Quando vemos os
descaminhos das democracias contemporâneas, minadas por “doenças” como
assistencialismo, clientelismo e a consequente corrupção, nos perguntamos se
essa é mesmo a melhor forma de governo, sobretudo para países em que o sistema
educacional ainda não foi capaz de garantir a devida qualificação do eleitor.
Mas essa não é uma questão nova, nem exclusivamente brasileira.
Milênios atrás Aristóteles
alertava para os riscos de a democracia se degenerar em demagogia ou olacracia.
Se a maioria é menos preparada e é ela que governa, ainda que de forma indireta
pelos representantes do povo, o resultado é presumível. Eis porque altos
índices de aprovação não deveriam impressionar tanto. Pelo menos não deveriam
impressionar à minoria que pensa.
Tudo seria facilmente
resolvido se a minoria no poder (o governo de poucos ou aristocracia) levasse a
missão a sério, qualificando a maioria. Mas não há qualquer garantia – ao
contrário – de que os poucos, quando no poder, governarão pensando no interesse
de todos. A propósito, Aristóteles dizia também que não raro a aristocracia
degenera-se assumindo a forma impura da oligarquia (e aí é curioso notar que no
Brasil é a democracia que se traveste em oligarquia).
Ainda assim, não
foram poucos os pensadores de boa cepa que procuraram estruturar modelos
institucionais que mitigassem a democracia, fazendo com que poucos
concentrassem o poder soberano da decisão, em nome da eficácia das ações do
Estado. O sincero Hobbes e o ainda mais sincero Maquiavel estão nesse rol.
No século XX o grupo
teve um representante de destaque com Carl Schmitt, jurista e filósofo político
alemão para quem toda Constituição “democrática” deveria ter um “guardião” com
competência para decretar a exceção. Talvez ninguém tenha justificado o papel
do ditador com mais sofisticação do que Schmitt, o que acabou sendo trágico,
pois suas ideias fortaleceram o III Reich. E aqui um paradoxo: um povo dos mais
ilustrados se transformou em massa de manobra.
Considerando prós e contras
dessas variáveis, um estadista do século passado lúcido e de espírito muito
prático cunhou uma expressão que permanece vigorosa: “a democracia é
imperfeita, mas ninguém inventou regime melhor”. A máxima é insofismável, mas não devemos nos
contentar com ela. Pois o cão continua correndo atrás do rabo.
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