A Ford e as Reformas
O anúncio da saída da Ford do Brasil, após um século de
operação no país, colocou novamente em evidência a necessidade de reformas
estruturantes que garantam e melhoria do ambiente de negócios. A começar por um
sistema tributário caótico, o arcabouço jurídico brasileiro é hostil ao
empreendedor e aos investimentos, o que explica nossas baixas taxas de
crescimento.
Há 40 anos a economia brasileira cresce
abaixo da economia global, uma defasagem que se acentuou na última década. De
2011 a 2020, o PIB brasileiro cresceu 2,2%, enquanto o do Mundo, 30,5% (FMI).
Um quadro legal desfavorável, que mina a competitividade e a
produtividade do setor produtivo, é a principal razão do contínuo fechamento de
unidades industriais no país. Portanto, em que pese os problemas intrínsecos da
montadora americana e sua dificuldade em se adaptar às grandes transformações
por que passa o setor automobilístico no Mundo, essa é a questão que deve ser
enfrentada, de forma prioritária.
Levantamento feito pela Confederação Nacional do Comércio (CNC)
mostra que de 2015 a 2020 36,6 mil indústrias foram extintas, o que equivale a
quase 17 plantas industriais fechadas por dia. Somente no ano passado, 5,5 mil
fábricas cerraram as portas. Principal obstáculo apontado por seus
controladores? Carga tributária pesada e extremamente complexa, um problema que
afeta, por óbvio, os outros setores da economia.
Com uma carga tributária de 33% do PIB, a mais alta entre os
países emergentes, o contribuinte brasileiro trabalha quase 150 dias por ano
para pagar impostos. E o problema não é somente a alta carga, mas o emaranhado
fiscal de difícil compreensão. De 1988 até hoje foram editadas mais de 390 mil
normas tributárias no país, o que equivale a 1,92 norma por hora, considerando
os dias úteis, segundo a Associação Comercial de São Paulo.
Essa profusão de normas gera insegurança jurídica, engessa os
ativos econômicos, afastando ainda mais os investimentos, e, claro, alimenta os
conflitos fiscais. Por isso o litígio tributário hoje no Brasil alcança a
impressionante cifra de R$ 3,4 trilhões (dados do Tesouro Nacional), valor
comparável ao orçamento da União.
À alta carga tributária poderia corresponder
uma elevada taxa de investimento, um fator decisivo para gerar desenvolvimento
sustentável, mas evidentemente isso não ocorre – do contrário, não teríamos
desempenho pífio há tantas décadas – porque as receitas públicas, tanto da
União, como dos demais entes federados, estão praticamente todas elas
comprometidas com o custeio de máquinas administrativas dispendiosas e pouco
eficientes.
Já foi dito, mas convém sempre repetir: este
“Estado” paquidérmico engendrado pela Constituição de 1988 deixou de ser o meio
pelo qual se fomentaria uma sociedade mais justa e próspera, para se tornar um
fim em si mesmo - uma distorção perversa que precisa ser revertida. O fim deve
ser o bem-estar do conjunto da sociedade. Por essa razão, a agenda de 2021 deve
estar prioritariamente voltada para as Reformas Administrativa e Tributária,
além do combate à pandemia.
Por Nilson Mello
As reformas administrativa e tributária são imprescindíveis, mas neste governo temos uma instabilidade política muito grande, prejudicial para todo o conjunto de iniciativas.
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