segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Comentário do dia

    

Brasil, EUA e a política fiscal

Mantega e Tombini. Incoerências?
     As últimas postagens deste Blog comentaram as dificuldades adicionais do combate à inflação num ambiente de política fiscal frouxa (gastos excessivos do governo). E ainda o efeito colateral sobre o câmbio de uma política monetária mais austera (juros altos), indispensável para compensar a frouxidão fiscal.
Entre outras conclusões está a de que a combinação impõe duplo ataque à competitividade da cadeia produtiva nacional. “Ataque” dos juros elevados, que aumentam os custos; e “ataque” do câmbio valorizado, que torna o produto brasileiro mais caro do que o de seus competidores diretos.
Duas incongruências são evidentes. A taxa de câmbio, já sob efeito de fatores externos, é pressionada pela entrada de divisas à procura da atraente remuneração proporcionada pela própria política monetária – juros para controle inflacionário. Essa é a primeira incongruência.
A segunda é que a política fiscal é “generosa” nos gastos, mas não nos investimentos de que o país precisa. Investimentos que também contribuiriam para reduzir custos de produção, aumentando a competitividade e a produtividade da economia – princípios e objetivos alinhados com a estabilidade monetária.
     Enquanto o Brasil tenta resolver esse paradoxo de sua política econômica - com dilemas entre as variáveis juros e câmbio – em meio aos objetivos conjugados de controle de preços e crescimento econômico, os Estados Unidos travam a sua própria batalha para afastar a crise e retomar o desenvolvimento sustentável.
Tanto lá quanto aqui, a questão crucial é a contenção de gastos públicos.
Em artigo publicado hoje em dois jornais de grande circulação (link abaixo do texto), o economista Ilan Goldfajn lembra que o impasse fiscal norte-americano deixa algumas lições ao Brasil:
“(...) É um período em que excesso de velocidade (nos gastos públicos, por exemplo) pode nos levar a derrapagens sérias. (...) Temos aqui nosso próprio debate fiscal que requer atenção, antes de sermos empurrados para um ajuste forçado. A dinâmica da dívida, que em suas épocas era questão central, hoje dá lugar ao debate sobre os ajustes fiscais necessários para permitir juros menores, câmbio menos apreciado e espaço maior para investimentos (...)”.
Em tese não deveríamos nos preocupar tanto. A presidente Dilma Rousseff é economista. Tanto ela quanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, devem estar atentos a todas essas incoerências mencionadas de início. Bem como à urgência de se promover um ajuste de rumo na política econômica, a fim de que o combate à inflação (inalienável) não continue capenga, estruturado, como está, numa política monetária mais austera do que o razoável, mas ainda assim necessária em função de uma política fiscal mais débil do que a responsabilidade recomenda.

     Por Nilson Mello

Link para o artigo de Ilan Goldfajn mencionado:



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