sexta-feira, 23 de maio de 2014

Artigo

Brasil, país pacífico?


As estatísticas brasileiras se equiparam à Guerra Síria


    De forma não tão sóbria e elegante como a relevância do assunto recomendaria, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o pré-candidato tucano à Presidência da República, Aécio Neves, trouxeram a segurança pública para o debate eleitoral.
Mais de 50 mil pessoas são assassinadas todo ano no Brasil. Para se ter a exata noção do grau de violência que essa estatística reflete, tomemos alguns exemplos, antes de retomarmos as considerações sobre o bate-boca entre o ministro e o senador.
Na guerra do Vietnã, na qual os Estados Unidos tomaram parte, com o efetivo envio de tropas, entre 1965 e 1973, cerca de 58 mil militares americanos, entre soldados e oficiais do Exército, da Marinha, dos Fuzileiros Navais e da Força Aérea, foram mortos. Ou seja, pouco mais de 7,2 mil por ano. Estamos falando de uma guerra emblemática, por todos os seus aspectos.
Na Guerra da Bósnia-Hezergovina, o pior conflito europeu desde a Segunda Guerra Mundial – e comparável àquela em grau de crueldade devido às execuções de caráter étnico-religioso (antagonismos entre sérvios ortodoxos, croatas católicos romanos e bósnios muçulmanos) - morreram 200 mil pessoas, entre civis e militares, no decorrer de seus três anos de duração. Ou seja, 66 mil por ano.
Na segunda Guerra do Golfo, ou Guerra de Ocupação do Iraque, entre 2003 e 2011, na qual esteve em ação uma poderosa coalizão militar liderada pela potência hegemônica (EUA), com o decidido apoio do Reino Unido, entre outras nações importantes, morreram 500 mil pessoas, entre civis e militares. Ou seja, 55 mil por ano.
Um paralelo mais recente. Na absurda Guerra Civil da Síria, com seus pouco mais de três anos de duração, foram ceifadas 150 mil vidas (das quais 51 mil civis, entre eles 8 mil crianças e adolescentes, segundo as Nações Unidas). Ou seja, uma dantesca média de 50 mil mortos por ano – equivalente à estatística brasileira, um país que não está em guerra, ao menos não oficialmente.
Voltemos ao bate-boca. Cardozo acha que Aécio não pode falar de política de segurança, porque, como parlamentar, seu curriculum na área foi “pífio”. Aécio acha que o ministro lhe dirigiu “grosserias” e não deveria atuar como “militante”. Imagens de dois assaltantes - um ao guidão outro na garupa de uma moto - pilhando sua vítima, esta dentro de um automóvel, em plena luz do dia, numa movimentada avenida do Rio de Janeiro, foi recorde de audiência nas redes sociais esta semana.
    O episódio é apenas mais um na violentíssima rotina carioca – não muito diferente da de outras metrópoles brasileiras. Não estamos em guerra, mas é como se estivéssemos. Nossas estatísticas de homicídio são dignas do triste “título” ou “rótulo”. Portanto, é bom que o assunto tenha entrado na pauta da campanha. Só falta agora qualificar o debate, em busca de políticas à altura de um problema que há muito é tratado com displicência e irresponsabilidade, para dizer o mínimo.

Por Nilson Mello

Em tempo: Se eleito, Aécio Neves promete mudar o nome do Ministério da Justiça para Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Deveria ir além e tirar a Justiça do nome. Pois da Justiça, cuida (ou deveria cuidar) o Judiciário.

Obs: O Link para o vídeo do assalto no Rio está abaixo:

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