A CPI e a verdade além dos
discursos
Petrobras é o filé mignon dos políticos
A virtual instalação de
uma CPI da Petrobras no Senado, precipitada, entre outros, pelas revelações de
indícios de negligência e desvios na compra da Refinaria Pasadena, no Texas,
traz a reboque uma retórica que clama pelo expurgo da influência partidária na
estatal e o fim de seu uso como instrumento político. Puro jogo de cena.
Como é quase
certo que não passa pela cabeça de nenhum dos 28 senadores (um além do número
exigido) que assinaram o pedido de CPI nesta quinta-feira a hipótese de que,
para se livrar desses vícios, a empresa teria, necessariamente, que deixar de
ser uma estatal, o discurso é - ele também – mera dissimulação política,
fermentada pela agenda eleitoral.
Pois está claro
que a única forma de se colocar uma empresa estatal, seja ela qual for, a salvo
da influência partidária - que a afasta das boas práticas de governança,
comprometendo a sua eficiência e os seus resultados – é a privatização. Heresia?
Apesar do que
propaga a demagogia com indiscutível e lamentável sucesso, estatização nada tem
a ver com soberania. Ao contrário, é justamente o vício estatizante e
intervencionista que pode levar um país a bancarrota, ao naufrágio econômico e à
crise institucional com convulsão social.
A Venezuela está
aí para servir de exemplo - didático. Quem não tem medo de superar dogmas pode
fazer a lição examinando os acontecimentos. Porque nada mais deletério do que o
emprego partidário do patrimônio público. E governo agindo como empresário é
desastre certo.
Então, a despeito
das mal disfarçadas alegações, não é por outra razão - mas somente pelos
objetivos submersos, ressalvadas raríssimas exceções - que a classe política,
não importando de que partido ou orientação programática (se é que isso existe),
se opõe ferrenhamente a privatizações em geral e a da Petrobras, em
particular.
O elevado ideal
de preservação do patrimônio público é apenas parte da propaganda enganosa que
até opositores do governo, com o requerimento da CPI sob as axilas, cinicamente
repetem. Sem estatais, o esquartejamento do botim que o atual modelo propicia
perde oque tem de mais valioso.
Portanto, não se
preocupem, puristas desavisados. O movimento ora ensaiado pelas oposições (no
plural, porque a oportuna convergência entre alguns grupos decorre claramente da
agenda eleitoral), visando a expurgar a influência partidária na estatal, tem um
limite muito claro, tacitamente (ou talvez até explicitamente) estabelecido. A
ninguém, no Congresso, interessa perder este filé mignon chamado Petrobras.
Pobre Petrobras.
Por Nilson Mello