A democracia das
massas
Outra
eleição terminada no que se convencionou chamar uma das “maiores democracias do
planeta” - a maior certamente do hemisfério Sul. Em números ao menos a
propaganda ufanista está correta. Mais de 138 milhões de eleitores estavam aptos
a votar este ano no Brasil para escolher os governantes de 5.568 municípios.
Foram 15,6 mil candidatos a prefeito e 449 mil a
vereador.
O país - reconheça-se -
organiza um pleito de massa de forma pacífica e com tecnologia de ponta não
empregada nem nos Estados Unidos, onde alguns votos da eleição presidencial
desta última terça-feira ainda estão sendo contados manualmente, embora o
resultado final, e irreversível, já seja conhecido.
O ufanismo – esse vício
nacional – também pode alardear que, enquanto nos Estados Unidos ainda se vota
com cédula de papel, aqui já inauguramos a era da biometria, o que garante maior
precisão estatística e menor risco de fraudes. Quase 300 mil municípios em 24
estados usaram o sistema de reconhecimento digital nessas eleições municipais
para identificar 7,8 milhões de eleitores.
De números que embalam o
entusiasmo para a transcendência de ideias que nos lançam na realidade concreta.
O desafio da democracia brasileira, assim como o de qualquer outra, não é de
quantidade, mas de qualidade. Ou melhor, de quantidade conjugada com qualidade.
O problema que se impõe, aqui, como na China e nos cantões suíços, é de como
produzir governantes e classe política qualificados.
Todavia, e isso é óbvio, o
desafio é maior se consideramos que hoje, cada vez mais, a escolha cabe às
massas. Maior ainda quando (e aqui, deixemos o ufanismo de lado), reconhecemos
que o eleitor brasileiro, em sua esmagadora maioria, tem baixa escolaridade e,
talvez por conseqüência, reduzido senso de urbanidade e civilidade, baixo
compromisso com o dever, pouco rigor no compromisso das tarefas, entre outras,
digamos, mazelas. Essas características são os parâmetros que se refletem nos
dirigentes eleitos. Eles são o que somos!
O bem é para onde tendem
todas as coisas, diria Aristóteles. Desde, é claro, que as causas finais estejam
fundadas na ética. E pode haver fundamento ético sem educação? A preocupação com
a qualificação dos governantes já dominava os pensadores da Grécia, berço da
democracia, séculos antes de nossa era. Por volta do ano 367 a.C., Platão tentou
moldar o caráter de Dionísio II, jovem rei tirano da província de Siracusa, na
Cecília.
Platão queria testar sua
teoria, a de que uma educação científica consistente poderia transformar um
governante num estadista esclarecido. Anos mais tarde, o próprio Aristóteles,
discípulo de Platão, viria a ser tutor de Alexandre, o Grande, da Macedônia. O
sucesso de ambos os mestres foi relativo. Suas missões teriam sido certamente
facilitadas se os governantes a serem “moldados” fossem da própria Atenas, onde
somente uma elite (social, mas, sobretudo, intelectual), participava do
poder.
Não se trata aqui de propor
o restabelecimento de um dualismo social como o que prevalecia na Grécia
clássica, dividindo seres superiores e inferiores, e justificando até a
escravidão. Liberdade e bem estar material são e devem ser conquistas universais
da humanidade. Mas isso não nos impede de refletir sobre como uma democracia das
massas pode ser efetiva na concretização desses ideais se não tem a educação
como o seu principal pressuposto.
Nesse contexto, uma questão
específica salta aos olhos: num universo de milhões de eleitores de escassa
educação é razoável impor o voto obrigatório, ou isso equivale a criar uma massa
de manobra sujeita às piores práticas políticas, como o assistencialismo e o
clientelismo? Se a resposta objetiva for negativa, quem pode ajudar a mudar o
quadro é a classe política eleita.
Há interesse para
tanto?
Por
Nilson Mello
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do dia
Vencedores
em 2012 – Este Blog recebeu severas
críticas nos últimos dias pelo artigo do último dia 1º, que apontou Lula e o PT
como os maiores vencedores do pleito municipal. Nas críticas, o que sobressaía
era que o PSDB, principal partido de oposição, teria obtido o mesmo número de
prefeituras de capitais (03) que o PT no segundo turno. Bem, os tucanos ficaram
com Manaus, Teresina e Belém. O PT, com São Paulo e mais João Pessoa e Rio
Branco. Quem venceu?
Joaquim
Barbosa – O reiterado destempero do ministro Joaquim
Barbosa desanima aqueles que têm apoiado um julgamento exemplar para todos os
envolvidos no mensalão, o esquema montado pelo PT para comprar congressistas. A
conduta é incompatível com a serenidade que deve guiar qualquer magistrado,
sobretudo um ministro do Supremo.
Royalties
– O Rio de Janeiro tem todo o
direito de lutar pela manutenção dos royalties do petróleo, uma vez que tem o
ônus da exploração. Mas a imprensa poderia aproveitar e fazer um raio-x da
questão, mostrando, em detalhes, como é gasta essa dinheirama no Estado do Rio e
em seus municípios. Há cidades contempladas com royalties que sequer contam com
hospital público. Esses bilhões há anos vêm sendo desviados, em detrimento da
população. O ralo sem fundo faz a festa dos políticos e governantes ora
injuriados com o fim da festa.
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