos portos nacionais por quase 4 mil dias no ano passado, de acordo com levantamento do Centro Nacional de Navegação (Centronave) – algo inadmissível quando se precisa ganhar competitividade.
 Por isso, quando parlamentares do governo clamam por um marketing agressivo, como o feito na época do lançamento do PAC (que, como se viu, não redundou em grandes avanços), é legítimo pôr em dúvida as chances de êxito deste governo. Sobretudo considerando que não há certeza de que um Ministério fundamental para o desenvolvimento - o dos Transportes – tenha se libertado do fisiologismo.
E deixemos de lado, por enquanto, o fato de a atual presidente da República ter sido ninguém menos do que a gestora do PAC.


           


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