A prática da reflexão - Em diferentes postagens analisamos a importância dos valores fundamentais na orientação da conduta política (princípios a priori). No artigo da última sexta-feira, a ênfase se deslocou dos princípios orientadores para o exercício da ética com base em recursos empíricos. Hoje, publico (abaixo) comentário de Vera Cristina Andrade Bueno, que traz luz ao debate.
"Depois de ter lido o seu texto, com o qual concordo, pensei o seguinte:
Se 'metafísica' quer dizer algo relacionado a Deus, nem a política, nem a moral têm algo a ver com ela.
Mas, se 'metafísica' quer dizer algo relacionado à nossa racionalidade, então, a moral e a política (creio) têm muito a ver com ela, pois, só seres racionais ocupam-se dessas coisas.
Isso, no entanto, não quer dizer que, por ter seu fundamento na razão, a experiência e os exemplos possam, nesses casos, ser dispensados. Muito pelo contrário, ninguém nasce com a sua razão desenvolvida. E mesmo que consideremos que, desde criança, o ser humano saiba distinguir o certo do errado, como sabe distinguir a mão direita da esquerda, como afirma Kant*, a prática e a reflexão são necessárias.
Acontece que os exemplos que o ser humano tem diante de si, em sua maioria, não condizem com o sentimento (de distinção) proveniente da própria razão e, assim, ele vai deixando de levá-lo em conta (para evitar conflitos).
Com isso, a razão humana, e as suas exigências, além de não ser desenvolvida, é desvirtuada.
Com isso, a razão humana, e as suas exigências, além de não ser desenvolvida, é desvirtuada.
Ainda que a prática e os exemplos sejam necessários, eles não são suficientes para dar fundamento à moral (e à política). É preciso algo mais e esse algo tem a ver com princípios que não são empíricos, mas a priori e, que, nesse sentido, têm a ver com a metafísica.
Creio que o que falta ao ser humano, em sua prática, é reflexão. Sem ela, ele deixa de respeitar o sentimento de justiça e de correção que, a princípio, lhe são próprios como ser racional, e passa a agir injusta e erradamente. Quando isso acontece, as decisões morais e políticas passam a ser pautadas apenas pelos interesses particulares, não por aqueles publicos e universalizáveis e a razão, em vez de ser princípio, é apenas meio para a realização de fins que não são os dela." - Vera Cristina Andrade Bueno
*Cf. Kant, I. Crítica da razão prática. Trad. V. Rohden, São Paulo: Martins Fontes, 2003, pg. 277
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