A busca da competitividade
Este Blog faz uma pausa dos temas políticos para falar de economia. No decorrer de dois anos, governo e lideranças empresariais manifestaram preocupação com os efeitos do persistente recuo da cotação do dólar sobre o setor exportador brasileiro. Em fevereiro passado, o dólar acumulava queda de 9,10% ao ano, expondo ainda mais a falta de competitividade de nossas empresas e obrigando o governo a adotar medidas para tentar conter a desvalorização da divisa americana.
Eis que agora, contudo, a renitente crise financeira europeia leva investidores em todo o mundo a se proteger do risco comprando dólar, o que tem provocado a sua rápida valorização em todos os mercados.
Como assistimos no decorrer de todo o mês de maio, essa inversão de movimentos empurrou o governo para uma posição ambígua, embora compreensível. Ao mesmo tempo em que ainda não desarmou as medidas que visavam a inibir a queda da moeda americana, em especial a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o Brasil foi obrigado a fazer fortes intervenções no câmbio.
Em menos de uma semana, o Banco Central chegou a vender mais de R$ 4 bilhões das reservas nacionais, para evitar uma desvalorização ainda maior do real frente ao dólar. A previsão da maioria dos analistas é que esse movimento perdure. O “cobertor” não chega a ser curto para cobrir as duas pontas, até porque as reservas são altas, mas a tarefa exige sintonia fina. A questão é saber se, diante da mudança de rumo, convém manter as medidas anteriores.
Se por um lado um dólar muito baixo tira competitividade das empresas nacionais, já severamente afetada por questões estruturais, burocráticas e legais, por outro sabemos que o dólar muito elevado gera fuga de investimentos com efeitos negativos inclusive sobre o controle da inflação.
A estabilidade de preços internos depende em grande parte da entrada de produtos estrangeiros a preços competitivos, o que também estimula ou deveria estimular, indiretamente, a busca de eficiência e produtividade em nossa economia.
Em meio às turbulências no mercado de câmbio, uma conclusão parece óbvia. O Brasil precisa ser competitivo independentemente da cotação do dólar. Até porque, os instrumentos com que o governo conta para compatibilizar sua política econômica com a cotação de divisas estrangeiras são e serão sempre limitados, por maiores que sejam nossas reservas e por mais engenhosas as medidas para-fiscais engendradas no Ministério da Fazenda.
O câmbio depende de fatores externos nem sempre corrigíveis ou passíveis de compensação por mecanismos internos. Mecanismos esses que acabam por gerar outras distorções na economia.
Tudo considerado, passemos então a dedicar mais tempo – e a engenhosidade de nossos competentes tecnocratas – na busca de providências que permitam a nossas empresas alcançar melhores patamares de eficiência e produtividade a fim de concorrer em igualdade de condições com os principais players internacionais.
Centremos nossas baterias nos obstáculos internos, nos entraves estruturais e legais que minam a competitividade de nossas empresas. Concentremo-nos naquilo que só depende de nossa vontade e de nosso empenho. Para que nossas empresas reconquistem mercados precisamos eliminar os altos custos representados por uma infraestrutura logística deficiente, uma tributação excessiva, uma burocracia contraproducente. Precisamos investir fortemente em educação e qualificação de mão de obra.
Um segmento que mereceria especial atenção é o de logística portuária. Sabemos o quanto seria importante ampliar os investimentos em terminais, eliminando gargalos, o que implica, certamente, ajustes nos marcos regulatórios existentes. É esta a realidade que podemos e devemos mudar. Porque, ao contrário da cotação do dólar, depende de fatores e decisões que estão ao nosso alcance, sem interferências ou abalos externos.
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