A Amazônia e a retomada da economia pós-Covid
A calmaria institucional das últimas semanas, uma espécie de
trégua nos embates que haviam carregado a atmosfera da quarentena em maio,
dificultando o diálogo entre os Poderes, alcançou julho e veio reforçada por
dados mais positivos sobre a recuperação da economia. A Receita Federal divulgou
que as vendas registradas por Nota Fiscal eletrônica em junho foram 15,63%
superiores ao mês anterior e 10,3% maiores do que no mesmo período do ano
passado, o que autoriza a leitura de que o “fundo do poço” ficou para traz.
O mesmo mapeamento indica que pelo menos 200 mil empresas,
de diferentes segmentos, incluindo construção civil e supermercados, conseguiram
manter o seu nível de vendas durante a pandemia. Um fator importante para o
desempenho foram as compras emergenciais do governo, em especial as de
medicamentos e equipamentos médico-hospitalares, para o combate à Covid-19, bem
como o auxílio emergencial, que chegou a 64 milhões de pessoas, com R$ 95
bilhões pagos. O setor público cumpriu o
seu papel.
Não faltarão puristas para cobrar da equipe econômica coerência
programática. Aumentos de gastos públicos estariam, por definição, na contramão
da doutrina liberal. Contudo, não poderão condená-la por indiferença diante da
crise. Justiça seja feita, a rigor, a doutrina liberal não diz que governos não
devam gastar nunca, mas apenas que não devem gastar de forma irresponsável e
incondicional, como se não houvesse amanhã. A previsão é de que, no total, o
auxílio alcance 79 milhões de brasileiros, somando R$ 152 bilhões, de acordo
com o Instituto Fiscal Independente (IFI), um considerável programa suplementar
de transferência de renda.
Somando o auxílio emergencial a outras ações, como ampliação
do programa Bolsa Família, incentivo às empresas para manutenção do emprego,
financiamento para pagamento de folha salarial, fundos para operações de
créditos, ajuda aos Estados e despesas adicionais do Ministério da Saúde, os
gastos extraordinários para combate à pandemia somarão R$ 404 bilhões ao
término de 2020, o que fará com que a dívida pública se aproxime dos 100% do
PIB. Ironia do destino, a equipe que havia conseguido no ano passado a primeira
redução da dívida pública desde 2013 acabou por promover o seu vertiginoso
crescimento.
O Estado aprofundou o buraco orçamentário por uma causa
nobre. A pergunta é como voltar a crescer a partir de agora, uma vez que a
capacidade de investimento público está esgotada? O investimento – e com ele a
retomada sustentável do desenvolvimento – terá que vir do setor privado. Mas,
para tanto, algumas condições deverão ser cumpridas. A primeira delas já foi
referida de início: a pacificação das relações entre os Poderes.
Convalescendo da Covid, o presidente Bolsonaro terá, quem
sabe?, a chance de reconhecer que os atritos que promoveu neste ano e meio, por
força da arriscada aposta na polarização, só prejudicaram o país – e, claro, o
seu governo. Investidor gosta de segurança jurídica, algo que somente um
ambiente de estabilidade institucional pode propiciar. A segunda condição é levar
adiante as reformas que tornarão a máquina pública mais eficiente, abrindo
espaço para uma redução da carga tributária que desonere o setor produtivo,
gerando empregos e renda.
Uma
terceira e importante condição para a retomada da economia pós-Covid é enviar
mensagens claras sobre temas estratégicos, como, por exemplo, a Amazônia. A questão ética alia-se ao pragmatismo: muitos fundos condicionam investimentos
à defesa ambiental.
O
Mundo deve saber que os desmatamentos ilegais serão punidos com todo o rigor da
Lei, e que o país está empenhado nessa missão. Em suma, o governo precisa
cuidar de nossa imagem, o que significa ter gente com discurso e práticas
responsáveis em postos-chave. Até aqui, isso não tem sido a regra, apesar das louváveis
exceções, como a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que tem reiterado que
devemos ter tolerância zero com as agressões ao meio ambiente.
Por Nilson Mello
Nilson, como já disse outras vezes, o grande problema é Bolsonaro com suas atitudes e palavras radicais e fora de propósito. Mas a sua coluna está ótima com uma análise técnica e ponderada.
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