UPP no Congresso
Em meio às muitas análises sobre a prisão do traficante Nem e a retomada da Rocinha pelo Poder Público, o melhor comentário veio de um zelador, por sinal morador da Favela do Vidigal (também ora pacificada). Disse ele: “falta agora uma UPP no Congresso, porque lá também a Lei não entra”.
A baixa escolaridade (o zelador em questão tem apenas o primeiro grau completo) não comprometeu a perspicácia. O baixo salário (cerca de R$ 1 mil) tampouco o desviou de parâmetros morais. Prova de que a baixa renda não é justificativa para o crime, ao contrário do que se apregoou durante a década de 1980, quando era comum tratar bandido como “vítima social”. Época em que o governador Leonel Brizola proclamava que a “sua” PM não subia o morro.
Nem, após ser preso, ensaiou o discurso de vítima do sistema: declarou ter entrado para o tráfico para custear o tratamento de uma filha acometida por doença rara. O argumento é falacioso. A maioria dos pobres – a maioria dos brasileiros – não adere ao crime. Mas seria igualmente falacioso não admitir que a dificuldade de acesso da população à saúde é vergonhosa.
A prisão de Nem resgata esse debate. E nos permite colocar em discussão também outros aspectos intrigantes. Por exemplo, como um governo que falha em quase tudo que é essencial (saúde, educação, infraestrutura...), como o de Sergio Cabral, pode ter êxito, ainda que parcial, na área de segurança, justamente a mais complexa? E por que foi tudo mais fácil do que parecia?
Retomaremos o tema.
A crise global
Seria simplismo achar que a crise é estritamente do capitalismo. A crise financeira atual é resultado de políticas populistas adotadas por governos pouco ou nada comprometidos com a austeridade e a responsabilidade fiscal. Governos, portanto, distantes dos critérios de eficiência que pautam as relações de mercado, indispensáveis ao modelo capitalista. A crise financeira de 2008 nos Estados Unidos, iniciada com o estouro da bolha imobiliária, e considerada a primeira etapa da crise atual, teve o mesmo ingrediente: a expansão “artificial” de créditos, resultante de políticas irresponsáveis, de impulsos governamentais.
Ressalte-se que as agências hipotecárias Fannie Mae e Feddie Mac, que promoveram a farra hipotecária, são administradas e controladas pelo governo americano.
Os Estados Unidos podem ser a maior nação capitalista do mundo, mas isso não impede seus governantes de adotarem políticas econômicas populistas estranhas às leis de mercado. A economia é, na verdade, refém de políticos afeitos ao estatismo e ao intervencionismo, promotores, por exemplo, de programas de concessão de crédito inconsistentes.
O BC e a inflação
A inflação dá sinais de desaceleração na esteira da queda da atividade econômica. Em parte resultado da crise financeira global. Mantém-se, contudo, ainda em patamares elevados. O Banco Central acertou quando deu início a um ciclo de redução da taxa de juros (dois cortes seguidos de 0,5 ponto percentual), evitando um efeito recessivo desnecessário, ou passou a ter grau de tolerância maior em relação à alta dos preços?
Seja como for, o fato de o discurso do BC e do restante da equipe econômica do governo enaltecer a necessidade de uma política fiscal rigorosa, para que a política monetária não precise ser tão restritiva, pode ser visto como uma evolução. Os indicadores de preços e o comportamento fiscal darão a medida do desempenho do BC nos próximos meses. Saberemos então se o regime de metas de inflação passou a ser simples ficção ou ainda é um objetivo da política econômica.
Não custa lembrar que integrantes do governo e economistas ligados aos partidos que compõe a base governista sempre consideraram a inflação como um mal menor diante da necessidade de estimular o crescimento e manter os níveis de emprego. Como se fosse possível crescer de forma sustentável (mantendo o poder de compra da população, sobretudo a parcela de menor renda) com espiral inflacionária e indexação generalizada.
Espiral e indexação costumam ter início exatamente em períodos de tolerância monetária e fiscal.
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