Questão de Estado, mais do
que de governo
As piores previsões – de uma queda de
mais de 9% do Produto Interno Bruto (PIB) – começam a ser revistas para
estimativas menos catastróficas. O Banco Central trabalha agora com um cenário
de queda de 5% do PIB em 2020 e crescimento de 3,9% em 2021. Mais conservador,
o FMI fala em recuo de 5,8% este ano e avanço na casa dos 3% ano que vem –
ainda assim bem mais otimista do que as previsões iniciais. A crise foi
profunda, mas a economia brasileira dá sinais claros de resiliência. Do
agronegócio e dos portos continuam a vir as melhores notícias em um ano difícil.
A movimentação nos terminais tem
crescido, no geral, sustentada pelo agronegócio, que não parou de exportar - e
muito. No segundo trimestre, foram movimentadas 286,4 milhões de toneladas,
incluindo os terminais públicos e privados (TUPs), o que representou um avanço
de 7,9% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados da Agência
Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). Nos TUPs, especificamente, que
respondem por 64% da movimentação, o aumento foi de 6,8% em relação ao segundo
trimestre de 2019, para 185,3 milhões de toneladas.
O resultado positivo foi reflexo do
aumento de embarque da produção agrícola, bem como de petróleo e derivados.
Entre a produção agrícola, o destaque foi a soja, com crescimento de 32,6% dos
embarques. No setor de petróleo, o aumento da movimentação foi de 23,6%, boa
parte também destinada às exportações, principalmente para os EUA. O aumento da
movimentação neste segmento veio acompanhado da boa notícia de que o Brasil se
tornou o maior produtor de petróleo da América Latina. Nossa produção cresceu 11%
no quadriênio 2016-2019, e o país deve se tornar um dos dez maiores produtores
globais no decorrer da década.
Se deslocarmos o foco do segundo
trimestre para uma análise mais ampla, os dados sobre movimentação nos portos permanecem
consistentes. É o que indica as estatísticas da Confederação Nacional dos
Transportes (CNT), que apontam crescimento de 3,9% de movimento nos portos
brasileiros de janeiro a julho, na comparação com o mesmo período do ano
passado, totalizando 638,6 milhões de toneladas. Na virada do semestre, o
dinamismo não diminuiu, a julgar pelos dados já divulgados referentes a agosto
no Porto de Santos, o maior do país. Os terminais santistas em conjunto
registraram a maior movimentação de carga para o mês, num total de 13,7 milhões
de toneladas, o que significa um aumento de 13,6% em relação ao mesmo período do
ano passado.
O resultado de agosto representou
também a sétima quebra consecutiva de recorde mensal em Santos, com uma
movimentação 1,8% acima do recorde anterior, de julho. No total, de janeiro a
agosto, o Porto movimentou 97,8 milhões de toneladas, volume 10,7% acima de
2019 e 10,2% acima de 2018. Os primeiros números divulgados sobre setembro são
igualmente positivos. Nos portos paranaenses, por exemplo, o movimento cresceu
28% no mês passado em relação ao mesmo mês de 2019, para 5,26 milhões de toneladas
embarcadas e desembarcadas. No acumulado do ano, o aumento no Estado já é de
11%, totalizando 43,9 milhões de toneladas. Assim como em Santos, o destaque é
para os graneis sólidos.
Nada disso estaria ocorrendo se a
produção agropecuária não estivesse a pleno vapor, e com perspectivas de
aumento de produção. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento
(Conab), a safra 2020/2021 de grãos deve proporcionar uma colheita de 268,7
milhões de toneladas, um incremento de 4,2% em relação à anterior. A agropecuária
é a responsável pelo bom desempenho das exportações e, por consequência, pela
manutenção do nível de atividade nos terminais portuários, por onde passam mais
de 95% de nosso comércio exterior.
Por sinal, a balança comercial de setembro
registrou o maior superávit desde 1989, com o saldo de US$ 6,1 bilhões, um
aumento de 62,1% em relação ao mesmo período do ano passado, resultado de um
volume crescente de exportações, apesar da pandemia do novo coronavírus,
conjugado com a valorização do dólar. De janeiro a setembro, o saldo da balança
foi de US$ 42,4 bilhões, 18,6% superior ao mesmo período de 2019. No acumulado
do ano, as exportações somam US$ 156,7 bilhões.
São números como esses que levaram a
Organização Mundial do Comércio (OMC) a informar em um de seus relatórios
periódicos que o Brasil tem tido bom desempenho no comércio exterior, bem acima
da média mundial. Segundo a organização, enquanto no mundo a retração nas
exportações foi em média de 9,6%, o Brasil tem conseguido manter “estabilidade”,
a despeito da crise.
Agronegócio e portos são setores
interdependentes e estratégicos na retomada do desenvolvimento. Por essa razão,
é importante ouvir o secretário Nacional de Portos e Transportes Aquaviários do
Ministério da Infraestrutura, Diogo Piloni, afirmar que os programas de
investimentos fazem parte de uma agenda de Estado, não de governo, e preveem
aportes de R$ 10 bilhões na modernização de terminais e/ou em novas instalações
até 2022. Neste sentido, nunca é demais lembrar que quanto mais estáveis e previsíveis
forem as normas regulatórias e as regras licitatórias, maiores poderão ser
os investimentos.
Por Nilson Mello*
(*Sócio-diretor do Ferreira de Mello Advocacia e da Meta Consultoria e Comunicação. )
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