Eleições 2012: pragmatismo e 
ambiguidade
    O candidato 
do PSDB à prefeitura de São Paulo foi acusado por seu oponente, em debate desta 
semana na TV, de ter obsessão por José Dirceu, principal réu do processo do 
mensalão. José Serra, no contragolpe, disse que é Fernando Haddad o obcecado - 
no caso, pelo prefeito Gilberto Kassab, fundador do PSD que apóia o 
tucano.
    Há, segundo 
os postulantes à prefeitura paulistana, outros fantasmas escondidos nos 
armários. O petista Haddad lembrou que, em sua campanha, Serra escamoteia 
Kassab, assim como já o fizera com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. 
Eis aí uma mostra do embate de “ideias” nas eleições na maior cidade do país. E 
segue a polêmica.
No caso atual, afirma 
Haddad, Serra estaria escondendo Kassab por vergonha do que seria um mau 
desempenho na expansão do sistema de metrô em sua gestão; no passado, camuflou o 
ex-presidente por conta da privatização de estatais (por sinal, ineficientes). O 
PT de Haddad é, em regra, contra privatizações. Vai que a pequena parcela do 
eleitorado ainda indecisa (algo inferior a 10%) também o 
seja...
Se Haddad esconde José 
Dirceu, como afirma Serra, tem, por outro lado, apoio de cabos-eleitorais de 
peso. Assim, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula estarão, sem 
constrangimento, ao contrário do “fantasma” Dirceu, presentes ao comício petista 
deste sábado na capital paulista.
Paixões políticas e 
obsessivas são o ingrediente de uma campanha municipal com inferência e 
repercussão no jogo de poder federal. A eventual – e, neste momento, muito 
provável -derrota de José Serra pode representar o fim de suas maiores ambições 
políticas, além de uma dura derrota para o combalido PSDB. Lembre-se que Serra 
enfrenta 40% de rejeição. Sofre resistência até no partido que pretende 
liderar.
A derrota de Serra será 
também um duro golpe para o prefeito Gilberto Kassab, que pagará o preço da 
ambiguidade. Esteve por apoiar um candidato do PT, não importando quem fosse o 
indicado, pois a legenda que criou, embora de oposição, é também de situação, 
como já declararam seus dirigentes. Por fim, decidiu-se pelo tucano. Seguirá, 
contudo, apoiando o governo Dilma, “no que couber”. 
Os dirigentes do PSD 
ressaltam: não são nem de esquerda, nem de direita; nem contra, nem a favor do 
governo federal. Pretendem moldar o perfil da legenda progressivamente, ao gosto 
do “eleitor”. Nada mais pragmático, ou híbrido. Nem o PSDB almejou um muro tão 
largo para se equilibrar. Acabou sem plataforma, palanque e bandeira, relegado a 
um limbo oposicionista.
Mas a ambigüidade híbrida, 
com licença da redundância, não está restrita ao PSD. Surge a estrela ascendente 
do novo PSB do governador Eduardo Campos. O PSB é aliado do PT no campo federal 
desde a primeira hora, mas impôs duras derrotas no primeiro turno a candidatos 
petistas, sobretudo no Recife e em Minas Gerais, onde, aliás, tem os tucanos 
como aliados. 
A derrota do PT para o PSB, 
mesmo em Minas, não é uma vitória do PSDB, apesar da ilusão de alguns tucanos. O 
quadro fortalece o senador e ex-governador Aécio Neves, mas não robustece o 
PSDB, do qual ele já quase se desligou e ainda poderá fazê-lo, conforme as 
injunções políticas nos próximos dois anos. 
Quanto ao Rio, fala-se que a 
reeleição do não menos híbrido Eduardo Paes, apoiado por uma coligação de quase 
20 partidos, seria uma vitória do governador Sergio Cabral. Na verdade, a 
vitória deve-se mesmo a Paes, que costurou uma coligação consistente, manteve-se 
à margem das controvérsias envolvendo seus aliados e convenceu o eleitor carioca 
de sua operosidade. Cabral, na verdade, foi apenas o seu maior beneficiário, 
juntamente com o governo federal e o PMDB do vice-presidente de Michel Temer, 
sempre capilarizado. 
Por tudo isso, a ambigüidade 
e o hibridismo podem ser a marca das eleições de 2012. Algo que, paradoxalmente, 
mas não por acaso, favorece um projeto de poder hegemônico, já em curso. 
Por 
Nilson Mello
