As eleições diretas
(OBS: este artigo foi publicado originalmente em O Globo,
no dia 02 de Junho de 2017)
Nilson Mello
O Brasil já tem eleição
direta, instituto, como todos sabemos, previsto na Constituição Federal em
vigor e regulamentado pela Legislação infraconstitucional. O calendário eleitoral prevê eleições diretas
para Presidente da República a cada quatro anos, a próxima devendo ocorrer em
setembro de 2018.
O que significa dizer que a situação de hoje é
completamente diferente da de 1984, momento das "Diretas Já", em que
o País saía de um período de exceção para o reencontro com o Estado de Direito.
Vale lembrar que este Estado
Democrático de Direito foi consagrado pela Assembleia Constituinte que,
democraticamente, redigiu, votou e aprovou a Carta de 1988, esta mesmo que
prevê as eleições diretas para presidente e demais esferas do Executivo.
Portanto, o fato de os
eleitores da chapa Dilma-Temer (ou uma parte deles, ao menos) terem ido às ruas
pedir "Diretas Já" só pode ser entendido como um casuísmo
oportunista. Que intuito, não devidamente explicitado, motivaria o movimento?
A pergunta é
pertinente, pois está claro que, para o presidente Michel Temer ser afastado - é
o que todos os cidadãos de bem esperam, sobretudo aqueles que pediram o
impeachment de Dilma, também por crime de responsabilidade - não é necessário
que se emende a Constituição.
Então, reitera-se a
indagação, de caráter, reconheça-se, eminentemente retórico: é para que um
candidato de sua preferência (da preferência desses que elegeram Dilma-Temer há
dois anos e meio) seja eleito de imediato?
Muito bem, e se o
eleito for outro, de campo programático e ideológico oposto, na verdade,
diametralmente oposto, como nos autorizam as pesquisas a especular, pedirão esses
novamente a mudança da Constituição, a revisão das regras, para que a
Presidência seja ocupada por aquele que é de seu feitio?
A melhor maneira de ser
preservar uma democracia é respeitando as regras já previstas. É desta forma
que se fortalecem as instituições. Daí porque soam igualmente ingênuas ou muito
mal intencionadas as vozes que, neste momento, clamam por uma nova
Constituinte.
Ora, nada garante que parlamentares
eleitos agora especialmente para redigir uma nova Constituição (por que seriam
esses mais capacitados técnica e moralmente do que os atuais?) conseguiriam
produzir algo melhor do que já temos. Não que a atual Carta seja perfeita, mas simplesmente
porque não há Ordenamento perfeito.
Acrescente-se ao
problema o evidente risco de, num momento de forte polarização como o que
vivemos hoje, produzir-se uma "jabuticaba", anulando conquistas
trazidas em 1988, após intensos debates e muita luta.
O Brasil não precisa de
novas regras. Temos uma profusão sem fim delas. O Brasil precisa é aprender a
respeitar as normas que já existem. Isso vale para o Presidente da República e
também para o simples cidadão que avança o sinal com o seu carro ou joga o seu lixo
na sarjeta.
Por Nilson
Mello
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