Piketty e o nosso capitalismo de Estado
As
sociedades muito desiguais são intrinsecamente instáveis, afirma Thomas
Piketty, o economista francês diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências
Sociais (EHESS) de Paris e autor do célebre O
Capital do Século XXI. A concentração muito forte de capital, fator gerador
das desigualdades, teria também, acrescenta ele, "consequências negativas
em termos de eficiência econômica", além da injustiça social.
A
ineficiência econômica é um dos fatores que comprometem o desenvolvimento no
Brasil de hoje e contribuem para a manutenção das distorções sociais. Mas isso
é apenas parte do problema.
A
concentração do capital decorre da preponderância do sistema financeiro sobre o
sistema produtivo. Ganha mais, com muito menor esforço, aquele que dispõe de recursos
financeiros para reaplicar do que aquele que vive de sua produção, do esforço
de seu trabalho.
Piketty é incensado não por ter desvendado a lógica injusta
de um modelo dependente do fator financeiro - pois muitos teóricos já o faziam,
mesmo entre economistas liberais, como Lawrence Summers -, mas por ter dado
robustez estatística e, com isso, argumentos mais palatáveis para uma crítica
consistente ao sistema. Popularizou a crítica, angariando simpatizantes dentro
do próprio sistema.
Vejamos:
os avanços produtivos do planeta se situam na ordem de 1,5% a 2% ao ano, enquanto
as aplicações financeiras dos que possuem capital acumulado aumentam numa ordem
superior a 5%, significando que parte crescente do que a sociedade produz passa
para a propriedade dos detentores de capital, como ressalta Ladislau Dowbor,
economista da PUC-SP e consultor da ONU.
A
ciranda financeira faz também com que apenas 147 grupos empresariais detenham
40% do capital corporativo mundial, "sendo três quartos deles bancos",
lembra Dowbor, ou seja, intermediários financeiros e não empresas dos setores
produtivos - fábricas, empreendimentos
agrícolas, instalações portuárias, construção civil etc.
Ocorre
que a perversidade - se podemos assim chamar - não caminha sozinha. Ela depende
da grande demanda por aquilo que o sistema negocia, "vende" - ou
empresta, se preferirmos: os recursos financeiros. Quem toma recursos ao
sistema pagará um preço tão mais alto quanto mais numerosos e gulosos forem os
tomadores desses empréstimos. Em outras palavras, bancos só cobram justos muito
altos - o que aprofunda a acumulação do capital e, por consequência, as ineficiências
e desigualdades - porque há agentes dispostos a pagar o preço.
Os
maiores tomadores de recursos dos bancos são os governos, na verdade, os
governos irresponsáveis. Isso mostra o quanto o equilíbrio fiscal é importante.
E também o quanto é indispensável um ajuste - por mais doloroso que possa ser -
quando o ativismo estatal, de viés socialista, negligenciou o equilíbrio.
Por Nilson Mello
Socialismo - O bloco socialista ruiu porque seu modelo econômico não era auto-sustentável, por ineficiente. Isso foi esquecido? Não há desenvolvimento sem um sistema financeiro robusto. Bancos são uma necessidade.
Socialismo - O bloco socialista ruiu porque seu modelo econômico não era auto-sustentável, por ineficiente. Isso foi esquecido? Não há desenvolvimento sem um sistema financeiro robusto. Bancos são uma necessidade.
Regulação - Muito mais
importante do que a regulação é a responsabilidade dos governos.
Capitalismo de Estado - Indaga
Veríssimo, em seu artigo desta quinta-feira na grande imprensa, em crítica ao
livre mercado: "O que estamos vendo nesta meleca toda, empreiteiras
formando cartéis para participar de licitações combinadas e comprando favores e
contratos corruptos com propinas milionárias, se não uma espécie de apoteose
feérica do capitalismo de compadres em ação?" O liberalismo, por óbvio, não defende o
capitalismo de Estado, que seria a sua própria negação. O capitalismo de Estado, oude compadrio, é parido pelo ativismo
estatal, de viés socialista, que elege favoritos, minando a competição e a
eficiência. A propósito, não foi Luiz Inácio Lula da Silva quem criou os "campeões mundiais", os grupos empresariais brasileiros que teriam
tratamento privilegiado do Estado? Deu no que deu!
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