Uma estranha fusão
Nada é mais prejudicial ao mercado, aos consumidores e, por conseqüência, à própria economia do que a ausência de concorrência. Sem ela não há garantia de que os produtos e serviços ofertados à sociedade terão a esperada qualidade. Nem de que seus preços não serão abusivos.
Eis porque as economias capitalistas procuraram estruturar sistemas e mecanismos de defesa do mercado, preservando um ambiente de ampla (ou mais ampla possível) competição.
O princípio básico que orienta esse sistema, no final das contas, é o mérito: obtém mais sucesso a empresa que oferece o melhor produto ou serviço pelo preço mais competitivo.
Se não fosse assim, essas economias capitalistas tenderiam à ineficiência tanto quanto uma economia planificada. Os países do antigo bloco soviético foram o “melhor” exemplo dessa ineficiência. E por isso seus regimes ruíram.
Contudo, interferências estatais que geram ineficiência não caíram em desuso com o fim da Era Soviética. E continuam trazendo malefícios à economia, justamente porque não valorizam regras claras de mercado que possam proteger os consumidores.
O anunciado apoio do governo brasileiro, com aporte de até R$ 4,5 bilhões do BNDES, à operação de fusão entre o Grupo Pão de Açúcar e o Carrefour é um exemplo dessas interferências estatais indevidas.
O governo argumenta que o apoio é uma forma de estimular um grupo nacional a conquistar mercado no exterior. Alega ainda que é um bom negócio e que o BNDES terá lucro com a operação. Mas, na verdade, o melhor caminho para que empresas brasileiras aumentem sua presença no exterior é a adoção de medidas, pelo governo, que lhes permitam ser mais competitivas e eficientes.
Entre essas medidas estão a redução e a simplificação de tributos, bem como o aumento dos investimentos em infraestutura, eliminando os gargalos hoje existentes – gargalos de alto custo para a nossa cadeia produtiva.
O efeito colateral, no Brasil, dessa possível fusão é a concentração de mercado, o que evidentemente compromete a concorrência, com prejuízo direto para o consumidor.
Outra questão a avaliar é: se de fato a fusão é um bom negócio, por que os bancos privados não se interessaram por ela?
Em suma, eis aí mais um caso que reflete o modelo de desenvolvimento ultrapassado que o PT adotou para a economia do país. Um modelo que privilegia um capitalismo de Estado (o Poder Público elegendo os grupos que terão sua ajuda, tornando-se seu cúmplice nos negócios), em detrimento de um capitalismo de mercado, centrado na ampla liberdade de concorrência e, portanto, no mérito e na eficiência.
Em tempo: e aqui não se entra sequer no mérito se a fusão é ilegal, tendo em vista evidente prejuízo a um dos acionistas.
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