A confusão de sempre
Outro
dia o ex-presidente Zé Mujica disse que ser de esquerda é ter humanidade. Se
não foi exatamente isso que a figura simpática do ex-mandatário uruguaio disse,
foi algo por aí.
Acho
que o que ele disse é até verdade, mas apenas parte da verdade. É verdade na
medida que as pessoas que se dizem de esquerda realmente têm uma forte
preocupação social (ao menos a maioria delas), e acreditam que se
autointitulando socialistas (e afins) contribuirão para promover a emergência
de um mundo melhor. Mais humano. Mas é apenas parte da verdade por duas razões
básicas.
Em
primeiro lugar, porque parte dessas pessoas (certamente, uma reduzida minoria)
tem absoluta consciência de que a simples adoção do rótulo de esquerda não terá
o condão de transformar o mundo, de melhorar as condições materiais e sociais
dos indivíduos. Esses, na verdade, são intelectualmente desonestos e se
apoderam do rótulo como se estivessem usando um "salvo-conduto" moral
para a retórica política.
Vale
repetir: o socialismo não deu certo em lugar nenhum do mundo (vejam o desastre
venezuelano, exemplo mais recente de fracasso ideológico). Em segundo lugar,
porque o restante das pessoas que não se autointitulam de esquerda ou socialistas
(ou afins) têm elas, também, em sua imensa maioria, preocupação social (não
querem ver crianças passando fome, sem escolas, ou pobres sem acesso à saúde,
saneamento, condições elementares de subsistências, por exemplo), apenas
divergem do caminho a tomar para alcançar o objetivo pretendido. Nesse segundo
grupo, a julgar pelos resultados das últimas eleições (das três últimas
eleições, por sinal), está a grande maioria dos brasileiros que rejeitou o
projeto socializante do PT.
Achar
que a maioria esmagadora dos brasileiros é desumana e está se lixando para os
mais pobres é um raciocínio tão ralo como dizer que "comunista come
criancinhas" (e aqui me refiro ao sentido literal, não apenas figurado).
Voltando
a Mujica, tenho que discordar dele acrescentando que pessoas de boa fé, elevado
conhecimento histórico e responsabilidade social se rendem às evidências de que
o socialismo fracassou em todo o mundo: não foi capaz de promover bem estar
social à altura das demandas da sociedade e ainda, em nome de um Estado
provedor, suprimiu liberdades democráticas. É ilusão achar que um país como o
Brasil, com as complexidades sociais inerentes a uma nação de mais de 200
milhões de pessoas espalhadas por um território continental, poderá superar
seus desafios sem um verdadeiro choque de capitalismo.
Até a
China comunista precisou adotar um "capitalismo de Estado" para não
entrar em colapso, como o antigo bloco soviético. Aqui podemos seguir um
caminho muito melhor: um capitalismo de mercado compatível com uma sociedade
democrática, aberta, plural e livre. Mas para isso teremos que deixar para trás
antigas amarras e velhos preconceitos. O principal deles é achar que quem
defende o capitalismo é malvado e quer subjugar o povo. Uma série de outras
distorções decorrem deste preconceito, como o fato de sermos o país com maior
número de "empresas estatais" (contradição em termos) no mundo. Ora,
se estatismo gerasse desenvolvimento, estaríamos em primeiro lugar no ranking
das nações mais ricas.
O equívoco
Nos
passos de Keynes (e sua Teoria Geral do
Emprego, do Juro e da Moeda, de 1936), muitos governos e economistas até
hoje acreditam que a inflação é uma alternativa ao desemprego, como mal menor.
A experiência mostrou que, com o tempo, ela acaba sendo um mal adicional ao
desemprego. Não precisamos retroceder à Inglaterra e à Europa do pós-guerra
para chegar a essa conclusão. Basta dar uma olhadinha aqui “pro lado”, para a
Venezuela, e repassar os sobressaltos da “nova matriz macroeconômica” de Dilma/Mantega,
felizmente revertida antes da catástrofe total - embora seus efeitos deletérios
ainda possam ser sentidos. Desnecessário, portanto, acrescentar que inflação
não é um fenômeno natural, mas uma política de governo. De governo
irresponsável.
De volta ao trabalho
O
maior obstáculo ao emprego e à renda no Brasil são os encargos salariais e a
CLT. A eventual extinção do Ministério do Trabalho (ainda não sacramentada)
seria apenas parte da remoção do entulho. CLT e encargos trabalhistas tornam o
emprego demasiadamente caro no Brasil. Por essa razão temos baixa demanda por
mão de obra e salários ridículos. Tudo que o Ministério do Trabalho faz é, em
nome do trabalhador, defender esses anacronismos - justamente o que mais obsta
o pleno emprego e o aumento da renda. Nada é mais nocivo ao trabalhador no país
do que CLT e encargos salariais. Repito: o que gera emprego é política
econômica consistente.
Ministério do novo governo
Itamaraty - Depois de um longo
desvio nos governos do PT, não parece ser agora, com Ernesto Araújo, que o
Ministério das Relações Exteriores se reconciliará com as suas melhores
tradições. Se a crítica era a partidarização de um órgão e uma função de
Estado, a escolha não poderia ser mais infeliz. Pena!
“Pingos nos ‘is’” - O
estranho não é o Joaquim Levy no Ministério de Bolsonaro, sob a batuta de PG.
Ambos “são de Chicago”, falam a mesma língua.
O estranho (e por isso não deu certo) era Joaquim Levy no
governo de Dilma.
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