Corrupção e controle da mídia
Uma acusação, se consistente em evidências, não perde validade pelo fato de o denunciante ser, ele próprio, um criminoso, ou suspeito de participação em irregularidades. Sob certo aspecto, se o acusador está envolvido no esquema denunciado, ou em outros semelhantes, praticados dentro de idêntico contexto – ou no mesmo órgão do governo, como tem sido recorrente – a denúncia até ganha força, pois expõe com maior clareza o grau de contaminação da máquina pública.
O PC do B, legenda da base governista aboletada no Ministério do Esporte, condenou a divulgação das denúncias feitas pelo policial militar João Dias Ferreira contra o titular da pasta, Orlando Silva, por considerar que o “denunciante é um bandido”.
O PC do B entende que o episódio – não os graves e recorrentes desvios praticados dentro do Ministério do qual se apropriou, mas a acusação feita por um dos envolvidos – realça a importância de se estabelecer um controle “regulatório” da mídia.
Eis o que o partido publicou em seu portal “Vermelho” e que foi reproduzido nesta quinta-feira (20) na imprensa livre: “As calúnias lançadas contra o ministro e contra o seu partido, o PC do B, são o melhor exemplo da necessidade, da imposição, de uma legislação para regular a mídia e democratizar os meios de comunicação (grifo meu)”.
O que o PC do B chama de “calúnias” o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, considera “fatos graves” com base nos quais vai requerer ao Supremo Tribunal Federal a instauração de inquérito contra o ministro Orlando Silva.
O PC do B, o PT e os demais partidos da base aliada gostam de falar em “controle social da mídia”, ou “democratização dos meios de comunicação” (e outros eufemismos mais para a censura), porque sabem que uma imprensa livre de amarras “regulatórias” traz à tona os seus esquemas de desvios de recursos públicos. Simples assim.
Cinco ministros do atual governo já caíram envolvidos em denúncias de corrupção (estou incluindo Orlando Silva na contabilidade). E temos apenas 10 meses de mandato. O que a imprensa tem mostrado é que a máquina pública federal foi transformada num vergonhoso balcão de negócios.
O interesse público virou mera ficção: o que conta são os negócios privados – e necessariamente escusos – que podem ser feitos à custa do erário. A cada partido, o seu quinhão, representado por um ministério, ou grupo de ministérios e seus órgãos vinculados. Tem o esquema dos Transportes, do Turismo, da Agricultura, do Esporte, da Saúde...
Impossível esperar um governo com gestão eficiente, se a máquina pública alcançou tal grau de deterioração. E isso explica porque os gastos governamentais são gigantescos, cada vez maiores, enquanto os serviços públicos prestados à população são ridículos - e desumanos.
Os partidos de esquerda, que chegaram ao Poder com o primeiro governo Lula - e os que não são de esquerda, mas a eles se associaram no crime, como o pragmático PMDB - aparelharam o Estado em proveito próprio – em proveito de seus dirigentes. Justo os partidos de esquerda! Um eficiente, porém, imoral modelo tributário – que obriga o setor privado a buscas incessantes de produtividade, impondo-lhe uma pesada carga tributária – tem alimentado a farra.
A arrecadação bate recorde após recorde, mas o dinheiro que pagamos em impostos escorre pelos ralos da corrupção. Dá para entender por que os hospitais públicos não funcionam a contento, por que o ensino é ruim?
Bem, e a imprensa? A imprensa, por enquanto ainda livre, denuncia os desvios. Mas isso não tem sido suficiente para inibi-los.
Por Nilson Mello
Nilson,
ResponderExcluirSalve a imprensa ! É com ela livre que ainda a sociedade pode repudiar a corrupção e impunidade de nosso país.
Abraço
Pietro