sexta-feira, 18 de janeiro de 2013


Ensaio sobre a cegueira
 
 
Roberto Campos tinha razão
 
     A ditadura cubana afrouxou por esses dias as regras para que seus cidadãos possam viajar ao exterior. Foi curioso ver parte da imprensa brasileira, alguns articulistas em particular, comemorando o fato como um ato de bondade do regime dos irmãos Castro, há mais de 50 anos no Poder.

Enquanto a dissidente Yoani Sanchez preparava-se para tirar o seu passaporte e pular fora da Ilha, escaldada pelas seguidas prisões por simples oposição ao governo nos artigos de seu Blog, dos gabinetes de Brasília às redações de grandes jornais brasileiros viram-se manifestações de louvor à Havana. Cinismo ideológico ou desonestidade intelectual?

A condescendência do governo do PT com a ditadura cubana não deixa de ser um escárnio com o povo brasileiro. Efetiva separação de poderes, plena liberdade de imprensa, pluripartidarismo, rodízio de governantes, eleições regulares e limites ao poder de polícia (a partir de mecanismos como o devido processo legal, direito de permanecer em silêncio, pressuposto de inocência, contraditório etc) são hoje princípios consagrados no Brasil.

Nenhum deles, contudo, prevalece na Cuba exaltada pelos ideólogos petistas. Roberto Campos costumava dizer que o PT era o partido dos intelectuais que não liam ou pensavam - o que explicaria a indulgência por aqui. O rótulo de comunista funciona como salvo-conduto para a boa vontade.

Na “democracia” oblíqua venezuelana, onde aparências ao menos são mantidas (tais como formal separação de poderes e eleições regulares), ainda se pode reconhecer a ressonância do populismo, a legitimidade aferida nas ruas. Em Cuba, nem isso. A igualdade forçada pelo autoritarismo levou à população à penúria e desmoralizou o regime, tal qual aconteceu no antigo bloco soviético. O comunismo desmorona devido à absoluta ineficácia de sua economia.

O artificialismo econômico de inspiração ideológica e a intervenção estatal que dele decorre, em seus variados graus de aplicação (Argentina, Venezuela e o próprio Brasil, entre outros), seguirão produzindo atraso na América Latina. A propaganda elocubrada pelos ideólogos que pouco leem alerta que as regras de mercado do mundo liberal geram injustiça. E desde quando é justo viver num país em que a igualdade forçada impõe a todos - à exceção de uma pequena elite dirigente -  uma carência material generalizada? Assim é Cuba: nenhuma prosperidade, escassa liberdade.

Como lembra Costas Douzinas (*), Marx expressava uma oposição radical aos direitos humanos surgidos com o Iluminismo do século XVIII porque oS identificava com o egoísmo da sociedade burguesa das revoluções americana e francesa.

O que lhe interessava não era a liberdade individual, mas a igualdade econômica a ser alcançada pela supressão das classes sociais. Uma sociedade justa, reformulada e livre de vícios, emergiria da ditadura do proletariado. O fim elevado justificaria o autoritarismo “provisório”.

Hoje sabemos que, a despeito do alto preço pago por seus cidadãos, privados de liberdade, não se tem notícia de país marxista que tenha tido êxito na missão. A propósito, a ambição é característica exclusiva do capitalismo ou traço inerente ao ser humano? Mais: é possível haver prosperidade sem ambição?

Retomemos Douzinas: “Com efeito, o respeito aos direitos humanos e à democracia foi a principal plataforma sobre a qual os comunistas da Europa ocidental romperam com sua antiga e desqualificada adulação e defesa da União Soviética (...).”

Quando a prosperidade do capitalismo ficou patente, deixou de ser possível esconder e justificar a falta de comodidades básicas e de liberdades nos países comunistas. Os intelectuais europeus enxergaram a realidade antes mesmo do fim da Guerra Fria e da “Queda do Muro”. Os “nossos” permanecem com a vista embaçada.

Por Nilson Mello

 

(*O Fim dos Direitos Humanos - Editoria Unisinos)

 

 

Comentário:

 

     O governo acha, segundo os jornais desta semana, que o PMDB tem sido fundamental para a governabilidade do país. É preciso agora explicar o que o governo e o PMDB entendem por “governabilidade”.

 

 

 

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