Drôle de France (e
seus paralelos)
A
candidata da extrema direita culpa as elites (ou seria "azelite"?) e
os imigrantes pelo desemprego. Nacionalista, xenófoba, recebe o apoio dos
antigos redutos comunistas - as regiões operárias de produção de carvão, em
especial. Também lá os extremos se aproximam no discurso e nos métodos e, por
conta da miopia ideológica, falham no diagnóstico dos problemas e, em
consequência, no receituário.
O
desemprego é, entre outras coisas, efeito do alto grau de regulação e
intervenção do Estado na Economia. Tanto lá quanto aqui, é fruto de um
arcabouço legal - turbinado pelo ativismo estatal, de variadas tendências, mas
de nítido caráter socializante - que valorizou os direitos em detrimento das
obrigações dos cidadãos.
No Brasil,
a Constituição de 1988 é seu paroxismo - e é também a fonte dos gigantescos desafios
que enfrentamos hoje. Uma mentalidade que desprezou o princípio da meritocracia
e, ao fazer isso, solapou a produtividade e a eficiência da Economia. Na
Carta, o paternalismo que trata o trabalhador como hipossuficiente extrapola as
relações de trabalho e a CLT da Era
Vargas.
Mais
empregos? Que se crie um ambiente propício ao empreendedor e à iniciativa
individual de forma equânime, livre dos apadrinhamentos patrimonialistas que corroeram
o Tesouro e a máquina pública brasileira. O custo de um empregado no Brasil é
mais do que o dobro do seu salário, empurrando o empresário (e o próprio
trabalhador) para a informalidade. Quem aguenta?
Há tempos o mercado deveria ter sido desregulamentado,
mas, como é de praxe no país, preferiu-se engendrar puxadinhos jurídicos,
gerando mais distorções sociais e econômicas.
As desonerações
seletivas da Era Dilma foram duplamente nefastas: por um lado, reduziram fortemente as receitas tributárias, num momento em que a União aumentava brutalmente
as suas despesas, o que deu dimensões abissais ao rombo fiscal; de outro, estimularam a ineficiência dos grupos e
segmentos empresariais escolhidos pelo "Rei". Não é assim que se fortalece
a economia e se criaM empregos.
O
"governo provisório" tentou deixar a sua marca nesta área e pariu
outra anomalia na forma da Terceirização.
Ora, a terceirização é um paliativo que escamoteia e perpetua o problema (o
alto custo do emprego). Agora, trabalha pelo trâmite de uma Reforma Trabalhista,
mas em meio a um Congresso sob suspeição na esteira da Lava Jato e sem dispor,
ele próprio, governo, de capital moral para a empreitada. Difícil imaginar que,
neste contexto, as reformas em curso possam dar frutos duradouros, embora essa continue a ser a
torcida.
Retomemos
o fio condutor. A França, pujante, rica, foi aquela do livre mercado. Isso é opinião, sem dúvida, mas com alguma base
objetiva. O intervencionismo travou a sua prosperidade. Um modelo que se
propagou com a social-democracia europeia do Século XX, espraiando-se pelas Américas.
Curiosamente,
na França de hoje, o ativismo estatal, de certo modo, aninha-se na direita
radical nacionalista, com o apoio quase irrestrito do eleitor da esquerda
outrora também mais radical. São os paradoxos do espectro ideológico.
Com os
dois partidos mais tradicionais fora do baralho - sinal de que o Velho Mundo busca
alternativa programática, ainda que reprocessando opções como Le Pen -, não se
pode ter certeza se Emmanuel Macron é a melhor escolha. Mas a seu favor conta a
percepção de que nada pode ser pior do que o radicalismo.
Hillary
Clinton não era certamente uma candidata inspiradora. Mas contra Trump, ele
também um nacionalista que, a exemplo da esquerda latino-americana, se opõe ao
livre comércio e à globalização, nada aparentava ser pior...
As eleições de 2018 estão logo aí. Na confusão
de rótulos e conteúdos, o eleitor brasileiro, massacrado pelas frustrações com
a classe política e com uma democracia representativa que não o representa,
deverá ter cuidado para não sucumbir aos apelos dos salvacionistas, sempre
radicais - e sempre sedutores nos momentos de crise.
Por Nilson Mello
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