terça-feira, 20 de setembro de 2011

COMENTÁRIOS DO DIA

Copa e Olimpíada sem legado

                           Miriam Belchior


     A grande vantagem de se promover uma Copa do Mundo ou uma Olimpíada é poder utilizar esses eventos como fatores de transformação do país, sobretudo, no que diz respeito à infraestrutura, à preservação do ambiente e à mobilidade urbana.
Para países emergentes, em especial, como o Brasil, é a chance de concentrar investimentos em áreas estratégicas dando um salto de desenvolvimento.
Em cidades degradadas e esvaziadas, como o Rio de Janeiro, trata-se de uma possibilidade única de resgate, que justifica todo o esforço e os pesados investimentos.
Pois bem, por absoluta inapetência para a gestão e o planejamento, o governo começou a jogar a toalha antes mesmo da hora. E já anuncia que, para evitar congestionamentos, nas vias públicas e também nos aeroportos, deverá decretar feriados durante os jogos da Copa, providência prevista no Projeto de Lei que estabelece regras para a organização do evento.
Não se trata apenas de uma regra extraordinária. A própria ministra do Planejamento, Miriam Belchior, já confirmou que o paliativo é, na verdade, uma boa solução.
As obras de expansão e reforma dos principais aeroportos – todos eles sobrecarregados e alguns visivelmente sucateados – também deverão ser substituídas por “puxadinhos”, projetos mitigados apenas para permitir um desafogo pontual.
Estamos desperdiçando uma grande oportunidade. E sem que isso signifique economia de recursos, zelo com dinheiro público, maior vigilância sobre os recursos empregados. Nada disso. Teremos, como já estamos tendo, despesas a rodo, só que sem o esperado legado.  

Quebras de patentes de medicamentos


                      
A presidente Dilma Rousseff chegou aos Estados Unidos, para a Assembleia Geral da ONU, anunciando que o Brasil deve quebrar novas patentes de medicamentos. A declaração tem um efeito midiático significativo, porque denota preocupação com a saúde da população, mas é, na verdade, prejudicial àqueles que deveriam ser os beneficiados diretos da medida.
Isso porque o anúncio antecipado de quebra de patentes faz com que laboratórios deixem de investir em pesquisa e desenvolvimento de drogas no Brasil (deixando inclusive de criar empregos e gerar renda aqui). Essas empresas passam também a ter receio de trazer para cá os seus mais novos remédios.
Para que invistam em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos, precisam ter a certeza do retorno financeiro a ser obtido com as novas drogas a serem colocadas no mercado. Para tudo que se produz e se cria, há um custo.


O Bonde do Cabral
Sergio Cabral
                                                                 
     O governador Sergio Cabral acaba de anunciar com todas as letras que seu governo foi negligente com os bondes de Santa Teresa.
Como sabemos o bonde desse tradicional, mas abandonado bairro carioca, tem vitimado muitos passageiros por falta de adequada manutenção. Agora o serviço foi interrompido por dois anos.
Cabral ressaltou que a gestão anterior deixou esse meio de transporte sucateado, e seu governo não deu a devida atenção à sua recuperação (seria oportuno explicar, então, para onde foram os R$ 12 milhões teoricamente investidos na sua modernização nos últimos anos).
O governador está se tornando um especialista numa nova modalidade de discurso. Reconhece que houve um erro grave, ao mesmo tempo em que tenta se distanciar de suas causas. Fala de seu próprio governo como se estivesse na platéia, julgando-o, e não na condição de “réu” - mais apropriada tendo em vista as tragédias recorrentes.
É como se o fracasso não fosse dele, pessoa física, mas de um ente projetado que toma assento como chefe do Executivo. Curioso jogo de cena. Ou patologia digna de internação.
Seja como for, dentro do protocolo humilde talvez consiga angariar a simpatia do eleitor nesses tempos difíceis. É possível mesmo que tenha sucesso. Mas aguardemos a resposta das urnas. 

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