quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Artigo

                                                       Lula e FHC 

A verdade dos fatos

A foto do aperto de mãos entre o atual prefeito e o prefeito eleito de São Paulo estampada nos principais jornais de ontem (quarta-feira 31) é emblemática e diz muito mais que o texto que ela encima. A leitura gestual nos mostra claramente que não foi um cumprimento meramente protocolar, de passagem de bastões entre o que chega e o que está saindo.
Numa eleição que teve como marca o hibridismo e a ambiguidade (artigo de 19/10 deste Blog), e cujo ponto de partida foi um efusivo encontro de Lula e Maluf em torno do próprio Haddad, selando uma aliança antes inimaginável, o desfecho até que está dentro de um script bastante previsível. Até porque, o que poderá mais surpreender na volatilidade política brasileira?
Falta de consistência programática pode até não ser um problema em si, mas tem um desdobramento preocupante. Sem programas, projetos e ideias, oposições passam a ser prescindíveis ou dependerão, cada vez mais, de lideranças carismáticas. Lideranças que, por sinal, não existem. Democracia sem oposição é um contra-senso. E democracia que orbita personagem carismático acaba sendo um arremedo de democracia. Mas já há quem ache que democracia nem é tão necessário assim.
Muito bem, o principal aliado e suporte de governo da administração petista de Fernando Haddad poderá ser o PSD do atual prefeito Gilberto Kassab. O mesmo partido que era governo e que, durante a campanha, foi duramente criticado pelo candidato ora eleito. O PSD e essa administração que chega ao fim arrastando alto índice de desaprovação tinham como candidato próprio justamente o maior adversário do PT.
Pode-se atribuir a derrota de José Serra à sua grande rejeição (mais de 50%) junto ao eleitorado paulistano conjugada à avaliação ruim da administração Kassab. Isso, porém, já não importa. O que importa é saber que Serra é o grande derrotado das eleições de 2012. E que, ainda que ingresse no PSD, como chegou a insinuar, por perceber o desgaste no PSDB com suas sucessivas derrotas, dificilmente voltará a ter o protagonismo de antes. Sobretudo num partido que tende a ser cada vez mais aliado do governo federal. Como é difícil imaginar Serra em posição secundária e dócil ao PT, e o PSD, como oposição de fato, o projeto não tem o menor risco de dar certo. Por sua vez, a permanência de José Serra no PSDB poderia significar a transferência do senador Aécio Neves para outra legenda, com o intuito de se lançar candidato a presidente.
Mas para onde iria? PMDB? Difícil imaginar que o PMDB queira abrir mão da cômoda posição de aliado de plantão para se arriscar numa candidatura própria. Além do mais, hoje já é até difícil imaginar que Aécio Neves queira mesmo se candidatar à Presidência da República. Com Serra, Aécio e o governador Geraldo Alkmin, nada mudará no PSDB: nem os “protagonismos”, nem as ideias.
De qualquer forma, se Kassab e seu PSD ganhará espaço no cenário nacional, governando cidades - incluindo uma capital - que totalizam 12 milhões de pessoas, será no papel de força auxiliar. Já o PSB do governador Eduardo Campos, que conquistou o maior número de capitais (5) e ACM administrará cidades que totalizam mais de 20 milhões de habitantes, consolida-se como força emergente. Como é da base do governo, isso significa que o maior adversário do PT nas eleições presidenciais de 2014 provavelmente não virá da oposição de fato.
O contexto não deixa dúvidas de quem foi o verdadeiro vitorioso em 2012. Governando cidades que totalizam 37 milhões de pessoas, e entre elas a maior capital do país, o PT saiu mais forte das urnas – sobretudo se considerado que outros vencedores, como PSB, PMDB e agora o PSD são seus aliados. O ex-presidente Lula, ao escolher um azarão que sairia vencedor em São Paulo, confirmou sua acuidade política e o seu prestígio. O PT deve a ele a sua vitória.
Análises tortuosas, publicadas diariamente na imprensa, têm ido em sentido contrário ao das conclusões acima. Mas, em análise conjuntural, não devemos confundir a realidade dos fatos com os fatos que idealizamos. Ou alguém acha que a vitória de ACM Neto (DEM) em Salvador foi uma grande conquista da oposição?

Por Nilson Mello

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