sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Artigo

As perguntas em torno de Nem


Agora que Nem foi preso, enfrentemos algumas questões, sem hipocrisia.  A primeira delas é saber quem é o destinatário do "comércio e dos serviços prestados” pelo chefe do tráfico da Rocinha e seus comparsas.  
Sim, a conclusão é óbvia. Todo consumidor é indiretamente responsável pela criminalidade no Rio de Janeiro – ainda que more no “asfalto”, frequente boas universidades e nunca tenha subido o morro atrás de “pó” ou mesmo maconha. Não é possível estabelecer dois mundos paralelos, como se não houvesse conexão entre o consumo e a criminalidade que dele se sustenta.
Passemos à segunda questão. Se há na sociedade forte demanda por esse “comércio”, cujo caráter é ilegal, é razoável inferir que o “negócio” não poderia prosperar sem que houvesse muitos “sócios” - ou “sócios” de peso - no Poder Público.
Também é plausível supor, tendo em vista os valores que o “comércio” movimenta e o número de pessoas que mobiliza, que a banda degradada do aparato policial é apenas o braço executivo do esquema de corrupção necessário à sua prosperidade.  
Eis aí então a terceira questão: se a polícia não está no nível hierárquico mais alto do “esquema”, pois sua ação é vinculada a uma decisão política, quem são os sócios do tráfico nas altas esferas do Poder Púbico? Será possível chegar a eles com a prisão deste que era tido como um dos maiores traficantes do país, ou a contaminação chegou a tal ponto que o "esquema" ainda não poderá ser desfeito? 
A quarta questão está relacionada às anteriores, e a sua simples formulação já comprova a eficácia do “esquema”. Na verdade, a resposta é até dispensável, pois a contundência está na própria pergunta: se a cocaína não é produzida no Rio de Janeiro, por que a ênfase do combate ao tráfico se dá nos morros cariocas e não em nossas fronteiras, bem como nos portos, aeroportos e rodovias, por onde, obviamente, passam não somente as drogas como armas em quantidades de fazer inveja a um rebelde líbio?
Por fim, retomemos a questão inicial, para outra formulação. Se o consumo das chamadas drogas ilícitas (em especial a maconha e a cocaína) é tão alto, não seria o caso de investir mais em campanhas de esclarecimento da população, desestimulando o consumo, bem como na recuperação de viciados? A propósito, as drogas ilícitas são mais nocivas do que as chamdas drogas lícitas (álcool e cigarro)? Pois caso não sejam, não seria o caso de liberá-las, dando um golpe definitivo no tráfico, que perderia a razão de ser?
Em suma, a prisão de Antonio Bonfim Lopes, o Nem, nós dá, principalmente, a chance de fazer as perguntas certas para solucionar o problema da violência no Rio de Janeiro. Mas é claro que algumas respostas objetivas o próprio Nem, personificação do conceito de "arquivo vivo", poderá nos fornecer. 

Por Nilson Mello 



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