A lancha patrulha da
pesca custa uma fortuna,
mas não é de ouro
Por Nilson Mello
pesca custa uma fortuna,
mas não é de ouro
Um falso moralismo - Não deveríamos mais nos surpreender com denúncias de corrupção envolvendo parlamentares, ministros e políticos em geral. Mas o fato de ainda nos surpreendermos não deixa de ser uma prova de boa-fé. E, convenhamos, de sabedoria de vida. Sim, porque como honrar compromissos com a certeza de que 100% “daqueles que estão lá” são gatunos do erário? Não, não, a rotina seria insuportável.
Eis então que elegemos, entre a malta, um ou outro que transmita mais seriedade, transparência e dignidade. Temos um Cristovam Buarque aqui; uma Marina Silva ali. Tínhamos um Jefferson Peres, já falecido, e mais um ou outro atuando num time do “Bem”, cujo elenco é reduzido e – para ficar no jargão futebolístico – não conta com “peças” de reposição.
Demóstenes Torres se notabilizou por um discurso veemente em defesa da ética. Era um zeloso vigia das ações do governo, sempre ponto a apontar os “malfeitos”, para ficarmos num termo do agrado da presidente Dilma Rousseff. A imagem de probidade esfacelou-se no vendaval de denúncias dos últimos 26 dias.
O senador ainda não foi formalmente denunciado e está longe de ser julgado ou condenado. Permanece protegido pelo véu do benefício da dúvida. Mas é um véu manchado, pois como o próprio presidente do partido ao qual o senador está filiado justificou, ao anunciar o processo de sua expulsão, há “destacados indícios de envolvimento com o notório contraventor Carlinhos Cachoeira”.
Os indícios, portanto, nos levam a reconhecer que Demóstenes Torres não era mesmo um homem do “Bem”, como procurou nos iludir, mas apenas mais um falso moralista.
Mas, como precisamos manter a ingenuidade, agora esforcemo-nos para acreditar que político envolvido com bicheiro é fato excepcional. No Rio de Janeiro, então, excepcionalíssimo. Toquemos nossas vidas; paguemos nossos impostos em dia. Está tudo em ordem.
Senão, vejamos. O governo acaba de comprar um lote de lanchas por R$ 31 milhões para o pseudo-Ministério da Pesca fiscalizar a atividade em Santa Catarina. Em Santa Catarina! Se fossem 31 unidades (o número exato infelizmente não foi revelado pela péssima apuração que a imprensa fez no “caso”), seriam lanchas dignas de figurar entre as mais suntuosas de Mônaco, Saint Tropez e Ibiza.
Mas não saberemos quantas são com exatidão. Esperemos que sejam mil unidades, para atuar nos 8,5 mil km de nossa extensa costa. A não ser que sejam em número reduzido mas venham com um helicóptero a bordo. Banhado a ouro. O que explicaria o preço estratosférico...
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