quinta-feira, 7 de julho de 2011

COMENTÁRIO DO DIA

Afastado do governo, de volta ao Senado

                          
   Clóvis Carvalho                                                           

     O ex-presidente Lula gostava de postergar decisões, principalmente se essas implicassem a troca de colaboradores amigos e integrantes de seu governo envolvidos em corrupção.
Dizia que não podia afastar ministro e assessor “apenas” porque a imprensa os associava a propinas, superfaturamentos e outros escândalos, como os que voltam a se repetir no início deste governo.
Na verdade a imprensa “apenas” noticiava os descaminhos que Ministério Público, TCU, Polícia Federal e outros órgãos investigavam.
     Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Itamar Franco não tardaram a afastar assessores próximos quando surgiram suspeitas – não comprovadas – da participação deles em irregularidades.
     Num caso emblemático, Itamar Franco, falecido no último fim de semana, exonerou o seu amigo de juventude e fiel escudeiro Henrique Hargreaves da Casa Civil, até que sua inocência - em um desses recorrentes escândalos - fosse comprovada.
Consta que o próprio pediu ao chefe que o exonerasse, até o esclarecimento dos fatos. Hargreaves voltou fortalecido meses depois.
     FHC exonerou Clóvis Carvalho, também da Casa Civil.  Recentemente, por ocasião de seus 80 anos, reconheceu que o afastamento profilático do leal e fraterno amigo foi um dos momentos mais doloridos de sua passagem pelo Planalto, até porque os acontecimentos mostraram que “ele era inocente”.
Assim como no governo Itamar, prevaleceu a máxima segunda a qual a “mulher de César não basta ser honesta; tem que parecer honesta”.
     Até o início desta semana a presidente Dilma Rousseff dava sinais de fraqueza ao manter Alfredo Nascimento no cargo a despeito da enxurrada de denúncias contra alguns dos principais integrantes do segundo escalão no Ministério dos Transportes.
Ontem, por fim, o ministro pediu sua exoneração – pelo que se noticiou, por pressão e determinação da presidente. Dilma Rousseff não poderia ter dado melhor sinal à sociedade quanto aos compromissos éticos de seu governo – ainda que um sinal tardio.
Mas a notícia é apenas parcialmente boa. O ex-ministro está de volta ao Senado, como representante do Amazonas, gozando de imunidade parlamentar, e deve reassumir a Presidência do PR, legenda da base aliada que mantém outros representantes no governo. Alfredo Nascimento continuará à vontade para dar seqüência à sua “trajetória política”. E queiramos ou não, com influência no governo.
Em meio à segunda saída de ministro no prazo de seis meses - em razão de escandâlos de corrupção - é pertinente indagar se o governo continuará preso às amarras impostas pelo clientelismo de coalização. Ou se é possível governar sem se tornar refém de uma base aliada de interesses cada vez mais espúrios.
Eis o tamanho do desafio que qualquer governante comprometido com a ética e a boa gestão precisa enfrentar.
Boa sorte, Dilma!

Por Nilson Mello

Em tempo: sobre informação no artigo publicado ontem neste Blog, jornais do fim de semana informavam que Alfredo Nascimento era escolha pessoal da presidente, como forma de azeitar a relação com o PR. Os jornais de hoje, por outro lado, o colocam no espólio do ex-presidente Lula.

    

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