Os patinetes e os juros
bancários
A
taxa Selic* caiu mais de 54% de 2016 para cá, mas os juros para os correntistas
nos bancos continuam na estratosfera. As instituições financeiras
argumentam que não houve transferência dos benefícios da redução para o público
devido à alta tributação a que o setor está submetido e aos “custos
administrativos”, porém, seus lucros também têm crescido, conforme demonstram
seus balanços.
Onde está o gargalo?
Onde está o gargalo?
O gargalo está na concentração do setor: a relação de
poucos fornecedores (meia dúzia de bancos, conforme já apontou o ministro Paulo
Guedes) para um grande número de demandantes (correntistas) enseja um mercado
imperfeito. Mercados imperfeitos, com predominância de oligopólios ou carteis, são, por
definição, perversos (Equilíbrio de Nash) -e o prejuízo é sempre do consumidor, do público
final.
Nessas condições de desequilíbrio, quem faz
o preço do serviço/produto (no caso dos bancos, o preço do dinheiro, ou seja, o
juro) é o fornecedor, e não raro, de forma abusiva, como vemos, porque não há
efetiva competição. E por que o setor financeiro é tão concentrado?
Uma das principais razões é porque foi excessivamente regulamentado ao longo dos tempos, sob a justificativa de que era preciso “proteger o correntista e o sistema”, o que resultou no desestímulo - ou mesmo no impedimento expresso, devido ao excesso de exigências - ao ingresso de outras instituições no mercado, na contramão do que se pretendia. Sempre que há excesso de regulamentação ou de regulação, quem perde é o consumidor e a sociedade, justamente o objeto da pretensa proteção estabelecida.
Uma das principais razões é porque foi excessivamente regulamentado ao longo dos tempos, sob a justificativa de que era preciso “proteger o correntista e o sistema”, o que resultou no desestímulo - ou mesmo no impedimento expresso, devido ao excesso de exigências - ao ingresso de outras instituições no mercado, na contramão do que se pretendia. Sempre que há excesso de regulamentação ou de regulação, quem perde é o consumidor e a sociedade, justamente o objeto da pretensa proteção estabelecida.
Basta vermos o exemplo das novas regras - ou
projetos de leis - que tentam neste momento disciplinar o uso de patinetes no
Rio e em São Paulo. Como as novas regras parecem excessivas (ao menos, até
aqui), não apenas inviabilizarão um negócio lucrativo, como já está acontecendo
na capital paulista - e, para se desenvolver, um país precisa de
empreendimentos que gerem lucro** e com ele empregos e renda - como tendem a
frustrar a demanda do consumidor por um meio de transporte barato, simples e
“limpo”.
O ativismo estatal e o seu excesso de
intervenção no mercado - seja qual for - é contrário ao interesse do cidadão e
da sociedade. É oportuno lembrar que
o intervencionismo econômico e o dirigismo estatal representam, em seus
variados graus, uma linha de ação governamental adotada por partidos e grupos
políticos que hoje seguem uma orientação de "esquerda", da social
democracia ao socialismo propriamente dito, embora, no passado, aqui mesmo no
Brasil, governos e regimes de direita foram fortemente intervencionistas***.
A tendência das "esquerdas" ao
ativismo estatal explica, no grau maior, a hecatombe venezuelana e o colapso do
Bloco Soviético e, no grau menor (de intervenção e dirigismo), o “andar de
lado” da economia brasileira, com taxas de crescimento medíocres nas últimas
décadas e sem grandes avanços na área
social, a despeito do grande déficit governamental.
Tudo considerado, não é exagero dizer que o
Brasil precisa de um choque de capitalismo para gerar desenvolvimento social. Mas
de um capitalismo legítimo, de mercado, não o de Estado.
Por Nilson Mello
*A Selic é a taxa básica de
juros, definida pelo Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central. Em
linhas gerais, quanto mais baixos são os juros, maior é o estímulo ao consumo e à economia.
Contudo, a redução dos juros depende de um ambiente de estabilidade monetária,
sob o risco de descontrole inflacionário.
Se houver forte expansão fiscal (gastos governamentais) e/ou problemas
de oferta de mercadorias e serviços, a redução dos juros pode propiciar o
aumento da inflação (governo Dilma), fazendo com que a volta do controle da
inflação exija, em momentos seguintes, um rigor ainda maior na política
monetária, sem que haja garantia de sua eficácia no curto prazo.
** O lucro é a mola propulsora do
desenvolvimento econômico, sem o qual não se gera desenvolvimento social. É uma
saudável decorrência de um ambiente de maior liberdade econômica. Nos países em
que prevalece a maior liberdade econômica (Europa Ocidental, incluindo países
escandinavos, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia), os indicadores de desenvolvimento econômico
são mais elevados.
*** O governo Geisel, na década
de 1970, durante o período militar, foi nitidamente intervencionista e
dirigista, embora, evidentemente, não fosse de esquerda. Também durante o
período militar prevaleceu o "Conselho Interministerial de Preços",
para definir, na contramão das leis de mercado (oferta e demanda), preços de
determinados serviços e produtos considerados essenciais para a população.
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