Lula e FHC
A verdade
dos fatos
A foto do aperto de mãos
entre o atual prefeito e o prefeito eleito de São Paulo estampada nos principais
jornais de ontem (quarta-feira 31) é emblemática e diz muito mais que o texto
que ela encima. A leitura gestual nos mostra claramente que não foi um
cumprimento meramente protocolar, de passagem de bastões entre o que chega e o
que está saindo.
Numa eleição que teve como
marca o hibridismo e a ambiguidade (artigo de 19/10 deste Blog), e cujo ponto de
partida foi um efusivo encontro de Lula e Maluf em torno do próprio Haddad,
selando uma aliança antes inimaginável, o desfecho até que está dentro de um
script bastante previsível. Até
porque, o que poderá mais surpreender na volatilidade política brasileira?
Falta de consistência
programática pode até não ser um problema em si, mas tem um desdobramento
preocupante. Sem programas, projetos e ideias, oposições passam a ser
prescindíveis ou dependerão, cada vez mais, de lideranças carismáticas.
Lideranças que, por sinal, não existem. Democracia sem oposição é um
contra-senso. E democracia que orbita personagem carismático acaba sendo um
arremedo de democracia. Mas já há quem ache que democracia nem é tão necessário
assim.
Muito bem, o principal
aliado e suporte de governo da administração petista de Fernando Haddad poderá
ser o PSD do atual prefeito Gilberto Kassab. O mesmo partido que era governo e
que, durante a campanha, foi duramente criticado pelo candidato ora eleito. O
PSD e essa administração que chega ao fim arrastando alto índice de desaprovação
tinham como candidato próprio justamente o maior adversário do PT.
Pode-se atribuir a derrota
de José Serra à sua grande rejeição (mais de 50%) junto ao eleitorado paulistano
conjugada à avaliação ruim da administração Kassab. Isso, porém, já não importa.
O que importa é saber que Serra é o grande derrotado das eleições de 2012. E
que, ainda que ingresse no PSD, como chegou a insinuar, por perceber o desgaste
no PSDB com suas sucessivas derrotas, dificilmente voltará a ter o protagonismo
de antes. Sobretudo num partido que tende a ser cada vez mais aliado do governo
federal. Como é difícil imaginar Serra em posição secundária e dócil ao PT, e o
PSD, como oposição de fato, o projeto não tem o menor risco de dar certo. Por
sua vez, a permanência de José Serra no PSDB poderia significar a transferência
do senador Aécio Neves para outra legenda, com o intuito de se lançar candidato
a presidente.
Mas para onde iria? PMDB?
Difícil imaginar que o PMDB queira abrir mão da cômoda posição de aliado de
plantão para se arriscar numa candidatura própria. Além do mais, hoje já é até
difícil imaginar que Aécio Neves queira mesmo se candidatar à Presidência da
República. Com Serra, Aécio e o governador Geraldo Alkmin, nada mudará no PSDB:
nem os “protagonismos”, nem as ideias.
De qualquer forma, se Kassab
e seu PSD ganhará espaço no cenário nacional, governando cidades - incluindo uma
capital - que totalizam 12 milhões de pessoas, será no papel de força auxiliar.
Já o PSB do governador Eduardo Campos, que conquistou o maior número de capitais
(5) e ACM administrará cidades que totalizam mais de 20 milhões de habitantes,
consolida-se como força emergente. Como é da base do governo, isso significa que
o maior adversário do PT nas eleições presidenciais de 2014 provavelmente não
virá da oposição de fato.
O contexto não deixa dúvidas
de quem foi o verdadeiro vitorioso em 2012. Governando cidades que totalizam 37
milhões de pessoas, e entre elas a maior capital do país, o PT saiu mais forte
das urnas – sobretudo se considerado que outros vencedores, como PSB, PMDB e
agora o PSD são seus aliados. O ex-presidente Lula, ao escolher um azarão que
sairia vencedor em São Paulo, confirmou sua acuidade política e o seu prestígio.
O PT deve a ele a sua vitória.
Análises tortuosas,
publicadas diariamente na imprensa, têm ido em sentido contrário ao das
conclusões acima. Mas, em análise conjuntural, não devemos confundir a realidade
dos fatos com os fatos que idealizamos. Ou alguém acha que a vitória de ACM Neto
(DEM) em Salvador foi uma grande conquista da
oposição?
Por Nilson
Mello
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