sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Artigo



Winston Churchill


Melhor ficar deitado



Que as ações da administração pública devem se reger pela medida do razoável é, mais do que um princípio consagrado e um comando constitucional, uma questão de bom senso.

O evidente pleonasmo dessa assertiva – afinal, nada que não se orienta pelo bom senso pode ser minimamente razoável – nos serve para ressaltar que, na maioria das vezes, governos gastam mais do que o necessário - em tempo e em recursos humanos, materiais e financeiros – para dar cabo de determinada medida ou programa, ou simplesmente para anunciar um projeto.

Li certa vez (e não vou me lembrar onde) que Winston Churchill, ao ser perguntado por um repórter que conselho daria a quem quer ter êxito profissional, simplesmente respondeu: “Se puder ficar sentado, ao invés de em pé, sente-se; se puder ficar deitado, ao invés de sentado, deite-se”.

O ex-primeiro-ministro, a despeito de ter sido oficial de cavalaria do exército colonial britânico, e de ter servido no Sudão e na África do Sul, estava muito longe de ser um atleta, sobretudo naquela quadra da vida, mais do que sexagenário, mas seu perfil jamais se encaixaria no estereótipo do preguiçoso.

O que se pode deduzir daquilo que Churchill pretendeu de fato dizer com seu singelo conselho foi que não se desperdiça energia. Tendo em vista o contexto da entrevista e a biografia de estadista do entrevistado, infere-se também que aquela não era uma dica de auto-ajuda, mas sim uma mensagem para governos e governantes.

Churchill havia sido o herói que liderou os britânicos na Segunda Guerra, e que lhes mostrara o caminho da determinação e da resistência ao nazismo, no momento em que a Europa inteira estava sob o domínio da Alemanha de Hitler. Ao discurso do líder correspondeu uma atitude estóica de um povo cercado e diariamente bombardeado. “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”.

O “universo” anglo-saxão é reconhecidamente mais comedido que o latino. Nas palavras, nas manifestações de emoção e, por extensão, na administração da res publica. Por essa razão, certamente, gasta-se mais tempo e dinheiro aqui do que na Inglaterra para se anunciar uma medida que deveria ser da rotina do governo.

Refiro-me ao anúncio nesta última quarta-feira (12/09) do pacote do governo destinado a reduzir as tarifas de energia. A solenidade contou com a presença de praticamente todo o primeiro escalão do governo, além de governadores, secretários, autoridades do Judiciário em diferentes esferas, um número infindável de deputados e senadores, além de assessores e mais centenas de servidores dos segundo, terceiro, quarto... escalões da administração central. Pergunto: isso é razoável?

A República não precisa parar o expediente para que a presidente Dilma Rousseff anuncie um – bem-vindo, por sinal – programa de redução de custos. Se é possível economizar ficando deitado, para  que se desgastar ficando em pé?, teria perguntado, de forma irônica e metafórica, o ex-primeiro-ministro.

O Brasil - latino que é - não deve pretender ser como os anglo-saxões. Nem convém. Mas não precisa gastar tanto tempo e dinheiro com manifestações midiáticas que afrontam o bom senso. Há coisas mais importantes para empenharmos nossas energias.

Por Nilson Mello

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