quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

COMENTÁRIOS DO DIA

Ambiguidade em folhetim partidário - Um dos desafios a serem superados nas eleições de 2012 pelo PSD, partido recém-criado pelo prefeito Gilberto Kassab, é o caráter ambíguo da legenda. Propositalmente, o PSD não tem identidade ideológica, tampouco conteúdo programático definido. Seus dirigentes já avisaram que a legenda não é nem de direita nem de esquerda. Mas também não é de centro.
Ano passado, um de seus líderes chegou a afirmar, em entrevista a um grande jornal, que o partido vai moldar a sua linha de ação e a sua plataforma política aos poucos, de acordo com o “feedback” do eleitor. É como um folhetim da TV, cujo desfecho autor, diretor e atores desconhecem até que o público indique suas preferências. Feito sob medida e progressivamente.
Uma coisa é certa. Um partido com tamanha indefinição, ou, na melhor das hipóteses, moldado de acordo com as circunstâncias, enfrentará dificuldades para atrair o voto de opinião. E para formular programas e projetos  consistentes.
O próprio Kassab já avisou que não faz nem fará oposição automática ao governo do PT. Ao governo de Dilma Rousseff, mais especificamente. Contudo, já deixou bem claro, em declarações esta semana, que apoiará incondicionalmente uma candidatura de José Serra à prefeitura paulistana.
Claro, se Serra não confirmar presença no pleito – ou se demorar muito a fazê-lo – Kassab e seu PSD firmarão aliança com o PT, apoiando o ex-ministro da Educação Fernando Haddad.
A costura PT-PSD tem o aval de ninguém menos do que o ex-presidente Lula, que vê em Kassab um inestimável cabo-eleitoral para Haddad, graças aos R$ 5 bilhões que sua administração promete investir este ano nas áreas de saúde e educação.
A falta de identidade político-ideológica do PSD tem um ingrediente adicional. Dos seus 47 deputados federais, apenas um elegeu-se por conta própria. Os demais foram eleitos com ajuda do coeficiente eleitoral de suas antigas legendas, conforme reportagem de Daniel Bramatti no Estado de S. Paulo desta quinta-feira (23/02). São parlamentares, portanto, incapazes de puxar votos, num partido que, por opção, pretende se manter híbrido, ambíguo, camaleônico.
 Não deixa de ser oportuno lembrar que foi em cima do muro, omitindo-se da crítica coerente e do discurso prepositivo associado aos seus resultados quando governo, que o PSDB perdeu espaço, votos e eleições na última década. Em suma, é possível construir um partido sem identidade? Respostas nas urnas.

Por Nilson Mello

(Obs: para informações factuais sobre as eleições e política, clicar em Noticiário do Dia, no alto da coluna à direita deste Blog)

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