terça-feira, 11 de outubro de 2011

COMENTÁRIOS DO DIA


Este governo é desenvolvimentista


No embate entre linhas de ação no combate à inflação, os chamados “desenvolvimentistas” tendem a angariar mais simpatia da mídia e, por conseqüência, do público em geral do que os “monetaristas”, como se esses fossem contrários ao desenvolvimento econômico e adeptos de uma política monetária mais rigorosa por simples sadismo – ou por conluio com o sistema financeiro, beneficiário indireto de taxas de juro mais elevadas.  
No momento em que o governo parece abandonar uma política econômica que vinha tendo êxito no controle dos preços no Brasil, é oportuno tentar se libertar das definições simplistas para enxergar a questão com mais clareza.
Na verdade, o que os monetaristas pregam é a defesa da moeda como pressuposto do desenvolvimento. Sabem que não é possível obter um crescimento sustentável e eficiente quando a alta dos preços corrói o valor da moeda.
Cabe lembrar que a hiperinflação brasileira foi debelada pelo Plano Real, que tem inspiração monetarista e foi implantado a duras penas após infrutíferas tentativas de planos heterodoxos (de caráter “desenvolvimentista”) e mais de uma década de desenvolvimento econômico medíocre.
Quando indica que pretende tolerar um pouco de inflação em prol de um pouco mais de crecimento, o governo está na linha “desenvolvimentista”. O problema é que depois que a inflação sair de vez do controle, com indexação geral de preços, o custo para se reconquistar a estabilidade é muito maior – e certamente exigirá um novo plano econômico, com as imensas dificuldades políticas e complexidades técnicas que lhe seriam inerentes. Sem a menor garantia de novo êxito!
Por Nilson Mello


Detalhe curioso

     A alta dos preços dos serviços, que acumula variação de 9,84% nos últimos 12 meses, superando os 7,31% do IPCA (índice oficial) para o mesmo período, tornou-se um problema adicional para a batalha que o governo tenta travar contra a inflação utilizando instrumentos híbridos.
     O governo aposta que a queda da demanda internacional, em função do desaquecimento da economia dos Estados Unidos e da Europa, terá papel decisivo na contenção dos preços internos. Até agora isso não aconteceu. E será mais difícil acontecer uma vez que os serviços – não tão sujeitos à queda de demanda externa – passaram a ter maior peso na composição da inflação. Esses preços menos sujeitos as oscilações externas.
     Curiosamente, essa mudança de perfil - mais consumo em serviços do que em produtos - se deve justamente à melhoria da renda das famílias brasileiras, em decorrência da própria estabilidade alcançada na “Era Real”. A economista Silvia Bastos, da FGV, lembra que, mesmo com a crise, a inflação dos serviços só tem subido – “e ela é mais persistente”, com alto grau de indexação.
Sobre o assunto, ver a reportagem de Márcia De Chiara publicada domingo passado em O Estado de S. Paulo (link:http://economia.estadao.com.br/noticias/economia+geral,preco-dos-servicos-sobe-mais-que-a-inflacao-desde-2006,87499,0.htm)



Um alívio nominal

     Não menos curioso é o fato de a inflação estar permitindo um substancial aumento nominal das receitas do governo. Os repórteres Adriana Fernandes e Fabio Graner, em matéria também deste último fim de semana em O Estado de S. Paulo, lembram que a inflação acima da meta deve gerar “um volume de receitas adicionais” de até R$ 10 bilhões. Salientam os repórteres:
     “Ao encarecer os produtos, a inflação aumenta a base de tributação, ajudando a arrecadação federal, ao mesmo tempo em que reduz o poder de compra da população. O impacto também se dá na despesa do governo, mas esse movimento não ocorre na mesma velocidade, deixando no curto prazo um saldo fiscal mais favorável para as contas públicas”.
     Para quem ainda duvida que o governo esteja fazendo um jogo perigoso com a inflação – negligenciando o risco iminente de volta da indexação generalizada – fica aí mais esse alerta. Afinal, se o governo está “ganhando” nominalmente, protegendo-se da corrosão, por que os agentes econômicos não tentarão fazer o mesmo, em breve?


   

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