segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

A incrível fábrica de produzir tragédias chamada Brasil!

Comentários


A metáfora em contêiner
(texto de 09/02/2019)

    Jovens confinados como gado aguardando o melhor preço da arroba no mercado da bola. Ter solidariedade com o Clube de Regatas do Flamengo neste momento equivale a ser cúmplice de um crime. A solidariedade deve ir para as famílias dos jovens calcinados nas caixas estanques em que dormiam; e para a torcida rubro-negra obrigada a conviver com diretorias irresponsáveis, a exemplo das de outros clubes brasileiros. 
    Mas o Clube de Regatas do Flamengo merece o rigor da Lei e o olhar crítico da imprensa. Infelizmente, a ênfase das reportagens tem estado mais “no sonho de jovens talentos tragicamente interrompido” do que na criminosa sucessão de irresponsabilidades e omissões que resultaram no dantesco incêndio. 
    No tão propalado “moderno” CT do Flamengo (a imprensa sempre elogiou!), o dormitório dos meninos da base era há anos um improviso que beirava a gambiarra. A ponto de a Prefeitura ter ordenado a sua interdição e ter multado o Clube nada mais nada menos que 30 vezes! 
    Ministério Público e Justiça do trabalho também já haviam notificado o Flamengo quanto às precárias condições do alojamento dos jovens atletas. Pelo que se viu, a (s) Diretoria (s) tratou todas essas advertências com absoluto desdém, uma vez que nada fez.
    Como não havia alvará, também não havia licença do Corpo de Bombeiros. Em suma, não faltavam irregularidades no Ninho do Urubu. Como então podemos ser solidários ao Clube de Regatas do Flamengo?
    Nossa solidariedade deve ser com as famílias das vítimas e para a parcela da torcida rubro-negra que se sente envergonhada pela ocorrência de uma tragédia que poderia ter sido evitada pelos dirigentes de seu clube. (Nilson Mello)



“Contrario senso"
(texto de 10/02/2019)

    Não se trata de responsabilizar o clube porque é o Flamengo, mas, sim, de não isentar só porque é o Flamengo. O rubro negro que quiser honrar as tradições de seu time, que não são poucas!, deve, em primeiro lugar, reconhecer a responsabilidade institucional.
    O Clube de Regatas do Flamengo (junto com os seus dirigentes) é culpado pelo incêndio no Ninho do Urubu, assim como a Vale é culpada (juntamente com seus diretores e corpo técnico contratado) pelas tragédias de Mariana e Brumadinho. 
    Os meios de comunicação e os meus colegas da imprensa esportiva também merecem uma reprimenda: uma boa reportagem (em qualquer grande veículo!) mostrando as precárias condições de segurança do alojamento dos jogadores da base talvez tivesse levado o Flamengo a tomar as providências necessárias.
    Fontes de informações para embasar matéria com esse enfoque não faltavam: bastavam ouvir MP, Justiça do Trabalho, Prefeitura, Corpo de Bombeiros e todos os especialistas que, agora, se perfilam nos programas de entrevistas apontando tardiamente os erros que levaram à tragédia. Leite derramado.
    Veículos e jornalistas da imprensa esportiva podem ter se acomodado nas “pautas cegas”, condicionados não pela postura crítica que deve orientar o trabalho jornalístico, mas por uma certa tietagem clubística, embalada pela certeza de audiência e maior vendagem de exemplares.
    Achávamos que os 7 a 1 haviam sido a nossa suprema humilhação futebolística... Aquilo não foi nada! (NM)

Brumadinho
(texto de 07/02/2019)
   
    Acho covardia o sujeito dizer que assinou um laudo técnico porque foi pressionado pelo contratante ou empregador. O profissional capacitado é justamente aquele que diz não às pressões - financeiras, políticas, comerciais etc.
    Diria mesmo que este é o seu principal papel, o resto é consequência desta postura básica. Na verdade, acho que essa tentativa de se eximir terceirizando a responsabilidade técnica é algo pior do que a covardia, mas fiquemos por aqui em termos de adjetivos.
    Num paralelo, imaginemos um médico alegando ter administrado a medicação errada (matando o paciente) porque foi pressionado pelo diretor do hospital ou pelo representante do laboratório. Ou o jornalista que, ao ser processado por uma reportagem infamante ou caluniosa, que apurou e redigiu, culpar o dono do jornal ou o seu editor chefe.
    O bom profissional é o que diz não na hora decisiva. E, na sequência, denuncia a pressão - se, de fato, for o caso. Se foi mera estratégia de defesa, será mera estratégia de defesa... Ou seja, tentativa inócua. (NM)



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