Ao trabalho
Quando a fase é difícil, como nesses
tempos de Covid-19, até o que seria uma boa notícia vem acompanhada de dado
negativo. Os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged)
referentes ao emprego formal revelaram que o país teve o melhor mês de agosto
em dez anos no mercado de trabalho, com 249,4 mil novas vagas preenchidas com
carteira assinada, resultado de 1.239.478 contratações contra 990 mil
demissões. Houve saldo positivo de
contratações nas cinco regiões, em todos os estados e nos cinco setores da
economia – indústria, construção, comércio, serviços e agropecuária, mostrando
uma recuperação consistente.
Agosto foi também o segundo mês
seguido de saldo positivo, já que em julho 131 mil pessoas haviam sido contratadas
com carteira assinada, interrompendo quatro meses (de março a junho) de saldo
negativo, com 1,5 milhão de empregos perdidos naquele quadrimestre. O fato de a
indústria ter liderado as contratações, com 92.893 mil novas vagas ocupadas,
também é positivo, pela capacidade do setor de mobilizar outros segmentos.
A notícia ruim é que, a despeito
dessa evolução nos últimos dois meses, o saldo é negativo ao longo do ano em
849,4 mil postos de trabalho. E hoje temos, segundo o IBGE,
13,1 milhões de pessoas procurando emprego, ou seja, 13,8% de desempregados, o
maior número desde 1992. O quadro seria certamente pior não fosse a Lei 14.020/2020
(originada da MP 936), denominada Programa Emergencial de Manutenção do Emprego
e da Renda, que permitiu a suspensão do contrato de trabalho e a redução
temporária de jornada e salários durante a pandemia.
Os abismos sociais que o país
historicamente enfrenta, recentemente aprofundados pela recessão de 2015/2016 e
agora pela crise da pandemia do novo coronavírus, autorizam o Executivo a
tentar desdobrar o auxílio emergencial concedido este ano e promover a sua
incorporação a programas de transferência de renda já existentes, que ficariam,
assim, robustecidos - seja lá o nome que se dê a eles. É uma questão de
responsabilidade social do governo (deste e de qualquer outro) buscar tal
caminho.
Contudo, a verdadeira melhoria do
emprego e da renda virá do desenvolvimento sustentável no longo prazo, o que
depende de um ambiente legal mais favorável aos investimentos e ao
empreendedor. Depende, portanto, das reformas estruturantes já em discussão ou
a serem encaminhadas ao Congresso. Depende ainda de uma política educacional
cada vez mais consistente. É preciso não perder o foco. Até porque aqui,
novamente, temos a boa notícia mesclada a informações negativas.
A ideia de usar precatórios para
financiar programas assistenciais equivaleria a passar um atestado de que não
há mais qualquer preocupação com o equilíbrio das contas públicas (na
contramão, inclusive, das reformas em debate), pois significaria transformar
dívida do Estado em despesa permanente, num círculo vicioso que agravaria o
rombo fiscal. Nesta quinta-feira (01/10), por sinal, o Tesouro já teve que
pagar taxas maiores para tomar empréstimos no sistema financeiro, diante das
incertezas geradas pela proposta.
Da mesma forma, usar dinheiro do
Fundeb para financiar esses programas significaria reduzir a ênfase que a
Educação deve ter no próprio crescimento econômico - um contrassenso. Justiça
seja feita, as duas “soluções” não foram anunciada pelo governo, mas pelo
senador Márcio Bittar, relator da PEC do Pacto Federativo - e já descartadas pelo
Ministério da Economia. Porém, é preciso redobrar a atenção aos balões de
ensaio. Transferência de renda, sim, mas sem contabilidade criativa. Ao
trabalho.
*Jornalista e advogado
.
Concordo plenamente Nilson, mas o que "mata" o nosso país é o populismo tanto de direita quanto de esquerda.
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