O
inventário de Lula
O
paroxismo do sofisma é refutar a realidade sem apresentar argumentos que possam contraditá-la. No caso do ex-presidente
Lula, seus seguidores não contestam as provas apresentadas, apenas alegam não
haver provas. Ponto final. Como ilusionistas, tentam criar uma "nova"
realidade em paralelo àquela em que de fato vivemos - e onde o ex-presidente
foi investigado, denunciado, julgado e condenado dentro do devido processo
legal.
A
prova de que sua defesa não foi cerceada - e que lhe foi garantida a ampla
defesa - está no fato de que, desde 2016, seus advogados interpuseram cerca de
160 medidas judiciais contestando as acusações e opondo questões preliminares
nos inquéritos e processos a que responde, em especial o do Triplex do Guarujá,
no qual foi condenado a 9 anos e seis meses por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro.
Lula
afirma que o juiz Sergio Moro é surdo e por isso o condenou. Contudo, como é
possível constatar por esses números acima, publicados pelo jornal O Globo nesta terça-feira (23/01), a Justiça
ouviu tudo o que o ex-presidente e seus advogados disseram em sua defesa. Apenas
nem sempre se convenceu de sua inocência. Quando se convenceu, o absolveu, como no processo
relativo ao acervo presidencial, em que ele também era acusado de corrupção e
lavagem de dinheiro. Uma absolvição que dá ainda mais credibilidade às
condenações.
Para
os recalcitrantes, aqueles que, depois de tudo, ainda enxergam em Lula uma
vítima, é oportuno observar um outro levantamento, esse feito pelo jurista e
vereador em Porto Alegre Wambert di Lorenzo. Professor de Filosofia do Direito,
Ciência Política e Direito Constitucional, Di Lorenzo fez um inventário do
volume de acusações apresentadas contra Lula desde 2015.
Temos
o seguinte: nove denúncias oferecidas pelo Ministério Federal (entre as quais a
que resultou em condenação a 9 anos e seis meses de prisão); nas denúncias,
constam 246 acusações por lavagem de dinheiro, 21 por corrupção passiva, quatro
por tráfico de influência, três por formação de quadrilha e duas por obstrução
da Justiça.
Os
"ilusionistas", que desde ontem começaram a chegar a Porto Alegre,
para acompanhar o julgamento dos recursos impetrados pela defesa contra a
sentença condenatória de primeira instância no processo do Triplex, mantêm-se distante
desses números. Criaram a sua própria realidade. Até aí, tudo bem: que vivam a
sua fantasia. Só não está certo é querer impor ao restante dos brasileiros a
crença na farsa.
Por
Nilson Mello
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