A polícia da 
ilegalidade
As imagens de um 
tenente da Polícia Militar fluminense forjando, com a conivência de um major, o 
flagrante de um menor que participava pacificamente de uma manifestação esta 
semana no Rio de Janeiro são mais uma prova contundente da falta de compromisso 
da instituição com a legalidade. O episódio (vídeos ao final da postagem) revela também o seu desrespeito 
pelos cidadãos e pela sociedade que deveria proteger. 
Poucos dias antes 
da estupidez do tenente Andrade e do major Pinto, no episódio do flagrante 
forjado, dez policiais militares, entre eles, oficiais, haviam sido indiciados 
pelo desaparecimento e morte do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, crime 
ocorrido há alguns meses na Favela da Rocinha, onde funcionava uma das muitas 
Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) implantadas na cidade. 
Infelizmente, 
esses não são casos isolados, mas apenas os mais gritantes, e que chegam ao 
noticiário. Os episódios de desvios e violência da PM são, como sabemos, 
rotineiros. 
Quando não chega 
a tanto, o que se vê pelas ruas é a inércia de seus quadros diante da 
criminalidade ou a ineficácia de suas ações, por falta de preparo ou de 
compromisso com suas atribuições, numa cidade hoje novamente subjugada pelos 
assaltantes. 
A PM fluminense é 
o iceberg em que colide diariamente a política de segurança pública do Estado do 
Rio de Janeiro, contrariando, para quem tem o mínimo de capacidade crítica, o 
marketing da pacificação das favelas promovido pelo governo estadual. As UPPs 
são uma boa ideia que tem se degenerado por força da ineficácia de seu 
instrumento. Casos como o do falso flagrante são apenas a ponta do iceberg.
A manchete de um 
jornal no domingo passado, informando que os assaltos batem recorde no Rio de 
Janeiro, é correta, porém, tardia. Há muito a situação da segurança se 
degenerou. Enquanto nas favelas as incertezas quanto à perenidade da pacificação 
aumentam, a despeito do empenho de seus mentores, como o secretário Mariano 
Beltrame, nas ruas o medo já se reinstalou. 
A questão é 
prioritária e deveria mobilizar o atual governo, oposições, classe política e 
sociedade de uma forma geral. No que toca a Polícia Militar, a discussão deve 
ser ainda mais ampla, em nível nacional. O que temos hoje no chamado 
policiamento ostensivo, de competência da PM, é uma instituição lenta e 
burocrática – além de corrupta, como demonstram os fatos. 
Seriam a lentidão 
e a burocracia características negativas próprias da verticalização de uma 
instituição militarizada, salvaguardando o fato de os desvios terem, certamente, 
outra origem? Aparentemente, não.
A polícia 
militarizada é uma tradição em países latinos, como França, Itália, Espanha e 
Chile. Nesses países (Gendarmerie, Carabinieri etc), são instituições modernas e 
eficientes, respeitadas pela sociedade. Por outro lado, países que mantêm 
polícias eminentemente civis, como os Estados Unidos (tradição anglo-saxã), não 
se livram de muitas outras mazelas, como a violência, o abuso de poder e até 
mesmo a corrupção. 
Portanto, não há 
receita infalível, e a discussão é para especialistas. A única certeza que nós, 
leigos, podemos ter é que a PM fluminense é um equívoco conceitual. A começar 
pela indumentária: por que usar coturnos próprios para a selva em pleno ambiente 
urbano? Mas isso é apenas a imagem da inadequação.
Por Nilson 
Mello
    Em 
tempo
   Campanha - Com a decisão de 
José Serra esta semana de permanecer no PSDB e o veto do TSE nesta quinta-feira 
(03) à criação da Rede de Sustentabilidade, de Marina Silva, o cenário eleitoral 
para 2014 fica um pouco mais claro, longe, porém, de definição. 
A permanência de 
Serra reforça a candidatura de Aécio Neves, porque não divide o PSDB e porque 
ajuda a atrair o apoio de outras legendas, em particular o PSD de Kassab. 
Vale lembrar que 
a capacidade de o senador mineiro empolgar o eleitor segue sendo uma incógnita, 
independentemente de qualquer adesão. 
Já o veto da 
Justiça Eleitoral ao novo partido de Marina Silva deve levar a candidata a 
desembarcar em outro partido ainda nesta sexta-feira (04). 
A decisão do TSE, 
por 6 votos a 1, observou a legalidade - os pressupostos para a criação do 
partido não haviam sido cumpridos no prazo estabelecido. 
As palavras da 
ministra Luciana Lóssio resumiram a questão: “contra fatos, não há argumento”. A 
presidente do Tribunal, Cármen Lúcia, foi além: “Legalidade é 
dever”.
Difícil avaliar 
neste momento o quanto Marina perde por não ter legenda própria para concorrer à 
Presidência da República. Aparentemente, o prejuízo será desprezível.