quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Lula, Esopo e a inflação (de volta)



Nilson Mello*

A primeira bomba-relógio deixada como armadilha pelo governo Lula para a sua sucessora começa a mostrar o seu alcance devastador. A frouxa política fiscal ajudou a trazer a inflação de volta. Debelá-la agora passa a ser muito mais difícil.
O mau uso dos recursos públicos, que não foram aplicados na eliminação dos custos de produção, mas sim em custeio de uma máquina pública cada vez mais opulenta, contribuiu decididamente para a retomada da alta dos preços.
Uma política monetária ainda mais restritiva do que o recomendado foi a saída para compensar os gastos exagerados do populismo da administração Luiz Inácio Lula da Silva. Os juros altos decorrentes dessa política monetária pressionaram a dívida pública e se tornaram custo adicional para as empresas. Mesmo que tenha havido redução relativa das taxas, em determinados períodos, elas tiveram que ser mantidas em patamares elevados.
 O remédio amargo tende a ser cada vez menos eficiente – e cada vez mais amargo.
O Brasil poderia ter aproveitado o período de bonança da economia mundial, pré-crise 2008/2009, e da estabilidade interna para investir em infraestrutura, em tecnologia e desenvolvimento, ou seja, em áreas que contribuíssem para o aumento da capacidade de produção de nossa economia.
Mas a demagogia optou pelo inchaço da máquina pública. E pelo fomento ao consumo, produzindo uma ilusão na mente dos brasileiros que saíam da faixa de miséria por obra da estabilidade econômica conquistada e mantida nos três governos anteriores.
A falsa realidade chegou ao fim. Lembrando a conhecida fábula de Esopo, o governo Lula agiu como cigarra, ao invés de trabalhar como formiga.
Pressionada pelos fatores externos, como a alta dos preços das commodities, a inflação recebe uma baforada extra do impacto dos conhecidos custos de produção: tributação alta; excesso de burocracia; rodovias, portos, ferrovias e setor elétrico deficientes; insegurança jurídica, entre outros.
Para completar, a política cambial adotada nos últimos tempos, visando conter a desvalorização do dólar, entrou em contradição com a política monetária. Dólar em queda ajudaria na contenção da alta dos preços. A competitividade do produto nacional deveria ter sido obtida pela eliminação dos mencionados gargalos de produção. Mas isso exige um governo sério, mais afeito ao trabalho do que ao palanque.
O ministro Guido Mantega terá a firmeza e a competência necessárias para enfrentar a questão? No mercado financeiro há quem o chame de estagiário de Economia! Ou a estabilidade econômica, com controle da inflação - conquista do povo brasileiro, nas palavras da própria presidente Dilma Rousseff -, já virou coisa do passado?

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