Os cada vez mais frequentes relatos – trazidos a público por blogueiros e comentaristas políticos de diferentes jornais - sobre as explosões de ira da presidente Dilma Roussef com seus subordinados, com narrativas detalhadas de episódios em que os subordinados saem humilhados, nos dão o que pensar.
Se verdadeiros os relatos – e é difícil acreditar que tantos mentiriam tanto sobre uma só pessoa – algumas conclusões são imediatas. A primeira delas é que a imagem de sobriedade passada pela presidente desde a posse, com declarações e posturas dignas do cargo, fica seriamente arranhada.
Chefe que explode com subordinado não merece a chefia. Se é chefe e tem autoridade, não precisa explodir. Basta dizer o que quer.
Por outro lado, subordinado que suporta a humilhação não merece o cargo. Lealdade ao chefe – e à Administração Pública – nada tem haver com subserviência, característica que é, por definição, inibidora da franqueza, da criatividade e, portanto, da necessária eficiência.
Mais: se a presidente considera determinada ministra “uma idiota, que não entende nada da pasta que ocupa”, como foi relatado por um comentarista político, mantê-la no cargo é um atentado à Nação, uma afronta ao contribuinte.
O erro é novamente da chefe, não da subordinada – embora reconheçamos que essa, se não merecesse os adjetivos, não hesitaria em pedir o boné após o primeiro insulto.
Por fim, é curioso que essa enxurrada de revelações sobre o “humor” presidencial venha à tona justamente quando o Planalto lança uma ofensiva profilática para afastar da máquina pública federal funcionários corruptos – algo que desagrada, como tem sido fartamente noticiado, os partidos da base aliada, notadamente o PR e o PMDB.
Sim, partidos políticos deveriam zelar pela probidade administrativa, em defesa de seus eleitores e da sociedade. Mas o fisiologismo arrebatado os leva para outro tipo de prática.
Em resumo, descontentes com a ação do Planalto para moralizar a Administração, teriam decidido expor os humores presidenciais, os acessos de ira no gabinete presidencial.
Tudo muito surpreendente e desanimador, sobretudo para aqueles que, mesmo percebendo erros de condução nas políticas de governo, em especial na área econômica, viam em Dilma Rousseff uma figura que resgatava, pela ponderação e sobriedade demonstradas em eventos públicos, a dignidade do cargo de Presidente da República.
Já quanto ao oportunismo fisiológico dos partidos da base governista, nenhuma surpresa.
(Obs: No link abaixo, relato com detalhes das explosões de Dilma ROusseff)
http://cnj.myclipp.inf.br/default.asp?smenu=ultimas&dtlh=184710&iABA=Not%EDcias&exp=
De novo, o ajuste fiscal
Sem querer cansar o leitor com a recorrência do tema, justificável pela relevância, o Blog traz de novo à análise o problema fiscal.
Dados levantados pelo economista e especialista em contas públicas Fábio Giambiagi expõem de forma clara o pseudo-ajuste fiscal anunciado pelo governo no início do ano.
Na contramão do que é necessário fazer para gerar crescimento sustentável, ou seja, desenvolvimento de fato sem pressões inflacionárias, no primeiro semestre deste ano houve aumento de despesas correntes com consequente redução dos investimentos.
Como tem sido dito, a falta de investimentos contribui para a alta de preços, na medida em que impede o aumento da capacidade produtiva e a redução de custos logísticos.
Giambiagi lembra que estamos diante de um ajuste “convencional”, nos moldes dos preconizados pelo FMI aos países subdesenvolvidos (Brasil, incluso) na década de 1980 e início da década de 1990 – ajustes esses tão criticados pelo PT que, agora, no governo, adota a receita fácil.
O que caracteriza esse pseudo-ajuste governista, sem cortes dos gastos agregados, no “clássico modelo FMI”, é simplesmente aumento de tributos. O governo deixa de fazer a sua parte, negligenciando a própria gestão, e empurra novamente o sacrifício para a sociedade. Senão, vejamos os números de Giambiagi.
No primeiro semestre, os aportes em investimentos caíram 5% em termos reais (descontada a inflação no período). Já as despesas correntes – 37 ministérios opulentos, perdulários e, por conseqüência, ineficientes bem como suas autarquias subordinadas, sempre imersas em escândalos de corrupção – subiram 5% também em termos reais.
“Não houve corte algum de gasto agregado, que aumentou 4%. Estamos diante de um ajuste convencional: mais carga tributária na veia - a receita aumentou 13% reais! – e redução de investimento”, conclui Fábio Giambiagi em artigo na grande imprensa nesta terça-feira 16 de agosto (Link com artigo completo abaixo).
Como leitor de seu blog e eleitor de Dilma me sinto duplamente disposto a me manifestar. Concordo que ao chefe é dado direitos e deveres diversos, e responsabilidades ilimitadas, sem as quais o sucesso do empreendimento, ou da repartição pública até, não será alcançado. Mas excluo deste princípio a gestão de algo tão importante e extraordinário quanto os rumos de um país, por exemplo. Dilma, a primeira mulher presidenta da República, eleita com a maioria dos votos do povo brasileiro, homens e mulheres, sabe que, assim como seu antecessor, não terá o direito de errar - muito. Poderá e deverá sim errar o suficiente para que no final se possa dizer, com segurança, de que a primeira mulher presidenta do Brasil cumpriu o papel que se espera e delega a todo aquele a quem entregamos as chaves da República: fazer crescer o país e conter, com firmeza, a volúpia da vocação pela má gestão - algo que parece fazer parte do princípio das administrações públicas de cá.
ResponderExcluirO falar grosso ou eventuais reprimendas que ela ofereça ao seu subordinado, eleito ou membro de corpo técnico, se forem indispensáveis para que coloque a coisa no trilho ou apenas sirva para que ela desopile o fígado, deverá ser sim de uso frequente e constante - como um remédio tarja de uso contínuo. Não importa. Ela e seus colaboradores devem se desprender e desvencilhar de determinados valores, de caráter moral ou sentimental, em função do resultado. Não é nada que remeta a máxima de que os fins justificarão os meios. Mas a meta, o objetivo final, deverá ser cumprida. Admiro muito homens e mulheres que aceitem fazer parte deste projeto. Integrar um corpo administrativo e de gestão com o propósito de fazer ou transformar este país - pelas mãos de uma mulher. Eu, certamente voce, não pagaria este preço. Não tenho vocação para ouvir e me calar. E nem mesmo me permito fazer ou deixar de cumprir algo que esteja sob minha responsabilidade que irá, lá na frente, resultar em bronca. Mas, caso o fizesse, e entrasse neste barco, me esforçaria para fazer não merecer o chamado esporro. Que eles fiquem e recebam cada vez menos bronca. E que ela não se canse de aplicá-las. O final de tudo poderá ser o Brasil que desejamos. Abs E saudações alvinegras.