sexta-feira, 25 de julho de 2014

Em tempo



              O 7 a 1 na Diplomacia – Na crise de comunicação entre Brasil e Israel, duas verdades são irrefutáveis. A primeira, que dá razão ao Brasil, é que o uso da força na faixa de Gaza pelo Estado de Israel é mesmo desproporcional. Prova disso está no número de civis mortos: mais de 700, entre eles mais de uma centena de crianças e adolescentes. Ora, o direito de defesa dos estados soberanos não é ilimitado.  Israel deixa em posição desconfortável quem está de seu lado. A segunda verdade incontestável, exposta sem cerimônia por um porta-voz de segundo escalão (veja só!) do governo israelense, é que o papel desempenhado pelo Brasil na diplomacia global é insignificante – muito aquém, por sinal, do peso de sua economia. Nos últimos tempos, o “anão” diplomático tem procurado reverter esta condição com jogadas pirotécnicas e arroubos retóricos e ideológicos que, no fundo, só criam mais dificuldades para a conquista da maturidade nas relações externas e o resgate do respeito de seus pares no cenário global. Movimentos oportunistas, promovidos em governos recentes, estão na contramão das tradições do Itamaraty. E potencializam chacotas, como a grosseria proferida por um funcionário subalterno do Estado de Israel.

Sobre este "ruído" nas relações Brasil-Israel, a Confederação Israelita do Brasil emitiu a seguinte nota:

“A Confederação Israelita do Brasil vem a público manifestar sua indignação com a nota divulgada nesta quarta-feira pelo nosso Ministério das Relações Exteriores, na qual se evidencia a abordagem unilateral do conflito na Faixa de Gaza, ao criticar Israel e ignorar as ações do grupo terrorista Hamas. Representante da comunidade judaica brasileira, a Conib compartilha da preocupação do povo brasileiro e expressa profunda dor pelas mortes nos dois lados do conflito. Assim como o Itamaraty, esperamos um cessar-fogo imediato.

No entanto, a lamentável nota divulgada pela chancelaria exime o grupo terrorista Hamas de responsabilidade no cenário atual. Não há uma palavra sequer sobre os milhares de foguetes lançados contra solo israelense ou as seguidas negativas do Hamas em aceitar um cessar-fogo.
Ignorar a responsabilidade do Hamas pode ser entendido como um endosso à política de escudos humanos, claramente implementada pelo grupo terrorista e que constitui num flagrante crime de guerra, previsto em leis internacionais.

Fatos inquestionáveis demonstram os inúmeros crimes cometidos pelo Hamas, como utilização de escolas da ONU para armazenar foguetes, colocação de base de lançamentos de foguetes em áreas densamente povoadas e ao lado de hospitais e mesquitas. Também exortamos o governo brasileiro a pressionar o Hamas para que se desarme e permita a normalização do cenário político palestino. Lamentamos ainda o silêncio do Itamaraty em relação à política do Hamas de construir túneis clandestinos, em vez de canalizar recursos para investir em educação, saúde e bem-estar da população na Faixa de Gaza.
A Conib também lamenta que, com uma abordagem que poupa de críticas um grupo que oprime a população de Gaza e persegue diversas minorias, o Brasil mine sua legítima aspiração de se credenciar como mediador no complexo conflito do Oriente Médio.
Uma nota como a divulgada nesta quarta-feira só faz aumentar a desconfiança com que importantes setores da sociedade israelense, de diversos campos políticos e ideológicos, enxergam a política externa brasileira”.
De fato, os ataques terroristas do Hamas são covardes. A omissão do governo brasileiro - que evita denunciar e condenar veementemente a organização - revela todo o obscurantismo ideológico que se apossou do Itamaraty. Mas nada disso afasta uma constatação muito mais relevante e premente: os bombardeios promovidos por Israel são absolutamente desproporcionais. Não estão em discussão as razões de Israel. Elas existem! Mas, sim, o método indiscriminado, que devasta áreas densamente povoadas, atingindo sobretudo civis.  – por Nilson Mello.

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