A falta que a honestidade faz
O que mais turva o debate político hoje - contribuindo para uma polarização irracional - é a confusão que se faz entre juízo de fato e juízo de valor. Juízo de fato não é opinião, ou ideologia, mas respeito à realidade.
Exemplo histórico: que Brutus matou César é
um juízo de fato; que a morte de César, em dado contexto político, pode ter
tido resultado bom ou ruim, é um juízo de valor. Assim, quando se diz que o
governo Temer mostrou força na semana passada com as vitórias que obteve no
Congresso faz-se apenas um juízo de fato (para não brigar com a realidade) ,
deslocando o juízo de valor para o exame das consequências deste fato.
Em outras palavras, reconhecido o fato, fica
bem mais fácil expressar uma opinião e defender (ou atacar) determinada posição
de forma racional e honesta.
Vejamos: para muitos, o fato (as vitórias de
Temer) é bom porque permitirá que o pais retome certa estabilidade política,
com ganhos para a economia, até as eleições de 2018; para muitos outros, o fato
é ruim porque prolongará o desgaste político do atual governo, podendo agravar
a crise econômica e social que o país enfrenta.
Aqui, a tomada de posição ainda é racional:
o governo Temer está envolto em denúncias (fato), mergulhado em crise moral
(juízo de valor), não podendo mais continuar (opinião). Ok, perfeito.
O problema, porém, torna-se mais complexo quando o
interlocutor violenta os fatos, apesar de todas as evidências: "não foi
Brutus quem matou César"! Sabemos que tal postura, fruto da paixão, tem
sido frequente no Brasil. Bem, para piorar, há também aqueles que, nesse campo,
mesmo cientes de que o fato, como hipótese, poderia ajudar a economia (e
justamente por essa razão), acha, por ideologia, que isso é ruim, pois, ainda
que não declare publicamente, é partidário do "quanto pior, melhor".
Nesses casos, é preferível nem debater.
Por Nilson Mello
Nenhum comentário:
Postar um comentário