O sinuoso Elevado da Perimetral desafoga o trânsito, mas será demolido por questões estéticas
Esses nossos prefeitos...
Acho
que nas outras capitais brasileiras, pelo que vejo em minhas rápidas viagens,
acontece o mesmo que no Rio de Janeiro, ou algo parecido. Há muito empenho para
colocar em andamento projetos vultosos e pouca ou nenhuma atenção à manutenção
com o que já existe, funciona e custou dinheiro (muito dinheiro) do
contribuinte.
Aliás,
o paralelo pode ser feito também com a esfera federal. Projeto faraônico sai do
papel, mas o que é simples e rápido, não. Exemplo raso: havia um Trem de Prata
que funcionava muito bem entre Rio e São Paulo e foi extinto. Os trilhos – ou
parte deles - ficaram, mas o transporte foi abandonado por falta de visão
estratégica.
Agora a tecnocracia
decidiu que o transporte de passageiros sobre trilhos entre as duas maiores
capitais brasileiras terá que ser feito com a implantação de um Trem-Bala. Para
colocar de volta o Trem de Prata em operação bastaria recuperar o traçado ou
retificá-lo onde estivesse mais degradado devido à omissão das autoridades; e
comprar locomotivas e vagões convencionais, tudo bem mais barato.
Já o
Trem-Bala tem custo inicial previsto de R$ 33 bilhões, mas todo mundo sabe que
vai sair por muito mais, porque é assim que funciona o concluio entre Poder Público
e setor privado no modelo cartorial brasileiro, em que poucos grupos prevalecem
sobre o interesse da coletividade. Aqui o governo pode até ser de esquerda e o
sistema, formalmente capitalista, mas o que vale mesmo é o velho
patrimonialismo, independentemente de ideologias. É aquela velha história: para
que gastar pouco, se pode se gastar muito?
Projeto
barato não sai das gavetas dos Ministérios, não ganha concorrência. O modelo não privilegia a competitividade e está longe de ser de fato um capitalismo de mercado porque não promove a eficiência e a qualidade.
Voltemos ao Rio de Janeiro. Um dos principais viadutos da cidade, o Elevado do Joá, está caindo (literalmente) aos pedaços por absoluta falta de manutenção. Túneis e outras vias expressas estão na mesma situação. Especialistas dizem que a degradação no Joá chegou a tal ponto que seria preciso reconstruir a via, para evitar o seu colapso.
Voltemos ao Rio de Janeiro. Um dos principais viadutos da cidade, o Elevado do Joá, está caindo (literalmente) aos pedaços por absoluta falta de manutenção. Túneis e outras vias expressas estão na mesma situação. Especialistas dizem que a degradação no Joá chegou a tal ponto que seria preciso reconstruir a via, para evitar o seu colapso.
Enquanto
isso, a mesma administração que se revela omissa em relação à manutenção das
vias públicas, elabora um projeto faraônico para “revitalizar” a Zona Portuária
da cidade, ao custo de mais de R$ 7 bilhões. Ironia: o projeto de
“revitalização” prevê a demolição de outro elevado, o da Perimetral, via expressa
de 7,5 km vital para a ligação entre o Centro e os subúrbios cariocas e por onde
passam mais de 45 mil veículos por dia.
Cálculos de especialistas (*) mostram que as
vias que substituirão o eficiente Elevado da Perimetral não darão vazão sequer
para a demanda de tráfego atual, sem considerar o inexorável aumento do fluxo
dos veículos em função da prórpria revitalização da área. Onde está a lógica
dessas obras, eu não sei. Mas o carioca, que reelegeu o prefeito com
votação recorde, deve saber.
“Governar é
abrir estradas” era o lema do governo do presidente Washinton Luís. Não seria
exagero dizer que, para o prefeito carioca, governar é colocar elevados
abaixo. E ele tem duas formas de fazer isso: pela omissão e pela ação direta,
nesse caso, com o apoio efetivo de empreiteiras.
Por Nilson Mello*
*Sobre esses cálculos, ler comentários publicados neste Blog em 06/07, com informações do consultor em Transportes Marcos Poggi.
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