Uma das coisas que muito impressionam nessa eleição é o aumento brutal de manifestações neonazistas, justamente num país em que isso (o neonazismo) jamais foi uma tendência ideológica relevante. Nem no Estado Novo, de Getúlio Vargas, foi movimento predominante.
Desafia a minha inteligência (por mais
modesta que ela possa ser), meu bom senso e, sobretudo, meu esforço para ser
intelectualmente honesto acreditar que o crescimento dessas “manifestações”
surgem espontaneamente no bojo do crescimento das intenções de voto em
determinado candidato e do número de seus apoiadores, todos marcados pelo X
(como os judeus eram marcados pela Estrela de David, na Alemanha Hitlerista) do
"politicamente incorreto" na propaganda eleitoral do campo opositor.
Eis que minha consciência (estimulada pela
inteligência modesta, bom senso e esforço em prol da verdade intelectual), me
leva, de forma soberana, a questionar se tais “manifestações” não seriam, ao
menos na sua maior parte, atos fraudulentos de campanha para desacreditar um
determinado candidato e conquistar votos para o seu adversário, já tão
desacreditado.
Alguns episódios recentes e de grande
repercussão na mídia (bem explorados pela “propaganda eleitoral”) berram nos
meus ouvidos neste sentido. Eu me refiro especialmente à igrejinha de Nova
Friburgo que foi pichada com suásticas, à jovem no Sul também marcada por uma
suástica (de acordo com denúncia inicial, não levada adiante, por nazistas
repressores do movimento LGBT) e à acusação de que o candidato a vice numa das
chapas teria sido torturador em 1969, quando tinha 16 anos de idade.
Dessas tão propaladas denúncias contra o
“fascismo” não ficou pedra sobre pedra esta semana. Descobriu-se,
depois da farta divulgação sem prévia checagem, que a igrejinha friburguense
foi pichada por um homem (podemos dizer militante?) que, na verdade, cometeu,
na sequência, outros atos de vandalismo contrários ao candidato que ele
pretendia acusar de nazista. Foi flagrado por câmeras de vigilância.
No caso do Sul, a suposta vítima preferiu
não levar a denúncia adiante, e o laudo de seu exame de corpo de delito apontou
que ela se automutilou ou consentiu que outros fizessem a marca em sua barriga.
Está sendo indiciada por denúncia falsa (falso testemunho).
Sobre o torturador de 16 anos (general
Mourão), a própria vítima do crime (crime bárbaro de tortura) já admitiu o
engano e pediu desculpas ao insultado - não a tempo de impedir que a falsa acusação
fosse usada em larga escala na propaganda eleitoral, contra o campo daquele por
ele acusado.
O berro estridente nos meus ouvidos (a
desafiar a minha modesta inteligência) aumenta quando assisto, estupefato, ao
discurso de indignação contra as fake news
sendo proferido, de forma acintosa, justamente por aqueles que mais se
beneficiaram dessas denúncias falaciosas. Agora advertem que já colocaram MP e
Justiça de alerta contra possíveis atentados ao seu candidato e a um dos seus
dirigentes. Mas quem sofreu um sério atentado foi justamente o seu
opositor.
E, no embalo das acusações caluniosas,
injuriosas e infamantes, assisto também à maior afronta que a democracia
poderia sofrer nessas eleições: o veemente constrangimento moral que o eleitor
do candidato que lidera as pesquisas (neste momento nada mais nada menos que
cerca de 60 milhões de brasileiros) tem sofrido. Na sua alma tem sido
esculpida, com violência midiática sem precedentes, a pecha de
“fascista”. Como se não estivesse escolhendo democraticamente,
em eleições livres, regradas pela Constituição e pelas Leis, aquele candidato
que a sua consciência, diante da análise dos fatos recentes da vida pública
brasileira, aponta como a melhor opção do momento.
Pois bem,
este partido que décadas a fio se dizia o baluarte da moral na política, hoje
desmoralizado por anos e anos de desmandos, desvios e absoluta incompetência
administrativa, tenta a cartada final com um discurso canhestro: só ele é capaz
de salvar a democracia brasileira. Ora, talvez nem Joseph Goebbels teria tido
tamanha audácia retórica.
Nada abalou mais a democracia brasileira
desde a redemocratização de 1985/1988 do que os desmandos desse partido que ora
acusa sua legião de opositores (a maior parte dos eleitores brasileiros) de
“fascistas”. Vale dizer que o fascismo, mais do que uma
ideologia de direita, é uma postura de intolerância em relação ao livre
arbítrio dos indivíduos.
Nada foi mais
nefasto para o país do que o projeto
hegemônico de poder desse partido: a todo custo, com os fins (nada elevados,
diga-se de passagem) justificando os mais rasteiros meios. E agora o eleitor
escaldado ainda tem que engolir mais este derradeiro embuste: “votar no PT para
salvar a democracia brasileira”.
Não surpreende que tenha sido o único partido
(entre os 32 com representação no Congresso) a não assinar a carta de
compromisso contra as fake news. Reconheça-se:
nesse ponto, foram surpreendentemente honestos. Surpreendentemente. Não é
demais lembar que, no primeiro turno, foi Bolsonaro e não Haddad quem venceu a
eleição em Israel.
Por Nilson Mello
Em tempo: a visão estreita quanto às
escolhes alheias não é, infelizmente, exclusividade de um único lado no embate
polarizado. Tentar desqualificar o eleitor do PT tachando-o de
"comunista" (como se comunistas fossem, por definição, pessoas más,
devoradoras de criancinhas) indica ignorância política atroz, algo que não
contribui para o processo político-eleitoral. Democracia é a convivência dos
opostos e o respeito às divergências. Quanto mais fortalecida será a democracia
quanto maior for a nossa tolerância a opiniões divergentes. E isso inclui a
tolerância a ideologias que, declarada ou implicitamente, rejeitam as chamadas
democracias liberais ocidentais e o seu inerente "modelo capitalista de
produção", cujo traço dominante é o respeito à propriedade privada. (NM)
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