sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Artigo

                                                            Platão

A democracia das massas

    Outra eleição terminada no que se convencionou chamar uma das “maiores democracias do planeta” - a maior certamente do hemisfério Sul. Em números ao menos a propaganda ufanista está correta. Mais de 138 milhões de eleitores estavam aptos a votar este ano no Brasil para escolher os governantes de 5.568 municípios. Foram 15,6 mil candidatos a prefeito e 449 mil a vereador.
O país - reconheça-se - organiza um pleito de massa de forma pacífica e com tecnologia de ponta não empregada nem nos Estados Unidos, onde alguns votos da eleição presidencial desta última terça-feira ainda estão sendo contados manualmente, embora o resultado final, e irreversível, já seja conhecido.
O ufanismo – esse vício nacional – também pode alardear que, enquanto nos Estados Unidos ainda se vota com cédula de papel, aqui já inauguramos a era da biometria, o que garante maior precisão estatística e menor risco de fraudes. Quase 300 mil municípios em 24 estados usaram o sistema de reconhecimento digital nessas eleições municipais para identificar 7,8 milhões de eleitores.
De números que embalam o entusiasmo para a transcendência de ideias que nos lançam na realidade concreta. O desafio da democracia brasileira, assim como o de qualquer outra, não é de quantidade, mas de qualidade. Ou melhor, de quantidade conjugada com qualidade. O problema que se impõe, aqui, como na China e nos cantões suíços, é de como produzir governantes e classe política qualificados.
Todavia, e isso é óbvio, o desafio é maior se consideramos que hoje, cada vez mais, a escolha cabe às massas. Maior ainda quando (e aqui, deixemos o ufanismo de lado), reconhecemos que o eleitor brasileiro, em sua esmagadora maioria, tem baixa escolaridade e, talvez por conseqüência, reduzido senso de urbanidade e civilidade, baixo compromisso com o dever, pouco rigor no compromisso das tarefas, entre outras, digamos, mazelas. Essas características são os parâmetros que se refletem nos dirigentes eleitos. Eles são o que somos!
O bem é para onde tendem todas as coisas, diria Aristóteles. Desde, é claro, que as causas finais estejam fundadas na ética. E pode haver fundamento ético sem educação? A preocupação com a qualificação dos governantes já dominava os pensadores da Grécia, berço da democracia, séculos antes de nossa era. Por volta do ano 367 a.C., Platão tentou moldar o caráter de Dionísio II, jovem rei tirano da província de Siracusa, na Cecília.
Platão queria testar sua teoria, a de que uma educação científica consistente poderia transformar um governante num estadista esclarecido. Anos mais tarde, o próprio Aristóteles, discípulo de Platão, viria a ser tutor de Alexandre, o Grande, da Macedônia. O sucesso de ambos os mestres foi relativo. Suas missões teriam sido certamente facilitadas se os governantes a serem “moldados” fossem da própria Atenas, onde somente uma elite (social, mas, sobretudo, intelectual), participava do poder.
Não se trata aqui de propor o restabelecimento de um dualismo social como o que prevalecia na Grécia clássica, dividindo seres superiores e inferiores, e justificando até a escravidão. Liberdade e bem estar material são e devem ser conquistas universais da humanidade. Mas isso não nos impede de refletir sobre como uma democracia das massas pode ser efetiva na concretização desses ideais se não tem a educação como o seu principal pressuposto.
Nesse contexto, uma questão específica salta aos olhos: num universo de milhões de eleitores de escassa educação é razoável impor o voto obrigatório, ou isso equivale a criar uma massa de manobra sujeita às piores práticas políticas, como o assistencialismo e o clientelismo? Se a resposta objetiva for negativa, quem pode ajudar a mudar o quadro é a classe política eleita.  
Há interesse para tanto?

Por Nilson Mello


           Comentários do dia

Vencedores em 2012 – Este Blog recebeu severas críticas nos últimos dias pelo artigo do último dia 1º, que apontou Lula e o PT como os maiores vencedores do pleito municipal. Nas críticas, o que sobressaía era que o PSDB, principal partido de oposição, teria obtido o mesmo número de prefeituras de capitais (03) que o PT no segundo turno. Bem, os tucanos ficaram com Manaus, Teresina e Belém. O PT, com São Paulo e mais João Pessoa e Rio Branco. Quem venceu?

Joaquim Barbosa – O reiterado destempero do ministro Joaquim Barbosa desanima aqueles que têm apoiado um julgamento exemplar para todos os envolvidos no mensalão, o esquema montado pelo PT para comprar congressistas. A conduta é incompatível com a serenidade que deve guiar qualquer magistrado, sobretudo um ministro do Supremo.

Royalties – O Rio de Janeiro tem todo o direito de lutar pela manutenção dos royalties do petróleo, uma vez que tem o ônus da exploração. Mas a imprensa poderia aproveitar e fazer um raio-x da questão, mostrando, em detalhes, como é gasta essa dinheirama no Estado do Rio e em seus municípios. Há cidades contempladas com royalties que sequer contam com hospital público. Esses bilhões há anos vêm sendo desviados, em detrimento da população. O ralo sem fundo faz a festa dos políticos e governantes ora injuriados com o fim da festa.




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