sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Artigo


Joaquim e o custo do emprego
Ministro Pepe Vargas promote defender interesses do governo


     A necessidade de retomar o equilíbrio fiscal, após o desmanche nas contas públicas operado no primeiro mandato de Dilma Rousseff, é tão urgente que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, começa a pensar em atalhos para alcançar o objetivo. 
Comenta-se que a nova equipe econômica deparou-se com um quadro ainda mais deteriorado do que supunha e vem se surpreendendo diariamente com as arrojadas manobras feitas pelo governo nos últimos anos.
As “pedaladas” contribuíram para derrubar a credibilidade da política fiscal, atingiram os bancos oficiais e agora estão sob a mira do TCU. 
Descobriu-se recentemente (jornal O Estado de S. Paulo) que, na alquimia da “maquiagem”, o Tesouro engordava o caixa de forma fictícia retendo repasses obrigatórios aos bancos federais, em especial à Caixa, o que os impedia de fazer frente a programas como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Uma ilegalidade grosseira gerando distorções em cadeia.
Muito bem, como nada nas contas públicas era exatamente o que parecia ser e, tendo em vista que o crescimento da economia este ano (previsão de 0,4% de avanço do PIB) será igualmente medíocre, por força de uma condução macroeconômica desastrada, o que elimina a possibilidade de aumento natural da arrecadação, era esperado que houvesse elevação de tributação para tapar os rombos.
 Antes mesmo da posse se falava numa reativação da Cide, a contribuição que incide sobre os combustíveis (ver artigo de 17 de novembro neste Blog acessando a Pesquisa na barra lateral à direita), assim como o fim de uma série de desonerações, sobretudo de IPI.
Mas eis que Joaquim Levy – talvez assustado com a realidade com a qual se deparou – acenou esta semana com a possibilidade de aumentar a tributação sobre os prestadores de serviços, assinalando que muitos atuam como pessoas jurídicas, mas são, na verdade, empregados disfarçados.
“Há uma discrepância entre os assalariados com carteira assinada, que recolhem IR com alíquotas de 7% a 27,5%, e parte dos prestadores de serviços que atuam como pessoas jurídicas e pagam cerca de 4%”, afirmou, acrescentando que pretende encaminhar ao Congresso um projeto de lei ainda este ano aumentando o IR deste segmento.
Não é bem assim: pessoas jurídicas do setor de serviços chegam a pagar mais de 16% de IR, mesmo aquelas que se enquadram no regime “diferenciado” do Supersimples. Além disso, um aumento poderá até eliminar os assalariados disfarçados de empresários, como pretende o ministro da Fazenda, mas punirá as verdadeiras empresas de serviços, já apertadas pela sanha arrecadadora do Estado. Mais uma distorção?
De qualquer forma, o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, se alinhou com a proposta da Fazenda e, como bom soldado, avisou que “defenderá os interesses do governo no Congresso” fazendo aprovar o projeto. Não são os interesses da sociedade que deveriam ser defendidos?
Compreende-se a angústia de Joaquim Levy. Mas o foco da discussão tem que ser alterado. Uma economia que enfrenta (o verbo não pode ser outro) uma carga tributária superior a 36% do PIB não deve suportar mais tributação, sobretudo num momento em que tenta se recuperar. A reativação da Cide e o fim das desonerações até se admite, diante do quadro emergencial, mas aumento linear de impostos sobre um segmento só tende a gerar mais informalidade e evasão.
Espera-se o dia em que um governo corajoso trocará medidas imediatistas por uma reforma ampla que não apenas reduza a carga tributária como garanta racionalidade ao sistema. Diminuir a incidência de tributos sobre a produção e o consumo e simplificar normas parecem ser mudanças óbvias - estímulos sustentáveis à atividade econômica, em círculo virtuoso.
Outra medida indispensável seria tornar o emprego mais barato via redução significativa dos encargos que incidem sobre a folha. O custo do salário não pode continuar a ser mais de 100% de seu valor, como ocorre hoje. Embora saibamos que nenhum governo populista tomará tal iniciativa, não custa apontar o caminho, ao menos para enriquecer o debate. 
Dados da Receita Federal, com base nas declarações de renda de 2010, revelam, segundo o especialista José Paulo Kupfer, que o Brasil se tornou uma nação de “empresários” uma vez que sócios de pessoas jurídicas e autônomos somam 31% mais do que os assalariados no setor privado. Distorção que decorre do alto custo do emprego. Trata-se de uma questão de sobrevivência tanto para o empregador quanto para o empregado.
Vamos enfrentar o problema, ministro, ou o deixaremos para um próximo governo?
 Por Nilson Mello

Um comentário:

  1. Nilson, o mercado de trabalho, antes estruturado nas relações de emprego – por toda uma vida e na mesma empresa–- vem dando lugar a escolhas. Contribuíram a automação, com a expulsória do homem/ mulher, e o aumento da expectativa de vida, adiando a saída do mercado do profissional e muitos migraram para serviços, para a Consultoria. Ninguém mais quer ser babá de neto, jogar dominó, deixar a vida me levar, ser a Carolina... Há muito de dignidade para todos aos cinquenta anos.
    Homens e mulheres experientes e jovens ingressam na consultoria porque preferem uma atividade que lhes garanta independência, desafios e compensação proporcional aos resultados e ao mérito de seu trabalho.
    Mais alguns dados do Perfil da Consultoria no Brasil-outubro 2014:
    90,6% dos consultores classificam suas empresas de consultoria como de pequeno porte, e permanece( comparando com a de 2011) entorno de 80% as com até 5 consultores.
    2015: a expectativa, para aproximadamente 77% dos consultores, é que o faturamento crescerá em relação a 2014. O crescimento esperado se dará pelo setor de serviços, secundado pelos setores da indústria e do comércio, enquanto que será de forma conservadora no setor público.
    Mulheres: a participação das mulheres na Consultoria pulou de 32% (2011)para 35,7% em 3,7 p.p. nesses três anos.
    Faixa etária, cerca de 47% mulheres e 57% homens tinham menos de 40 anos em 2011; já em 2014, 78,3% dos consultores têm menos de 45 anos.
    Solução que caiu do céu. Não há dedo do governo e agora querem punir com mais impostos os que teimam em não morrer cedo profissionalmente?
    Luiz Affonso Romano
    Consultor organizacional há 45 anos, sem tédio e prazo de validade.

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