Por um
(eventual) segundo mandato sem Mantega
O vírus da economia é quase tão letal quanto o Ebola
Após
a reunião de seu Comitê de Política Monetária, o Banco Central manteve
ontem os juros básicos da economia em 11%. De acordo com a consultoria Trading
Economics, o Brasil segue com uma das 20 maiores taxas de juro do planeta,
ainda que o país esteja em recessão técnica, conforme dados recentemente
divulgados.
Juro
baixo é um estímulo à atividade econômica, razão pela qual, em regra, ele é
reduzido quando a economia entra em marcha lenta – ou, sobretudo, quando beira
uma estagnação. Juro muito elevado é um claro sintoma de que há algo de errado
na economia, uma distorção a ser corrigida. Na verdade, como já comentado neste
Blog, é sinal de doença ao mesmo tempo em que pode ser um remédio – ainda que
paliativo.
No
Brasil, o BC tem mantido o ciclo de alta da Selic (desde abril do ano passado) devido
ao perigo maior de uma inflação completamente fora de controle. A previsão de
inflação para os 12 próximos meses, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas, é
de 7%, acima, portanto, daquilo que seria o teto da meta de 6,50% (veja bem,
leitor, não estamos sequer falando mais da meta de 4,50%). A inflação elevada é
uma das distorções da economia brasileira, que conduz a outras. É também efeito de outras mazelas.
Se
o juro alto pode ser entendido como um remédio (ao mesmo tempo em que é sintoma),
sua função é transitória porque, além de não atacar a verdadeira causa da
doença, acaba por acarretar outros males ao paciente, se o tratamento se
prolongar. Numa comparação livre, é como o sujeito que, submetido a muitas doses
de morfina, para suportar a dor, acaba entorpecido e – ao menos temporariamente
– incapacitado para a atividade produtiva.
Enfim,
toda medicação tem efeito colateral. No
caso da inflação, o tratamento via política monetária (manutenção da taxa
básica em ciclo de alta ou patamar elevado) é o que, na linguagem médica,
equivaleria a um “tratamento de suporte” – ou seja, não ataca a causa da
moléstia, mas mantém os sinais vitais do paciente, evitando o mal maior (morte
ou hiperinflação).
Saber
por que o Brasil tem convivido com uma inflação renitente ao mesmo tempo em que
cresce pouco ou quase nada é um passo importante para sair da encruzilhada.
Como conseguiu essa “proeza” macroeconômica é uma pergunta que o ministro Guido
Mantega se esquiva de responder diretamente, terceirizando a culpa para a crise
internacional.
Evidentemente,
as dificuldades de crescimento aumentam na medida em que os juros, relativamente
mais elevados, por necessidade terapêutica (a indispensável proteção da moeda) passam
a ser um problema adicional – o efeito colateral da medicação. Mas certamente
não foi a política monetária austera que deu origem ao problema, muito ao contrário.
Lá
atrás, logo que assumiu o governo, a presidente Dilma Rousseff decidiu baixar a
taxa de juros de maneira “voluntariosa”, ou seja, na marra, sem que houvesse um
ambiente fiscal que garantisse o afrouxamento da política monetária sem riscos
para a estabilidade. A ideia era fazer tudo o que não estava na cartilha de
algo que era visto como ortodoxia econômica, a fim de se diferenciar do figurino
liberal, ou “neoliberal”.
Estimulou-se
o consumo, com ampliação das linhas de financiamento, e aumentaram-se os gastos
públicos. A demanda pressionou o setor produtivo. Mas esse não conseguiu
corresponder ao chamamento e aumentar a oferta de bens e serviços porque já
estava de joelhos devido a uma série de gargalos de ordem estrutural (rodovias,
ferrovias, portos e aeroportos precários e ineficientes) e de ordem legal e
regulatória, expressos por excesso de tributos e de burocracia. Preços continuamente maiores foram o resultado de
mais demanda sem o correspondente crescimento da oferta.
Com
perspectivas tão incertas, a credibilidade do governo e a confiança na economia
foram igualmente abaladas. Os investimentos que seriam indispensáveis para
aumentar a eficiência e a produtividade, contribuindo para a estabilidade, foram
reduzidos ou permaneceram muito aquém do necessário face aos desafios do país.
Neste
cenário, portanto, já é uma alento ouvir a presidente e candidata à reeleição
reconhecer (segundo os jornais desta quinta-feira 04) que há problemas (uau!)
na economia e adiantar que mudará a sua equipe ministerial. O anúncio nos
permite deduzir que as principais substituições dar-se-ão na esfera econômica –
pois, por óbvio, é de onde partiram os erros fundamentais.
As
fórmulas inventivas e experimentais adotadas nos últimos anos agiram como um
vírus. A equipe do primeiro mandato de Dilma Rousseff foi quase tão
letal para a economia quanto o Ebola. Por isso, estaremos livres de Guido
Mantega num eventual segundo mandato? Não só dele, mas das “ideias
revolucionárias” que ele representa e defendeu, por determinação de sua chefe? É
o que se espera.
Por Nilson Mello
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