quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Ensaio


Goebbels e a eleição das falácias 
(e das fake news)




    Uma das coisas que muito impressionam nessa eleição é o aumento brutal de manifestações neonazistas, justamente num país em que isso (o neonazismo) jamais foi uma tendência ideológica relevante. Nem no Estado Novo, de Getúlio Vargas, foi movimento predominante. 
    Desafia a minha inteligência (por mais modesta que ela possa ser), meu bom senso e, sobretudo, meu esforço para ser intelectualmente honesto acreditar que o crescimento dessas “manifestações” surgem espontaneamente no bojo do crescimento das intenções de voto em determinado candidato e do número de seus apoiadores, todos marcados pelo X (como os judeus eram marcados pela Estrela de David, na Alemanha Hitlerista) do "politicamente incorreto" na propaganda eleitoral do campo opositor.
    Eis que minha consciência (estimulada pela inteligência modesta, bom senso e esforço em prol da verdade intelectual), me leva, de forma soberana, a questionar se tais “manifestações” não seriam, ao menos na sua maior parte, atos fraudulentos de campanha para desacreditar um determinado candidato e conquistar votos para o seu adversário, já tão desacreditado.
    Alguns episódios recentes e de grande repercussão na mídia (bem explorados pela “propaganda eleitoral”) berram nos meus ouvidos neste sentido. Eu me refiro especialmente à igrejinha de Nova Friburgo que foi pichada com suásticas, à jovem no Sul também marcada por uma suástica (de acordo com denúncia inicial, não levada adiante, por nazistas repressores do movimento LGBT) e à acusação de que o candidato a vice numa das chapas teria sido torturador em 1969, quando tinha 16 anos de idade.
    Dessas tão propaladas denúncias contra o “fascismo” não ficou pedra sobre pedra esta semana. Descobriu-se, depois da farta divulgação sem prévia checagem, que a igrejinha friburguense foi pichada por um homem (podemos dizer militante?) que, na verdade, cometeu, na sequência, outros atos de vandalismo contrários ao candidato que ele pretendia acusar de nazista. Foi flagrado por câmeras de vigilância.
    No caso do Sul, a suposta vítima preferiu não levar a denúncia adiante, e o laudo de seu exame de corpo de delito apontou que ela se automutilou ou consentiu que outros fizessem a marca em sua barriga. Está sendo indiciada por denúncia falsa (falso testemunho). 
    Sobre o torturador de 16 anos (general Mourão), a própria vítima do crime (crime bárbaro de tortura) já admitiu o engano e pediu desculpas ao insultado - não a tempo de impedir que a falsa acusação fosse usada em larga escala na propaganda eleitoral, contra o campo daquele por ele acusado.
    O berro estridente nos meus ouvidos (a desafiar a minha modesta inteligência) aumenta quando assisto, estupefato, ao discurso de indignação contra as fake news sendo proferido, de forma acintosa, justamente por aqueles que mais se beneficiaram dessas denúncias falaciosas. Agora advertem que já colocaram MP e Justiça de alerta contra possíveis atentados ao seu candidato e a um dos seus dirigentes. Mas quem sofreu um sério atentado foi justamente o seu opositor. 
    E, no embalo das acusações caluniosas, injuriosas e infamantes, assisto também à maior afronta que a democracia poderia sofrer nessas eleições: o veemente constrangimento moral que o eleitor do candidato que lidera as pesquisas (neste momento nada mais nada menos que cerca de 60 milhões de brasileiros) tem sofrido. Na sua alma tem sido esculpida, com violência midiática sem precedentes, a pecha de “fascista”. Como se não estivesse escolhendo democraticamente, em eleições livres, regradas pela Constituição e pelas Leis, aquele candidato que a sua consciência, diante da análise dos fatos recentes da vida pública brasileira, aponta como a melhor opção do momento. 
    Pois bem, este partido que décadas a fio se dizia o baluarte da moral na política, hoje desmoralizado por anos e anos de desmandos, desvios e absoluta incompetência administrativa, tenta a cartada final com um discurso canhestro: só ele é capaz de salvar a democracia brasileira. Ora, talvez nem Joseph Goebbels teria tido tamanha audácia retórica.
    Nada abalou mais a democracia brasileira desde a redemocratização de 1985/1988 do que os desmandos desse partido que ora acusa sua legião de opositores (a maior parte dos eleitores brasileiros) de “fascistas”. Vale dizer que o fascismo, mais do que uma ideologia de direita, é uma postura de intolerância em relação ao livre arbítrio dos indivíduos.
    Nada foi mais nefasto para o país do que o  projeto hegemônico de poder desse partido: a todo custo, com os fins (nada elevados, diga-se de passagem) justificando os mais rasteiros meios. E agora o eleitor escaldado ainda tem que engolir mais este derradeiro embuste: “votar no PT para salvar a democracia brasileira”.
    Não surpreende que tenha sido o único partido (entre os 32 com representação no Congresso) a não assinar a carta de compromisso contra as fake news. Reconheça-se: nesse ponto, foram surpreendentemente honestos. Surpreendentemente. Não é demais lembar que, no primeiro turno, foi Bolsonaro e não Haddad quem venceu a eleição em Israel.
Por Nilson Mello
    Em tempo: a visão estreita quanto às escolhes alheias não é, infelizmente, exclusividade de um único lado no embate polarizado. Tentar desqualificar o eleitor do PT tachando-o de "comunista" (como se comunistas fossem, por definição, pessoas más, devoradoras de criancinhas) indica ignorância política atroz, algo que não contribui para o processo político-eleitoral. Democracia é a convivência dos opostos e o respeito às divergências. Quanto mais fortalecida será a democracia quanto maior for a nossa tolerância a opiniões divergentes. E isso inclui a tolerância a ideologias que, declarada ou implicitamente, rejeitam as chamadas democracias liberais ocidentais e o seu inerente "modelo capitalista de produção", cujo traço dominante é o respeito à propriedade privada. (NM)




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