quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

A alta do dólar e a incontinência verbal


Apesar de inteligente e qualificado, o ministro Paulo Guedes fala bobagens e foi muito infeliz no comentário sobre as viagens das domésticas. Mas a verdade é que a alta do dólar decorre da queda da taxa básica de juro - e, claro, do regime de câmbio flutuante, sem artificialismos. Não se trata, portanto, de uma maldade do ministro ou de quem quer que seja.
Neste momento, a alta traz como efeito positivo a possibilidade de melhora das receitas com exportações, sem risco de pressão sobre os preços internos, uma vez que a inflação está sob controle.
A alta do dólar aumenta a competitividade de empresas exportadores, uma vez que elas têm receitas em moeda americana e custos em real. Mas está claro que a depreciação cambial por si só não é capaz de determinar um aumento imediato de exportações, uma vez que há outros fatores envolvidos, tais como investimento em produção (para atender a novos mercados), tempo para a conquista desses novos “clientes”, e ainda a atividade econômica global (demanda mundial), se em expansão ou retração, cotação internacional de alguns produtos (commodities) etc.
Contudo, com toda a certeza, mal a quem exporta – ou pretende exportar - não faz. Válido é lembrar que as exportações este ano ainda estão abaixo das do mesmo período do ano passado exatamente porque há um tempo de adaptação da produção (exportador brasileiro) aos novos mercados. Não é fácil reconquistar terreno, não é algo imediato.
Tanto mais rápido será este processo de adaptação quanto menos volátil estiver o câmbio - ou seja, as frequentes oscilações também dificultam o planejamento do exportador. E é aí que entram os bons economistas e gestores financeiros.
Por fim, é curioso ver que economistas não ortodoxos, críticos das políticas liberais, que anos atrás insistiam para o governo interferir no câmbio, depreciando artificialmente o real, a fim de estimular as exportações, hoje são os mesmos que criticam a alta do dólar como se isso decorresse de uma ação deliberada – ou de uma inação irresponsável -, alegando que a alta não tem qualquer impacto positivo no comércio exterior.
(por Nilson Mello)


Um comentário:

  1. Quantas saudades do Meireles e das políticas públicas da época em que houve o "Pacto Social" neste País.

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