Um retrato da economia
A economia brasileira foi a
que menos cresceu na América Latina em 2011: 2,7%. Já em 2012, a meta de
crescimento, na visão otimista do ministro da Fazenda, Guido Mantega, era de
5%. A evolução do Produto Interno Bruto (PIB), contudo, ficou em 1%.
Para 2013, o governo projeta
um aumento de 4% no PIB, mas mantém a “estratégia” de crescimento centrada no
consumo, não na produtividade. Juro baixo e ampla oferta de crédito são
objetivos a serem perseguidos, considerando outras variáveis econômicas, mas em
nenhuma hipótese serão, como pretende o governo, capazes por si só de impulsionar o crescimento. De forma
isolada, podem potencializar alguns ricos.
O crédito nunca foi tão
fácil no Brasil, informou o Banco Central nesta sexta-feira (25). No ano
passado, os bancos públicos e privados juntos emprestaram quase R$ 2 trilhões. Em
12 meses, a carteira de crédito aumentou 20%. Mas o crescimento esperado não
veio e, por tabela, a inadimplência aumentou. Ao mesmo tempo, os índices de inflação
continuam acima do centro da meta (de 4,5%).
O Comitê de Política Monetária
(Copom) do Banco Central, que preferiu não promover uma nova redução da taxa básica
(Selic) de juros na semana passada, mantendo-a em 7,25%, devido às pressões inflacionárias, reconhece, em sua Ata
desta semana, os limites da estratégia de governo.
Ao admitir que a
recuperação da atividade econômica foi menos intensa do que se esperava devido
a “limitações de oferta” (produção de bens e serviços aquém do desejado), a Ata ressalta que as
ações de política monetária são instrumentos de “controle de demanda”.
Em outras palavras, o Copom
assumiu que juros mais baixos não serão suficientes para estimular a economia
e ainda podem dificultar o combate à inflação.
Conclusão: o que produz um crescimento
consistente sem pressão inflacionária são os ganhos em produtividade e eficiência.
Para tanto é preciso ampliar os investimentos em produção – e por tabela em
educação e qualificação de mao de obra.
O governo até tentou
incentivar os investimentos por meio do crédito mais fácil e de uma política
monetária expansionista (nas palavras do próprio Banco Central), mas o
resultado não veio porque outros fatores comprometem o ambiente de negócios no
país.
A taxa de investimento cai a
cinco semestres seguidos, permanecendo abaixo dos 20% do PIB, quando deveria
ser de 30%, como nas economias emergentes mais dinâmicas.
Do lado do setor público,
a expansão fiscal esgota-se nas despesas. Sobra pouco para investir mais, ou
gastar melhor.
No setor privado, a pesada carga tributária, os altos encargos, a falta de regras claras, a
insegurança jurídica e a burocracia, entre outros fatores, desencorajam os
empreendedores. Ora, ainda que haja financiamento oficial disponível, não se
investe sem ter certeza do retorno certo e estabilidade no longo prazo.
O resultado desse ambiente adverso, com alto custo e baixa eficiência, é o retrato da economia no governo Dilma Rousseff: muito consumo, pouco
desenvolvimento e inflação sempre ameaçando.
Por Nilson Mello
Nota: De forma paliativa, o governo vinha promovendo desonerações setoriais da folha de pagamento, para reduzir custos. Os resultados são questionáveis e geram assimetrias. Mais recentemente, decidiu ampliar o benefício para todos os segmentos. Se reconhece que o modelo tributário (no qual os encargos trabalhistas estão inseridos) é irracional, por que o governo não aproveita o seu capital político e a sua popularidade para uma efetiva reforma que reduza de forma linear a carga de impostos, taxas e contribuições e simplifique de vez a vida do contribuinte? Antes, claro, teria que melhorar a sua própria eficiência fiscal.